O INCRÍVEL CABEÇA DE PARAFUSO E OUTROS OBJETOS CURIOSOS
DIOMEDES: A TRILOGIA DO ACIDENTE
Pinóquio
LÔCAS: MAGGIE, A MECÂNICA (LOVE & ROCKETS)
O INCRÍVEL CABEÇA DE PARAFUSO E OUTROS OBJETOS CURIOSOS
THE WALKING DEAD #100
TITEUF 1: DEUS, O SEXO E OS SUSPENSÓRIOS
Não há melhor maneira de definir "soturno" do que com a arte de Mike Mignola. Mas quem já leu Hellboy sabe que os desenhos de monstros lovecraftianos que se escondem nas trevas de decrépitas casas vitorianas andam de mãos dadas com humor impagável. O Incrível Cabeça de Parafuso e Outros Objetos Curiosos é uma coleção de várias histórias não-Hellboy de Mignola que, apesar de manterem os monstros, as casas vitorianas, as trevas e o traço que é só dele, são muito engraçadas. Fora a HQ título, é marcante "O Mágico e a Cobra", feita a partir de uma ideia da filha de 7 anos de Mignola - sendo que as duas ganharam prêmios Eisner em 2003. O contraste entre humor e arte sóbria, combinado a uma edição caprichada em papel, impressão e capa dura, rendem um dos melhores lançamentos do ano.
De: Mike Mignola
Tradução: Cassius Medauar
104 páginas, 17,5 x 26,5 cm, colorido
Nemo
R$ 49
DIOMEDES: A TRILOGIA DO ACIDENTE
Você não precisa de mais gente lhe dizendo para ler Mutarelli. Mas talvez precisasse de alguém para dizer onde ler Mutarelli. A coleção recém-lançada da trilogia (de quatro álbuns) que é sua maior obra em quadrinhos ajuda nos dois quesitos. As histórias do detetive Diomedes podem não ter sido feitas para leitura em sequência - o personagem "morre" no primeiro volume, passa por ressurreição milagrosa e, no capítulo final, foge lisergicamente da proposta e vira uma espécie de porta-voz de diversos outros interesses de Mutarelli. Num único volume, porém, descobre-se como Mutarelli é bom em diálogos, em coreografar cenas longas sem cansar o leitor e, claro, no traço sujo como boteco do centro - ideia que também se aplica às tramas. Um dos melhores candidatos a representar para o mundo o que é quadrinho brasileiro.
De: Lourenço Mutarelli
432 páginas, 18,7 x 27,5 cm, preto e branco
Quadrinhos na Cia.
R$ 59
Gepeto cria Pinóquio com dedos-metralhadora e um nariz-lança-chamas para vender aos militares e ficar milionário. Esse é só o começo da versão deturpada do famoso livro infantil sobre o menino de madeira - aqui ele é de metal -, na jornada por um mundo onde impera o humor negro. Winshluss, ou Vincent Paronnaud, vem da animação - co-dirigiu Persépolis com Marjane Satrapi - e sua longa história, quase sem texto, vai ativar várias referências dos desenhos animados adultos (Ren & Stimpy, alguém?). Pinóquio também é uma mistura de gêneros: há guerra, romance, crítica política, crítica social, um detetive noir, contos de fadas deturpados (os sete anões pedófilos) e até a vida Bukowski/Fantenesca de jovem escritor frustrado (o grilo falante - ou, no caso, barata - que vive na cabeça de Pinóquio). Grande vencedor do Festival d'Angoulême em 2009 (maior prêmio de HQs do mundo, pode-se dizer), é um livro tão caro quanto impecável nos mínimos detalhes. Por experiência própria, garanto que você vai lembrar e reler muitas vezes nos próximos anos.
