Quando Scott Pilgrim Contra o Mundo foi anunciado, incialmente apenas o mundo indie deu atenção. Afinal, tanto a história em quadrinhos de Bryan Lee O'Malley como o cineasta Edgar Wright são muito pouco conhecidos fora desse nicho de mercado. Aos poucos, porém, o filme foi ganhando força e conquistando espaço na mídia pop. Confesso que, como grande fã da série, esperava muito pouco da adaptação. Ainda que aprecie os filmes do inglês e tenha acompanhado sua empolgação no set em Toronto, Canadá, achei os trailers um tanto fora do tom da HQ. Mas aí veio a Comic-Con 2010 e pude assistir ao filme - e minha cabeça explodiu.
Scott Pilgrim Contra o Mundo
Quando o longa foi adiado por aqui ficamos extremamente decepcionados. Afinal, sabemos que com as grandes distribuidoras brasileiras, adiar um filme em alguns meses é quase garantia de um lançamento direto em home video. A situação só piorou quando a estreia nos EUA foi um fracasso. As chances do filme chegar às telonas - seria o primeiro de Wright a conseguir isso no Brasil - eram quase nulas.
Felizmente, o escritório nacional da Paramount Pictures também apaixonou-se pelo filme e começou uma luta para viabilizar seu lançamento. O Omelete se orgulha de ter auxiliado nessas discussões e parabeniza o estúdio, que representa a Universal por aqui, por não ter desistido de Scott Pilgrim Contra o Mundo, que voltou à sua previsão de lançamento original, outubro (leia mais).
Para comemorar o destino da adaptação e celebrar o fato de que a qualidade cinematográfica conseguiu reverter práticas de mercado, o Omelete agora publica sua primeira entrevista com Edgar Wright. Conversamos com ele em Los Angeles nos dias seguintes à Comic-Con. A entrevista começou antes da hora, com as câmeras registrando um papo bem informal. Como demos sorte das câmeras estarem gravando antes do sinal de "ok", resolvemos deixar tudo no ar para nossos leitores. Confira abaixo e faça sua parte em outubro!
Com vocês, Edgar Wright!
Sabe cara, eu adoro o seu filme.
Edgar Wright: Obrigado!
Acho que é o melhor filme desse ano.
Muito obrigado, eu agradeço muito.
Foda-se A Origem.
Ahahaha, eu gostei de A Origem.
Eu também gostei, mas…
Eu acho engraçado que os dois filmes são um pouco sonhadores. É meio estranho porque na verdade - porque a minha teoria sobre Scott Pilgrim é que ele nunca acorda do seu sonho, na verdade. Então tem mais coisas em comum que você imagina.
E é legal que ambos os filmes são baseados em algo original. Claro, tem os quadrinhos mas não é como…
Não é como um programa de televisão, ou coisa assim.
[A entrevista começa oficialmente]
Bom, o que acontece com o estilo de filmar ao fazer uma adaptação de um trabalho que já existe, ao invés de trabalhar em algo original?
É ótimo porque você tem tanto material que é fantástico [pra se basear] e é meio que uma mudança levar isso para a tela. E eu acho que meio que carrega o meu estilo. Foi demais, eu gosto de dirigir o material de outras pessoas. Nós éramos muito próximos do autor e acho que muitas das influências e toda a mídia que Scott Pilgrim - o personagem - consumiu durante sua juventude é algo que eu e Brian temos em comum: a combinação entre filmes e música e quadrinhos e aqueles desenhos animados de sábado de manhã e videogames. São todas coisas com as quais eu cresci.
E uma das coisas que eu gosto mais nos quadrinhos e no seu filme é o visual, os efeitos gráficos sobrepostos e todas essas coisas. Quão difícil foi incorporar isso ao filme?
Levou um tempo para ficar bom. Nós queríamos que a integração entre o que filmamos no set e os gráficos parecesse orgânica. Então já planejamos tudo antes de começar a filmar, os gráficos já estavam quase prontos para serem mesclados. Ao mesmo tempo meio que deixamos para o destino. Se formos fazer, vamos fazer. E eu realmente não gosto de fazer coisas pela metade, então foi uma ótima experiência deixar a imaginação rolar.
Foi conseguir as músicas da Nintendo?
A Nintendo foi bem legal com o filme, na verdade. Nós já tinhamos conversado com eles porque , você sabe, Pequeno Neil, um dos personagens, brinca com um Nintendo DS o filme inteiro. E nós usamos algumas camisetas e o filme tem muitas referências à Nintendo. Tem essa cena em que usamos a música de Zelda e fazemos meio que uma versão cover. Tivemos que ir até a Nintendo no Japão e pedir permissão para fazer isso. E o senhor Miyamoto assistiu a uma das cenas com a música de Zelda e foi demais. Ele não viu o filme inteiro, mas viu aquela cena.
Você conheceu ele?
Não conheci. Infelizmente não.
Ainda falando sobre música: como foi trabalhar com Nigel Godrich, Beck e todos esses músicos fantásticos?
É demais. Niguel Godrich é meu amigo há dez anos e sempre quisemos trabalhar juntos. Este pareceu o projeto perfeito. É o primeiro filme dele. Foi ideia de Nigel ter um artista diferente tocando cada artista da ficção. Isso foi ótimo porque tínhamos Beck e Metric e Broken Social Scene [na trilha]. E todos meio que tocando com uma versão idealizada deles mesmos, então foi bem divertido.
No filme, Scott Pilgrim tem que lutar contra a sua versão negativa. Que tipo de filmes você acha que o Edgar Negativo está fazendo agora?
Meu Deus, Edgar Negativo… Uau… Você me pegou. O que ele faria? ... provavelmente pornôs!
Haha, ok. Obrigado!
Obrigado.
***
A trama do filme conta a história de Scott Pilgrim (Michael Cera), um roqueiro adolescente de Toronto que se apaixona pela estadunidense Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) - mas, para ficar com ela, terá que enfrentar seus Sete Maléficos Ex-Namorados. Brandon Routh, Jason Schwartzman, Aubrey Plaza, Kieran Culkin, Brie Larson, Mae Whitman, Ellen Wong, Anna Kendrick, Mark Webber, Alison Pill e Satya Bhabha também estão no elenco.
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