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Entrevista

Soundtrack | "Fiquei chocado com a sofisticação das equipes técnicas do cinema brasileiro", diz ator de Game of Thrones

Ralph Ineson integra elenco de filme com Selton Mello

05.07.2017, às 15H39.
Atualizada em 05.07.2017, ÀS 16H04

Cercado por quilos de neve artificial, num estúdio em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, decorado como se fosse uma estação de pesquisa no Ártico, Ralph Ineson, ator inglês alçado à fama com o sucesso indie A Bruxa, encontrou em Selton Mello e Seu Jorge dois professores de brasilidade, ao longo das filmagens de Soundtrack. Com estreia nesta quinta (6), o longa-metragem - já apontado pela crítica como um dos mais criativos experimentos narrativos do ano em nosso cinema - deu ao astro britânico de 48 anos e 1m91 de altura uma lição sobre como se lida com a perseverança no Brasil, apesar dos problemas locais. Visto em Game of Thrones sob a armadura de Dagmer Cleftjaw, Ineson estreia na indústria audiovisual verde e amarela na pele de um cientista ateu no comando de um centro de investigações ambientais na imensidão gelada.

"Esta é uma historia de encontros num lugar onde o silêncio é o senhor do castelo. E é difícil para um ator, um profissional da palavra, saber lidar com o vazio, com a excassez de ruídos. É uma história de pessoas que têm no trabalho seu único interlocutor", explicou Ineson ao Omelete em sua passagem pelo Rio.
 
Embora se passe no Ártico, Soundtrack não teve nada rodado lá e sim numa réplica (perfeita) das estações de pesquisa na neve, instalada no Polo do Audiovisual, no bairro carioca de Jacarepaguá, cujo chão ficou branco sob três toneladas de flocos brancos sintéticos, feitos de celuloide. Lá dentro, a ação se deu em três gigantescas instalações, feitas nos moldes dos contêineres que os institutos científicos constroem em terrenos inóspitos. No interior de cada um foram construídos laboratórios e dormitórios. Tudo fruto de uma pesquisa in loco no próprio Ártico e da consultoria da Marinha Brasileira. A direção do projeto foi confiada ao coletivo 300 ML, grife responsável pelo curta-metragem Tarantino’s Mind (2006), que, há onze anos, botou Mello e Seu Jorge falando sobre a obra do realizador de Pulp Fiction (1994). Agora, os dois se reúnem de novo, dividindo cenas com Ineson. 

"Parecia que estávamos numa estação espacial, tipo uma Apolo qualquer da Nasa, numa Lua gelada onde se falava português. Eu só conhecia o Brasil pela culinária, por conta de um restaurante brasileiro em Londres. Mas foi um choque ver o quão sofisticadas são as equipes técnicas do cinema de vocês. E estar com Selton e Seu Jorge é uma aula de composição", elogia Ineson. "Selton dá leveza ao textos mais doloroso e Seu Jorge procura o que há de mais musical em cada palavra".

Na trama, Ineson é Mark, um dos expedicionários, assim como o botânico Cao (Seu Jorge). A paz do local é abalada com a chegada de um artista plástico, o fotógrafo Cris (Mello, que registra sentimentos em forma de selfies adornados por músicas. Com Cris, Mark põe seu ceticismo em xeque. "Este é filme sobre modalidades de entendimento, do mundo e de si mesmo", diz Ineson.