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Uma Longa Jornada | Crítica

Nova adaptação de um livro de Nicholas Sparks repete a fórmula de Diário de uma Paixão, sem o mesmo brilho

30.04.2015, às 05H25.

Apesar de toda a comunicação visual da divulgação de Uma Longa Jornada focar no casal jovem interpretado por Scott Eastwood (filho de Clint) e Britt Robertson, a trama de Nicholas Sparks, dirigida por George Tillman Jr. (Homens de Honra), trata de entrelaçar o romance atual com relatos de um amor antigo, fórmula que imediatamente repete ao principal filme inspirado em uma obra de Sparks, Diário de uma Paixão.

Sophia (Robertson) é uma estudante de artes que conhece Luke (Eastwood), um peão de rodeio que acaba de se recuperar de uma lesão. Mas a garota está prestes a se mudar para Nova York a trabalho. No primeiro encontro do casal jovem, eles deparam com um acidente de carro na estrada; enquanto Luke salva o senhor idoso, Sophia atende o pedido do homem ferido e resgata uma caixa.

O senhor acidentado é Ira (Alan Alda, quando idoso, e Jack Huston, quando jovem), que logo desenvolve uma amizade com a estudante de artes. Sophia descobre que a caixa estava cheia de cartas sobre a história de amor de Ira e de sua falecida esposa. Na verdade, a verdadeira história de amor do longa acontece nos momentos em que Sophia lê as cartas de Ira, para entreter o solitário velhinho, e o longa se transporta para um cenário de época, onde acompanhamos o amor trágico de Ira e Ruth (Oona Chaplin).

A história de Ira e Ruth é delicada, as expressões de amor são tocantes e todos os detalhes da relação dos dois fazem sentido na construção de um sentimento que atravessa a juventude e ocupa uma vida inteira.

A paixão dos anos 40 rouba a cena. Ruth e Ira conquistam o público seguindo a escola de romances que recriam um grande amor com histórias do passado. A preferência do público por este arco da história fica clara no final da sessão. Mas, infelizmente, de tempos em tempos a história dos jovens tem de voltar as telas e tomar as rédeas do filme.

O amor de Luke e Sophia parece frágil e efêmero, assim como em um namoro ordinário, que tem pontos altos, mas que não sobreviverá às frenquentes intrigas iniciadas nas redes sociais. Sophia, delicada e artística, se abre para o mundo rural de Luke, mas o rapaz não faz o mínimo esforço para entender os gostos da amada e constantemente entra em conflito com ela por causa disso. Luke é o cowboy rústico (no papel, Eastwood fica ainda mais parecido com pai) que se nega a ouvir toda e qualquer opinião da garota sobre seu estado de saúde e despreza os gostos dela.

O diretor George Tillman Jr. (Homens de Honra) subestima o público dessas histórias românticas. Todas as metáforas são desprovidas de sutileza. Está lá a famosa chuva antes do sexo, e não é preciso pensar muito para ver a referência sexual quando Luke puxa repetidamente uma corda de cima para baixo com o punho fechado, enquanto fala para a moça sobre como ela deveria montar num touro.

As obviedades não param aí. O diretor faz com que a história do passado se relacione de maneira claramente didática com o namorico da menina. É como se o senhor acidentado estivesse dando aulas de amor a Sophia e, dessa forma, ela guiará a sua história pelos mesmos passos de Ira, para ao fim, viver um grande amor.

Saber que o longa é baseado numa história de Nicholas Sparks já é o suficiente para levar aos cinemas os românticos à espera de uma história que emocione e mostre um amor incondicional ultrapassando todas as barreiras. No entanto, o arco do romance atual não convence como uma paixão digna de ser admirada e acaba importunando os espectadores. Assim como os anúncios do Youtube, Luke e Sophia são o caminho enfadonho porém obrigatório ao qual todos têm de assistir para poder, finalmente, se encantar com a história de Ira e Ruth.

Nota do Crítico
Regular