De: Winshluss
Tradução: Carol Bensimon
192 páginas, 21 x 29 cm, colorido
Globo Graphics
R$ 75
LÔCAS: MAGGIE, A MECÂNICA (LOVE & ROCKETS)
Love & Rockets está completando 30 anos de fãs apaixonados nos EUA e nos últimos vinte só duas editoras tentaram trazer o material para cá - sem sucesso. A nova investida da Gal começa bem: vai lá nos primeiros anos das Lôcas de Jaime Hernandez, em que o drama dos personagens fortes se mistura à ficção científica, mas combina a histórias posteriores que mostram a amplitude do autor. Logo a segunda HQ na coletânea, "How to Kill", sem texto, já mostra os caminhos brilhantes de narrativa que Jaime viria a tomar depois do período inicial da revista. Assim, o volume tem material o bastante para mostrar o que é Love & Rockets: as mulheres cativantes, tão reais quanto variadas, a mistura da cena punk e da cena "chicana" na Los Angeles dos anos 80, o realismo fantástico que se encaixa fácil como metáfora do nosso cotidiano. A grande recompensa de Love & Rockets, porém, está em acompanhar a série ao longo dos anos e ver Maggie, Hopey e cia. crescerem, desenvolverem-se, morrerem (em alguns casos) e entender por que elas têm fãs tão dedicados (e dedicadAs, vale dizer). Se não gostar deste volume, desista: você não é feito paraLove & Rockets.
De: Jaime Hernandez
Tradução: Maurício Muniz e Eliane Gallucci
152 páginas, 21 x 26 cm, preto e branco
Gal Editora
R$ 39,90
TITEUF 1: DEUS, O SEXO E OS SUSPENSÓRIOS e TITEUF 2: O AMOR É NOJENTO
Lá naqueles lindos países europeus onde um terço da população compra e lê gibi avidamente, o suíço Zep virou milionário com um loirinho de cabelo espivetado que adora falar de sexo. Todas as piadas que Calvin & Haroldo não faria com a sexualidade humana vista pelas crianças - chegar em casa e encontrar os pais pelados, pagar pra menina mais desenvolvida do colégio levantar a camisa, o meu é maior que o seu, etc. - estão nas histórias (quase todas de uma página) que compõem os álbuns. Claro que não é só sexo, pois a vida infantil tem outras alegrias e desgraças que rendem bom humor. Mas é divertidíssimo, quase transgressor, ver uma HQ infantil ser tão liberal e mandar o puritanismo às favas. As histórias de Titeuf e companhia têm mais a ver com nossas horas de recreio na infância do que qualquer um dos gibis politicamente corretos que assolam as bancas.
De: Zep
Tradução: Silvio Antunha (volume 1) e Cristina Fernandes (volume 2)
52 páginas cada, 21 x 28,5 cm, colorido
Vergara & Riba
R$ 34,90 cada
THE WALKING DEAD #100
Lembra de quando a gente falava que Walking Dead tinha tudo para ser uma ótima série de TV? Pois é. Com o fenômeno mundial em pleno curso e a terceira temporada chegando em poucas semanas, a origem de tudo - a série de quadrinhos independentes que vendia meia dúzia de exemplares há oito anos - vai muito bem, obrigado. Não só por estar batendo recordes do século, como você já deve saber. Vai muito bem, obrigado, porque Robert Kirkman tem a sagacidade de criar divergência entre os caminhos de seriado e HQ, fazendo mundos à parte. Há, por exemplo, personagens que morreram no quadrinho e que seguem na TV, ou vice-versa. Dá para dizer que há até tramas com soluções melhores no seriado do que na HQ - e vice-versa. O importante é elas manterem-se cada uma em seu canto. Na 100ª edição, Kirkman e Charlie Adlard introduzem um vilão em que se aposta o nível de popularidade do Governador - e que, para isso, chega matando um dos personagens principais na cenas mais cruel e violenta que se deve ver este ano, em qualquer mídia. É quase uma provocação: será que o seriado ousaria fazer igual? Kirkman, único cara do mundo que se pode dizer rico por ter criado um gibi de zumbis, dá exemplo para os inúmeros quadrinistas que sonham com esse sucesso - mas é preciso estudar com cuidado.
De: Robert Kirkman / Charlie Adlard
32 páginas, preto e branco
Image Comics
US$ 3,99