Mangás e Animes

Crítica

O Exterminador do Futuro Zero julga vocação humana de repetir os próprios erros

Anime traz novo olhar para a franquia em um momento em que ansiamos pela IA

Pedrinho
04.09.2024, às 13H05.
Atualizada em 04.09.2024, ÀS 13H19

A moral da franquia O Exterminador do Futuro já ecoava as preocupações com ambientalismo que James Cameron desenvolveria em filmes seguintes. Quando não nos matamos na guerra, destruímos o ecossistema, e no filme de 1984 o castigo vem na forma de uma máquina construída à imagem e semelhança do seu criador. No anime O Exterminador do Futuro Zero, a franquia dobra a aposta e traz um cenário em que a humanidade repete os próprios erros.

Na série animada, conhecemos uma soldado na guerra entre humanos e máquinas que viajou no tempo para mudar o destino da humanidade e agora está presa entre o futuro e o passado. Ela chega em 1997 - ano do “Julgamento Final” em que a Skynet é posta online - para proteger um cientista chamado Malcolm Lee, que tenta lançar um novo sistema de Inteligência Artificial para competir com a Skynet e evitar o ataque à humanidade. A personagem não é a única viajante e um assassino do futuro também mira Malcolm e sua família.

Adaptar a trama conhecida da família Connor com outros personagens é apenas uma das liberdades que o desenho toma. O anime se passa no Japão e usa isso de pretexto para transferir o universo dos filmes para a linguagem do anime. A história de Sarah e John Connor é resgatada em alguns momentos, apesar de seus nomes não serem citados, a título de situar minimamente a mitologia nessa história inédita.

Com isso, não apenas temos a volta da dinâmica de gato-e-rato na ação para proteger o civil “salvador” como vemos os personagens repetirem os mesmo erros que a humanidade cometeu com a Skynet. Esse déjà vu proposital reafirma o apontamento da franquia sobre a degradação humana e desta vez nos obriga textualmente a encarar esse fardo. Kokoro, a IA desenvolvida no Japão, passa praticamente todo seu tempo de tela debatendo com seu criador, enquanto escancara que as nações causaram mais danos a si mesmas do que a Skynet.

Essas novidades, que podem parecer batidas nas narrativas apocalípticas de consciência ambiental na ficção científica japonesa, dão um novo oxigênio para a franquia. A série saúda os filmes com Arnold Schwarzenegger sem depender de um apelo nostálgico. Claro, as referências, o universo e o próprio nome da série forçam a comparação, mas Terminator Zero ainda brilha por si mesma, adaptando temas e texto a um momento em que já normalizamos o nome Inteligência Artificial para nosso dia a dia de machine learning.

A união da dupla Mattson Tomlin e Masashi Kudo, respectivamente roteiro e direção, faz com que o anime do estúdio Production I.G. não se prenda à linguagem convencional dos animes de ação e proporciona uma experiência atraente mesmo para quem torce o nariz para o gênero. Fluido no texto e no traço, O Exterminador do Futuro Zero faz a lição de casa à altura dos 40 anos da franquia.

Nota do Crítico
Ótimo