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Tully | Crítica

Sem abrir mão da ironia, dramédia com Charlize Theron discute a maternidade com realismo e frescor

25.05.2018, às 16H16.
Atualizada em 25.05.2018, ÀS 19H03

A maternidade volta a ser assunto do diretor Jason Reitman e da roteirista Diablo Cody na carismática dramédia Tully. Se em Juno a dupla discutiu a gravidez na adolescência e a adoção, agora eles retratam os meses seguintes ao nascimento, sem esconder nenhum detalhe - seja ele positivo ou negativo -, do que esse período pode significar para uma mãe.

O longa acompanha Marlo, uma mulher à espera do seu terceiro filho. Mesmo sufocada pelas tarefas domésticas e os cuidados com os filhos, ela não consegue aceitar de primeira a sugestão do seu irmão de ter uma babá noturna para que ela e seu marido possam dormir em paz. É somente num momento de desespero que ela cede e liga para Tully. Frente a frente com a jovem, uma espécie de espelho da sua personalidade, Marlo se vê diante de uma jornada de autoconhecimento: redescobre um lado seu que até então ficara esquecido e reflete sobre as escolhas que a levaram até ali.

Novamente, Diablo Cody cria diálogos afiados, irônicos e incrivelmente sensíveis para conduzir a história desta mulher que, como tantas outras, se vê fracassando, sem conseguir atingir os padrões utópicos de como uma mãe deve se comportar. O filme dá uma sensação de aconchego e frescor, muito por causa da dinâmica divertida entre Marlo e Tully, mas no fundo trata com realismo as relações familiares e as pressões sociais que as mães sentem, desde a gravidez até… bem, não tem fim, não é?

Para isso, o diretor e a roteirista não se preocupam em fazer discursos de palanque. Fazem melhor: recriam situações corriqueiras, sem se apegar propriamente às palavras ditas, mas sim às performances das atrizes. Deste modo, colocam tudo em perspectiva e, em vez de explicar, mostram com bom humor e sarcasmo o descompasso das responsabilidades de mães e pais na criação dos filhos.

São muitos os méritos do roteiro, mas sem a química entre Charlize Theron e Mackenzie Davis provavelmente não seria possível traçar essa discussão com tamanha leveza. Com a direção de Reitman, as duas entregam atuações impecáveis e criam mulheres da vida real, pelas quais é fácil se apaixonar e, certamente, se identificar.

Por isso, quando Tully categoricamente afirma que “as garotas se curam” e Marlo esclarece “não. Se você olhar de perto, estamos cobertas de corretivo”, você sabe exatamente o que ela quer dizer. Sem disfarçar as imperfeições da maternidade, a dramédia mostra que há sim meios de se libertar das velhas concepções de como uma família deve funcionar. Para começar, é fácil: bastam duas pessoas.

Nota do Crítico
Excelente!