Cena de Cidade de Deus: A Luta Não Para (Reprodução)

Séries e TV

Entrevista

Cidade de Deus | Série calca diversidade da favela: “Há uma vida pulsante lá”

Renata Di Carmo contou ao Omelete sobre transformações de Buscapé e Berenice

14.06.2024, às 06H00.

Cidade de Deus: A Luta Não Para é guiada por personagens que são protagonistas de suas próprias vidas”, na definição de Renata Di Carmo. Em entrevista ao Omelete, a autora-roteirista da série da Max contou como a série transformou o retrato da favela que se via no filme de Fernando Meirelles e Kátia Lund, lançado em 2002 - e que, desde então, construiu um legado complexo de denúncia e fetichização da violência na periferia.

Nossas personagens representam a variedade e a diversidade existentes nas favelas e periferias do Rio de Janeiro e do Brasil”, definiu Di Carmo. “Pessoas que trabalham, que estudam, que erram e acertam, que batalham e gestam as mudanças que desejam para si mesmas e para os seus. Há uma vida pulsante na Cidade de Deus da série, assim como há na Cidade de Deus real. É uma vida que envolve também política, cultura e esporte, onde as personagens são agentes sociais relevantes”.

Entre esses agentes sociais, alguns são velhos conhecidos dos fãs de Cidade de Deus - como Buscapé, mais uma vez interpretado por Alexandre Rodrigues. A série extrapola o olhar sensível e o talento do personagem para a fotografia, suas formulações críticas muito pessoais sobre a realidade que vive e as relações que se impõe, ao imaginar como ele progrediu na profissão de fotojornalista nos 20 anos entre as duas produções.

Sem dúvida, [Buscapé é] uma personagem muito intrigante e desafiadora”, comentou Di Carmo. “Imaginamos como estaria Buscapé como fotógrafo vinte anos depois. Será que ele teria conquistado o respeito dos seus pares? Teria tido oportunidades de crescimento? Quais seriam os seus dilemas? Como estaria sua vida pessoal? Seu estado de espírito? Quais os sonhos e desejos dele agora?”.

Quem também retorna é Berenice (Roberta Rodrigues), uma personagem muito definida, no filme, por sua relação com Cabeleira (Jonathan Haagensen). Vinte anos depois, ela se transformou em uma líder comunitária e política com muita vontade de transformar a realidade da comunidade. “Ela entende que as melhorias que ela deseja para o local onde ela mora, e que ela ama, precisam ser formuladas dentro da política institucional, e não apenas na cotidiana”, apontou Di Carmo.

Essa expansão das personagens femininas (Cinthia, vivida por Sabrina Rosa, também retorna com um papel maior do que no filme) era especialmente importante para a roteirista: O empreendedorismo e protagonismo feminino é muito natural na história do povo periférico e negro, desde sempre. [Buscamos] considerar as personagens já existentes, dando força e camadas a elas, e propor novas, igualmente fortes e complexas. Estas personagens vão tensionar e construir o rumo da história, para o bem e para o mal”.

Com direção de Aly Muritiba (Cangaço Novo), Cidade de Deus: A Luta Não Para também conta com Edson Oliveira, Thiago Martins, Marcos Palmeira e Andréia Horta no elenco. A série tem estreia marcada para agosto, pela Max.