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The Diary of a Teenage Girl | Crítica

Atriz revelação, Bel Powley aproveita as brechas deste drama indie sem riscos para se impor

03.10.2015, às 11H55.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Embora não seja um filme particularmente bem escalado, com Kristen Wiig e Alexander Skarsgard deslocados como figuras paternas que deveriam dar peso ao elenco, The Diary of a Teenage Girl deve ser lembrado como o momento em que a atriz Bel Powley, de 23 anos, deixou papéis de pouca expressão na TV e se tornou uma figura de cinema de fato.

A presença da atriz inglesa era tudo de que a roteirista e diretora Marielle Heller precisava neste seu longa de estreia, sobre uma adolescente, Minnie, que descobre o sexo em San Francisco no fim dos anos 1970 ao perder a virgindade com o namorado (Skarsgard) da sua mãe (Wiig). Powley se desnuda com convicção e expõe sua beleza, avessa aos padrões, nesta história de formação que se desenvolve como drama ao combinar primeiro amor com Síndrome de Estocolmo.

É com base em inversões entre a infância e o mundo dos adultos que The Diary of a Teenage Girl trabalha a perplexidade de Minnie diante de tudo. Para ela, os códigos dos adultos são confusos por não serem sinceros como os das crianças, e ao mesmo tempo adultos se tratam infantilmente entre si. Se Minnie se apaixona pelos cartuns de Aline Kominsky, a mais importante quadrinista underground da época, é porque eles conservam uma ingenuidade infantil ao mesmo tempo em que falam a língua dos adultos.

Heller usa os cartuns como pretexto para recorrer a um dos efeitos prediletos do cinema indie americano deste século, a animação 2D aplicada sobre o live-action. Essa não é a única pista de que The Diary of a Teenage Girl passou pela formatação dos laboratórios de roteiro de Sundance; o texto de Heller e sua direção sem riscos expõem um desejo de tratar de temas difíceis, mas sem deixar de lado as redes de proteção (como demarcar bem quando a jornada da personagem supera uma fase, a exemplo da cena do retrato amassado).

Se as viradas são esperadas e seguras - impressão reforçada pelo ponto de vista desapegado da protagonista, que se mantém alheia com seus desenhos e suas pirações - ao menos Bel Powley fornece, com sua presença, o lastro de que o filme precisa para se manter de pé. O único risco que The Diary of a Teenage Girl corre é o da exposição da atriz, da sua nudez, e ela se sai muito bem, num misto de extroversão (nas cenas com a amiga, nos momentos de contentamento) e de senso de preservação (ela sabe se "esconder" da câmera quando precisa).

Nesse jogo de mostrar e esconder - que nunca vai a fundo de fato, e nisso Marielle Heller poderia pegar como exemplo os filmes sobre juventude dos irmãos Safdie para tomar como modelo de como se aproximar intimamente de seus personagens - Powley aproveita o vácuo deixado e faz de The Diary of a Teenage Girl, se não um grande filme, pelo menos um ótimo caso de portfólio.

Nota do Crítico
Bom