O ator Nicolas Cage diz que escolheu estrelar Perigo em Bangkok, o remake de Bangkok Dangerous (1999), pela chance de trabalhar em outros países com talentos estrangeiros - no caso, os irmãos cineastas Oxide e Danny Pang (Assombração), responsáveis também pelo longa original. Atitude louvável de um astro hollywoodiano...
perigo em bangkok
O problema é que Cage muda os filmes mas interpreta seus personagens sempre do mesmo jeito.
Há reminiscências de Motoqueiro Fantasma (2007) e O Vidente (2007) na forma de atuar como se tivesse super-poderes paranormais. O olhar fixo no horizonte, a maneira como fecha os olhos devagar, profundo, o tom professoral e pausado com que solta frases definitivas... É o caso mais espantoso de overacting zen do cinema recente, por mais que os conceitos de zen e "atuar em excesso" possam parecer incompatíveis.
Joe, o matador que Cage interpreta em Perigo em Bangkok, não é um mutante psíquico, como parece, apenas um cara pragmático. O filme nos diz tudo o que precisamos saber sobre ele em um minuto de narração em off. São quatro regras de conduta, como não deixar vestígios, não se envolver emocionalmente, etc. O beabá do matador moderno. O contrato que Joe pega em Bangkok, na Tailândia, ele promete ser o último de sua carreira. E como em todo último-contrato-de-assassino no cinema, vai dar tudo errado.
Cage atua no piloto-automático, mas os irmãos Pang também não colaboram. Fazer o mesmo filme mais de uma vez deve ser mesmo muito maçante, pois são poucas as cenas de legítima invenção visual. Tirando o bom uso da luz num tiroteio ou o poético sangue que espirra de uma chacina, o resto é chavão. A coisa toda degringola na hora em que Cage solta a frase típica do matador-que-se-envolveu-emocionalmente: "Nos olhos dele eu vi a mim mesmo".
No fim Perigo em Bangkok vale como comédia. A despedida silenciosa de Cage com o namasté não dá nem pra comentar. Nessa ânsia de se aventurar pelo exotismo estrangeiro, o ator se deixou intoxicar pela comida apimentada da Tailândia e nos serve um humor involuntário sem igual.