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Estranho, porém cativante esse Uma vida iluminada (Everything is illuminated, 2005). Baseado no livro de Jonathan Safran Foer, o filme foi dirigido e adaptado pelo ator Liev Schreiber (Sob o domínio do mal), em seu primeiro trabalho como cineasta.
Trata-se de um road movie no leste europeu sobre a ocasião em que o escritor Jonathan (vivido por Elijah Wood), um colecionador judeu norte-americano, partiu para a Europa desejoso de explorar o passado da família. Ele tinha a intenção de encontrar na Ucrânia uma mulher que supostamente salvou seu avô dos nazistas. Para tanto, contratou uma empresa especializada em viagens em busca de herança cultural (um carro soviético caindo aos pedaços, na verdade).
O personagem viaja ao lado de seus guias, Alex Jr. (Eugene Hutz, vocalista da banda punk Gogol Bordello - que assina algumas das canções do filme), o velhote ranzinza Alex (Boris Leskin) e a cadela Sammy Davis Jr. Jr.. Assim, fatos e ficção se misturam, enquadrados por uma mão certeira, a do diretor de fotografia Matthew Libatique - colaborador de Darren Aronofsky em Pi, Requiem para um sonho e no vindouro The fountain. Ele registra imagens da República Tcheca (que serviu como a Ucrânia) de enorme beleza e um colorido irretocável - seja ele o amarelo das flores ou o vermelho do sangue em um banheiro soviético -, que reforça a atmosfera de fábula da produção. Opção perfeita para adaptar o estilo detalhista do romance no qual a história é baseada.
Em termos narrativos, dois terços do filme têm um humor burlesco, recheado de personagens estranhos. Uma espécie de Encontros e desencontros sem o romantismo, calcado apenas nas diferenças de idiomas, diálogos divertidos e personagens estranhos. O inglês de Alex, sujeito que se veste feito um rapper negro, por exemplo, é hilariante. The blacks are such premium people, comenta inocentemente, para o horror do politicamente correto Jonathan. Leskin como o motorista ranheta que acredita que é cego é outro que rouba o filme.
Alguns dos pontos negativos do drama, como buracos na trama e a indecisão pelo tom da produção (ora cômico, ora desnecessariamente melodramático), podem ser explicados pela inexperiência de Schreiber atrás das câmeras. Todavia, o resultado é um longa acima da média, com alguns momentos realmente memoráveis. É interessante revisitar o Holocausto de forma menos convencional, sem a choradeira de O pianista ou A lista de Schindler. Sem dúvida, um bom começo para Schreiber. Esperemos mais desse cineasta recém-nascido.