Embora não seja um filme particularmente bem escalado, com Kristen Wiig e Alexander Skarsgard deslocados como figuras paternas que deveriam dar peso ao elenco, The Diary of a Teenage Girl deve ser lembrado como o momento em que a atriz Bel Powley, de 23 anos, deixou papéis de pouca expressão na TV e se tornou uma figura de cinema de fato.
A presença da atriz inglesa era tudo de que a roteirista e diretora Marielle Heller precisava neste seu longa de estreia, sobre uma adolescente, Minnie, que descobre o sexo em San Francisco no fim dos anos 1970 ao perder a virgindade com o namorado (Skarsgard) da sua mãe (Wiig). Powley se desnuda com convicção e expõe sua beleza, avessa aos padrões, nesta história de formação que se desenvolve como drama ao combinar primeiro amor com Síndrome de Estocolmo.
É com base em inversões entre a infância e o mundo dos adultos que The Diary of a Teenage Girl trabalha a perplexidade de Minnie diante de tudo. Para ela, os códigos dos adultos são confusos por não serem sinceros como os das crianças, e ao mesmo tempo adultos se tratam infantilmente entre si. Se Minnie se apaixona pelos cartuns de Aline Kominsky, a mais importante quadrinista underground da época, é porque eles conservam uma ingenuidade infantil ao mesmo tempo em que falam a língua dos adultos.
Heller usa os cartuns como pretexto para recorrer a um dos efeitos prediletos do cinema indie americano deste século, a animação 2D aplicada sobre o live-action. Essa não é a única pista de que The Diary of a Teenage Girl passou pela formatação dos laboratórios de roteiro de Sundance; o texto de Heller e sua direção sem riscos expõem um desejo de tratar de temas difíceis, mas sem deixar de lado as redes de proteção (como demarcar bem quando a jornada da personagem supera uma fase, a exemplo da cena do retrato amassado).
Se as viradas são esperadas e seguras - impressão reforçada pelo ponto de vista desapegado da protagonista, que se mantém alheia com seus desenhos e suas pirações - ao menos Bel Powley fornece, com sua presença, o lastro de que o filme precisa para se manter de pé. O único risco que The Diary of a Teenage Girl corre é o da exposição da atriz, da sua nudez, e ela se sai muito bem, num misto de extroversão (nas cenas com a amiga, nos momentos de contentamento) e de senso de preservação (ela sabe se "esconder" da câmera quando precisa).
Nesse jogo de mostrar e esconder - que nunca vai a fundo de fato, e nisso Marielle Heller poderia pegar como exemplo os filmes sobre juventude dos irmãos Safdie para tomar como modelo de como se aproximar intimamente de seus personagens - Powley aproveita o vácuo deixado e faz de The Diary of a Teenage Girl, se não um grande filme, pelo menos um ótimo caso de portfólio.