Uma coisa que My Hero Academia ensinou ao público otaku desde seu primeiro capítulo é que ser um herói vai muito além de ganhar superpoderes e salvar civis. Para o anime, heroísmo é um código de virtude inabalável, onde a vida das pessoas vem acima de qualquer coisa, inclusive da sua própria. Com o filme My Hero Academia: Agora é a sua Vez, a franquia de Kohei Horikoshi reafirma seu conceito do que é ser um herói para as pessoas à sua volta.
No quarto longa-metragem do anime, vemos a história se desenrolar depois do último e mais épico confronto entre All Might e o supervilão All For One, cena do cânone do anime. Após renunciar à sua última centelha do One For All para parar seu arqui-inimigo, ele aponta para as câmeras e diz “agora é a sua vez”, dirigindo-se a Izuku Midoriya — codinome Deku, protagonista do anime e herdeiro de suas habilidades únicas. Porém, no filme, vemos que essa mensagem não chegou apenas para Deku, mas também para o maior mafioso da Europa, que decidiu ser o novo “símbolo da paz”.
Essa dinâmica força os personagens ao limite, e Deku precisa unir forças com os igualmente populares Bakugo e Todoroki. Juntos, o trio enfrenta diversos dilemas que os levam a questionamentos sobre as qualidades que um herói precisa ter. Diante deles, o vilão autointitulado Dark Might diz que tudo o que um herói precisa ter é força, mas durante todo o filme eles precisam provar constantemente que as qualidades reais para tal envolvem coragem, altruísmo e até mesmo esperança.
Apesar do pouco tempo de tela, os demais alunos da Turma 1-A também ganham grande destaque, afinal, a mensagem do filme é heroísmo em sua totalidade. Mesmo os heróis de suporte, resgate e defesa têm seus méritos exaltados ao longo do filme, que traz boas sequências de ação, drama, e comédia. Qualidades essas que valem tanto para os personagens canônicos quanto para os novos rostos, como a figura da “donzela em perigo” e seu fiel escudeiro, apelidado de “figurante maneiro” pela dublagem brasileira. O mesmo não pode ser dito sobre o vilão, que tem apenas alguns segundos para revelar sua fraca motivação e individualidade.
Toda essa trama fica ainda mais interessante graças ao trabalho do diretor Tensai Okamura e sua equipe, que, além da boa animação, trazem também cenas bem construídas, dando mais verdade aos personagens, por mais que eles sejam apenas animações. A trilha sonora comandada por Yuki Hayashi também colabora para o sucesso da narrativa, tornando as cenas de luta mais memoráveis, enquanto as já tradicionais memórias dramáticas ficam ainda mais sensíveis.
Porém, por mais bem-intencionados que sejam os membros da equipe e por mais bem amarrada que seja a história, My Hero Academia: Agora é a sua Vez ainda é mais um filme de ação genérico feito em cima de uma franquia consolidada. Ser genérico ou clichê não torna o filme necessariamente ruim, apenas mostra que, com um pouco mais de coragem, a franquia poderia encontrar uma nova história de sucesso nos cinemas.