Larissa Cartes nunca pensou que, aos 20 anos de idade, estaria vivendo na Coreia do Sul como parte de um grupo de k-pop. Nascida em Curitiba, com ascendência japonesa, ela sempre teve sonhos musicais, mas não via a indústria coreana como um objetivo.
“Ser idol não foi sempre o meu sonho - mas desde de criança eu queria ser cantora, aí conheci o k-pop e deu no que deu, né?”, comenta ao Omelete a brasileira que faz parte do BLACKSWAN, com o nome artístico Leia. “É simplesmente ‘amazing’ [incrível] representar o Brasil no k-pop. Os brasileiros nos dão tanto apoio e tanto amor, é o que me faz ficar de pé aqui”.
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O BLACKSWAN estreou para valer em outubro de 2020, com o álbum Goodbye Rania (uma referência ao grupo anterior da mesma gravadora, do qual algumas das integrantes faziam parte) e o clipe de “Tonight” - veja abaixo. Além de Leia, o grupo conta com a belgo-senegalesa Fatou e as coreanas Youngheun e Judy - um lineup que enfatiza a diversidade em uma indústria não muito afeita a ela.
“Acima de tudo, a atmosfera do grupo e da gravadora são muito diferentes do que vemos no restante da indústria do k-pop. Acho que é uma atmosfera mais livre, e acredito que essa é a força do nosso grupo”, declara a líder Youngheun ao Omelete. “Quando conseguimos enfatizar isso na música e nos vídeos, os fãs gostam muito, porque é algo novo para eles”.
“Eu acredito que esse estilo é necessário na Coreia”, emenda Leia. “Acho que damos esperança para muitas pessoas, mostrando que qualquer um pode se tornar o que quiser, incluindo um idol de k-pop, mesmo não sendo coreano”.
Quem define melhor o espírito do grupo, no entanto, é Judy: “A energia única que nossas integrantes emanam não pode ser ignorada!”.
Um grupo internacional
As integrantes do BLACKSWAN durante festa de aniversário de Youngheun, em novembro de 2020 (Reprodução/Instagram)
Na próxima sexta-feira (10), as quatro integrantes do BLACKSWAN poderão sentir o apoio dos fãs brasileiros através de uma chamada em vídeo, promovida pela Highway Star. O evento (veja informações aqui e no post abaixo), com ingressos a R$ 120 que garantem 2 minutos de conversa direta com as cantoras, incluindo serviço de tradução, é mais um dos muitos que sublinham a trajetória curiosa do grupo.
Após vários adiamentos na estreia por causa da pandemia do coronavírus, o BLACKSWAN lançou seu primeiro álbum, mas não teve muitas oportunidades de conhecer os fãs cara a cara, se apresentar ao vivo diante deles, ou mesmo participar de muitos eventos de divulgação dentro da Coreia do Sul. O resultado foi a construção online de uma base de fãs essencialmente global, ainda mais do que a de outros grupos de k-pop.
“É claro que nossa experiência foi bem diferente do que eu imaginava”, comenta Fatou. Leia completa: “Eu achei que nós estaríamos mais ocupadas depois de estrear. Fiquei surpresa com o quanto tempo passamos esperando para poder fazer shows ou aparecer em programas [de TV]”.
O quarteto destaca que foi a demanda dos fãs, batizados de Lumina, que permitiu que elas estreassem mesmo em meio à pandemia, e expressa uma vontade comum: a de conhecê-los pessoalmente no futuro, especialmente em shows. “Eu amaria ser mais ativa em termos de performance, além de viajar e conhecer nossos Lumina. Quando o corona acabar - esperamos que logo! -, queremos fazer todas essas coisas”, diz Fatou.
Para Leia, essa vontade se junta às saudades da família, que permanece no Brasil, o que fez com que ela não os visse pessoalmente durante o período da pandemia. “Sinto falta deles. Eu amaria [voltar para o Brasil com um show do BLACKSWAN], e gostaria que eles estivessem lá para nos ver”, sonha a curitibana.
O timing para um grupo de k-pop como o delas, verdadeiramente internacional, não poderia ser melhor. A indústria musical coreana passa por um grande momento de quebra de barreiras em 2021, seguindo um caminho pavimentado por hits isolados do passado, e o BLACKSWAN começa a construir sua trajetória em um cenário que as favorece.
“Eu ainda sou uma novata, mas me sinto grata por ter chegado tão longe, graças ao interesse de tanta gente, em tantos lugares diferentes. Acho que, em situações como essa, precisamos nos esforçar ainda mais!”, declara Youngheun.
Enquanto a apreciação pelos fãs internacionais é grande, o BLACKSWAN também quer construir sua reputação dentro de casa, na Coreia - missão para o próximo lançamento da discografia, que não deve demorar. “Ainda estamos tendo dificuldades por causa da pandemia, mas acho que poderemos fazer um comeback logo. Por favor, esperem só mais um pouquinho!”, pede Judy.
Duas das integrantes do BLACKSWAN têm nomes artísticos conectados à cultura pop. A primeira, é claro, é a própria Leia, que escolheu o nome da princesa de Star Wars em homenagem ao pai: “Ele ama a saga, então tirei meu nome artístico de lá”.
Já o nome de Judy não foi inspirado diretamente em Judy Hopps, a coelhinha protagonista de Zootopia, mas acabou caindo como uma luva. O nome de batismo da cantora, Kim Dahye, era comum demais dentro da indústria do k-pop, de forma que o pseudônimo foi escolhido apenas por sua sonoridade.
“Os fãs é que disseram que eu me pareço com a Judy de Zootopia. Eu amo isso, para falar a verdade”, brinca ela. “Eu acho que, através dos fãs, ela descobriu que se identifica mais com Judy do que pensava”, completa Youngheun.
Quando o Omelete pergunta se alguma das outras integrantes pensou em ter um nome similarmente inspirado na cultura pop, Fatou não hesita: “No começo, eu queria usar Layla. É o nome de uma personagem em O Clube das Winx [alternadamente conhecida como Aisha]. Eu sei, isso é bem surpreendente”.
Bom, talvez nem tanto. Winx é, afinal, um desenho animado sobre um time diverso de fadas que se unem para se tornarem mais poderosas do que jamais poderiam ser sozinhas. Parece bem apropriado.