Segundos episódios são sempre difíceis. Tradicionalmente, é neles que séries tentam estebelecer a forma como as coisas serão a longo prazo, o que pode gerar problemas de ritmo e quebrar as expectativas do espectador, já acostumado com o ritmo do piloto.
Mas pilotos, é claro, são especiais, exatamente porque podem se preocupar mais com a construção da premissa e o investimento emocional nos personagens - como fez o (excelente) episódio de estreia de Loki, inclusive. A série da Marvel tampouco é exceção, portanto, quando se trata dos problemas que um segundo capítulo pode trazer.
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Livre da novidade do predecessor, o capítulo lançado hoje (16) pelo Disney+ se apoia um pouco demais no humor e na boa dinâmica entre os protagonistas Tom Hiddleston e Owen Wilson para carregar a história até o seu próximo ponto de virada, uma cena final impactante que promete grandes revelações e confrontos bombásticos para o restante da série.
Aqui, reencontramos Loki (Hiddleston) um pouco mais confortável na posição de agente "honorário" da AVT (Autoridade de Variação Temporal), embora os conflitos entre o agente Mobius (Wilson) e sua chefe, Ravonna Renslayer (Gugu Mbatha-Raw) continuem, em grande parte por causa dele. O roteiro de Michael Waldron parece mais confortável com o humor do que na estreia, brincando de maneira esperta com a inserção de Loki, um agente do caos por natureza, no ambiente burocrático da Autoridade.
O episódio também tenta balancear o lado detetivesco da trama com a faceta aventureira natural do MCU. Para cada diálogo saboroso entre Loki e Mobius, recitado enquanto eles investigam uma montanha de papelada para encontrar o paradeiro de sua Variante fujona, Waldron inclui também uma viagem no tempo inegavelmente divertida. A visita dos dois a Pompeia, minutos antes de a cidade ser destruída pela erupção do Vesúvio, é o destaque óbvio.
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Loki e Mobius são mesmo uma dupla boa, assim como Hiddleston e Wilson. O roteiro do episódio cria com os dois uma relação que é ao mesmo tempo desconfortavelmente paternal (Mobius é uma nova chance para Loki provar o seu valor a alguém, afinal) e agradavelmente amigável. Aqui, eles trocam filosofias de vida na hora do almoço e chegam à conclusão de que "a existência é um caos" e as coisas nas quais acreditamos são reais simplesmente por acreditarmos nelas.
É bacana, como no primeiro episódio, que a série se dê tempo para esse tipo de cena, mas Loki ainda precisa encontrar o calibre correto de seu ritmo e a densidade certeira do seu texto para prender o espectador, ou pode facilmente se transformar em um procedural desgastante, um C.S.I com superpoderes.
Como ficou claro já no primeiro capítulo, também, as cenas de ação não serão o forte da série. Neste segundo episódio, a diretora Kate Herron coordena sem muito impacto um par de momentos de adrenalina, derrapando especialmente na fotografia e ritmo caóticos do confronto de Loki com a tal Variante vilanesca, que forma a espinha dorsal do final do episódio.
Com sorte, os desdobramentos deste final serão o bastante para eliminar o risco de Loki cair no marasmo.