2024 foi um ano extraordinário para os longas-metragens de animação, como demonstram os rankings de bilheteria do ano passado e a própria categoria do Oscar 2025, dividida entre êxitos comerciais inegáveis e favoritos da crítica. Não foi tão diferente no campo dos curtas, já que a seleção feita pela Academia neste ano se mostrou eclética geograficamente (França, Bélgica, Holanda, Japão e Irã estão representados aqui), mas também em termos de formatos, gêneros e público alvo.
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A seguir, o Omelete apresenta o nosso ranking das 5 produções indicadas ao Oscar 2025 nas categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação - lembrando que, no próximo dia 2 de março, somente uma sairá do Dolby Theatre com o careca dourado. Qual é sua aposta?
5. Yuck!
De longe o curta mais “fofinho” dessa seleção, o francês Yuck! aborda a descoberta do amor e da sexualidade no fim da infância com delicadeza, através de um recurso visual lúdico: no mundo animado pelo diretor Loïc Espuche, sempre que duas pessoas pensam em se beijar, os seus lábios se iluminam em rosa fluorescente. A ideia é bacana, os traços e cores generosas da animação são agradáveis,os 13 minutos do curta dão jeito de abraçar uma diversidade surpreendente, e sem dúvida Yuck! tem potencial de ser material educativo - mas, dentro da seleção em que caiu, difícil argumentar que ele não fica na lanterninha.
4. Beautiful Men
Um curta em stop motion sobre três homens de meia idade inseguros viajando para a Turquia a fim de fazer implantes capilares - não dá para dizer que Beautiful Men se vende com facilidade como produto, mas o curta do belga Nicolas Keppens se mostra rapidamente uma obra feita com esmero e coração. Talvez o título que melhor desenvolve seus personagens nessa lista, ele também é realizado com inventividade preeminente, seja nos ângulos de câmera escolhidos ou na modelação detalhada de cada um de seus bonecos, finalizados em detalhes encantadores de feltro. Sem precisar de muito, Beautiful Men provavelmente vai te conquistar.
3. Wander to Wonder
O patinho feio da seleção, este curta holandês imagina uma situação macabra: após a morte do seu mestre, três criaturinhas que estrelavam um programa infantil dos anos 1980 vivem em situação cada vez mais precária na casa infestada de moscas que ele deixou para trás - e a comida, ainda por cima, está acabando. Misturando (bem pouco) live-action com (muito) stop-motion, Wander to Wonder vai ficando cada vez mais sombrio conforme os seus 14 minutos vão se passando, o que talvez não caia bem para os mais inclinados a um cinema otimista… mas inegável que a diretora Nina Gantz acha maneiras criativas e surpreendentes de utilizar e transformar os cenários ao redor de seus personagens.
2. Magic Candies
O primeiríssimo curta da Toei Animation (ela mesma, responsável por One Piece, Digimon e outros clássicos do anime) a ser indicado ao Oscar, o encantador Magic Candies transporta com sutileza e criatividade os livros infantis de Baek Hee-na para uma plataforma onde eles podem florescer em imagem e movimento. O mundo criado pelo diretor Daisuke Nishio (Dragon Ball) fica no ponto certo entre o rústico e o sofisticado, capturando os espaços curiosamente vazios da rotina urbana média com olho afiado, tudo enquanto encontra maneiras interessantes de traduzir em cinema essa história sobre um menino e os doces mágicos que o permitem ouvir e conversar com diferentes criaturas, objetos e sentimentos ao seu redor.
Inteligente o bastante para não complicar demais a sua mensagem, mas tampouco condescendente com o público infantil e sua capacidade de captar subtextos aparentemente adultos, Magic Candies é um modelo que devia ser mais seguido no campo da animação.
1. In the Shadow of the Cypress
Representante iraniano na categoria, In the Shadow of the Cypress também é o único da seleção que não lança mão de diálogos para contar a sua história. Ao invés disso, os diretores Hossein Molayemi e Shirin Sohani escolhem falar através de cores, formas e ações. A história é sobre um pai e uma filha lidando com uma baleia encalhada na praia onde moram, mas ela também toca em emoções complicadas como o sacrifício inerente daqueles que formam uma rede de apoio, a necessidade de perdoar e até onde ela pode ser estendida, a urgência de deixar o passado para trás e os pedaços de nós que perdemos quando fazemos isso… tudo um pretexto para o filme fazer um mapa visual do trauma e da recuperação, basicamente.
Motivos repetidos, como vidros quebrados, texturas se desfazendo (inclusive a das pessoas), sombras e cores que se estendem para cobrir ou expor o ambiente ao seu redor, são salpicados pelos 20 minutos do filme como marcadores de viradas narrativas. A silhueta esguia dos personagens humanos é sempre contrabalanceada pelos traços mais expansivos dos animais e construções que os cercam - a pequenez do homem diante do mundo, sua fragilidade diante da tragédia que o destino lhe reserva. Essas escolhas vão se acumulando para que In the Shadow of the Cypress expresse com elegância e eficiência ímpar a sua imponente mensagem de superação.
O curta é, enfim, narrativa visual de primeira categoria, como toda animação deveria se esforçar para ser - e até por isso merece o primeiro lugar desse ranking.