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O último rei da Escócia

A vida do ditador ugandense Idi Amin chega às telas

01.02.2007, às 14H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

Nascido no meio dos anos 70, ouvi falar de Idi Amim pela primeira vez quando os Titãs cantaram a música "Nome aos bois", no disco Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987). Ele estava logo depois de Sérgio Dourado e era seguido por Plínio Correia de Oliveira e Plínio Salgado. Mas uma coisa eu sabia: ser citado ao lado de Garrastazu, Stalin, Hitler e Mussolini não era boa coisa.

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O último rei da Escócia (The last king of Scotland, 2006) conta um pouco da história de Idi Amin, o ditador que governou Uganda entre 1971 e 1979. Nascido no interior, ele serviu o exército inglês durante a época em que o país ainda era uma colônia britânica. Com a independência, em 1962, ele subiu rapidamente de patente, chegando a ser chefe do exército em 1966, sob comando do presidente Milton Obote, que ele mesmo destituiu do poder, no golpe militar de 1971, quando Obote ameaçava abrir investigação de desvio de verbas.

O longa, porém, procura dar ao sanguinário ditador algumas feições humanas. O projeto é uma adaptação de um romance homônimo, escrito por Giles Foden. No livro, o autor cria a figura de um jovem escocês, Nicholas Carrigan (James McAvoy), que acaba se tornando o médico pessoal e confidente do governante ugandense. Nicholas, acuado pelo jeito como seu pai o tratava, resolve pegar seu recém-conseguido diploma de medicina e partir para o mundo em busca de aventuras, mulheres e experiência profissional. Acaba em Uganda, trabalhando em condições precárias no interior do país. Após um acidente com o presidente, ele é chamado para prestar primeiros-socorros e com seu jeito sincero e direto conquista Idi Amin, que já tinha admiração pelos escoceses e o convida para o cargo de confiança.

A mudança para a capital parece ser o oposto do que Nicholas pretendia. Mas usando o seu carisma, Amin convence o jovem que ali, ao seu lado, ele poderia fazer ainda mais coisas por Uganda do que no meio do mato. Inebriado pelo poder, pela riqueza e pelas grandiosas festas oferecidas pelo presidente, o médico fica e vai descobrindo uma outra faceta do ditador, que não consegue ser contrariado e usa seu poder para se impor sobre os adversários.

Diferente de outros filmes sobre a África que vêm sendo feitos recentemente, como Hotel Ruanda (2004), ou Diamantes de Sangue (2006), O último rei da Escócia pega leve quando o assunto é mostrar as barbaridades que aconteceram por lá. Estima-se que Amin tenha matado entre 300 mil e meio milhão de pessoas durante o seu regime, mas este seu lado mais feroz só aparece mesmo na parte final do filme, quando Nicholas começa a enxergar quem o general realmente era e a temer pela sua própria vida. Para se ter uma idéia, desmembramento de uma de suas esposas e até canibalismo são exemplos freqüentemente atribuídos ao ex-líder, morto em 2003, exilado na Arábia Saudita. Torturas e assassinatos daqueles que não comungavam da sua visão de governo também estão na lista.

Esta figura instável, da qual não se sabe se virá um ataque ou um sorriso, deve render a Forest Whitaker seu primeiro Oscar de Melhor Ator. Merecido. Todo aquele discurso dos atores de que eles não interpretam vilões, mas sim pessoas com visões diferentes do mundo, se encaixa perfeitamente aqui. Whitaker consegue mostrar na tela que Amin achava que estava fazendo o melhor pelo seu país, pelo seu povo. Tanto é que até hoje o ex-ditador é lembrado com uma certa afeição por alguns ugandenses. Durante as filmagens, toda feita no país, um general disse ao ator "Sim, Amin matou meu pai, mas ele também fez coisas maravilhosas pelo país". O diretor Kevin MacDonald, documentarista premiado, estréia na ficção mostrando a redenção de Nicholas. Agora só falta o resto do Ocidente também mostrar seu arrependimento e começar a ajudar o continente africano, que não está muito melhor do que na época e Idi Amin.