Uma das críticas mais frequentes – e justas – feitas ao MCU (Universo Cinematográfico Marvel) nos últimos anos é que a franquia comandada por Kevin Feige se tornou esquemática. Apesar de contar com alguns dos personagens mais famosos da cultura pop e poder pagar os salários dos maiores astros e cineastas de Hollywood na atualidade, o Marvel Studios passou a receber olhares tortos por podar criativamente diretores e roteiristas, que criticam cada vez mais o domínio da franquia nas salas de cinema e nas bilheterias. Por isso, é justo dizer que quem já encara com certo cansaço o sucesso cinematográfico da Casa das Ideias ficou um pouco cético com o anúncio de que a franquia faria uma nova tentativa de expansão na televisão, desta vez no Disney+. Felizmente, WandaVision, primeiro seriado da nova leva de produções televisivas do estúdio, representa uma bem-vinda novidade no universo cinematográfico.
- Omelete comentará todos os episódios em lives semanais
- Recap: Bom segundo episódio continua viagem por sitcoms
- Conheça as sitcoms que inspiraram a série
A série, que chega ao Disney+ às 4h desta sexta (15) com dois episódios de uma vez, é baseada em histórias como Visão, Dinastia M e Vingadores: Visão e A Feiticeira Escarlate, e em sitcoms que vão de The Dick Van Dyke Show a Três É Demais. Os três primeiros episódios assistidos em primeira mão pelo Omelete mostram Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) se mudando para um bairro suburbano dos Estados Unidos em busca de uma vida normal. Sem a menor cerimônia – ou qualquer contextualização -, WandaVision já começa completamente mergulhada no formato de comédia familiar, incorporando a imagem em preto e branco e emulando a gravação em frente a uma plateia ao vivo.
A própria trama da série segue o que era visto nas sitcoms em que se inspira. Deixando para trás os combates para salvar a humanidade, o casal de super-heróis focam seus esforços em atividades mundanas, como entregar demandas no trabalho, manter uma boa relação com os vizinhos e agradar o chefe com um jantar impressionante. No entanto, WandaVision se destaca ao passar sempre a sensação de que algo nessa nova vida está errado, fazendo com que o público questione constantemente, e cada vez mais, essa impressão de normalidade.
- Saiba como assistir WandaVision
- O que esperar da primeira série do MCU
- Relembre a trajetória de Wanda e Visão nos filmes
- Cinco HQs para ler antes de ver WandaVision
Ao contrário de outras produções “diferentonas” do MCU, como Thor: Ragnarok ou Homem-Formiga, WandaVision não desperdiça seus primeiros minutos encaixando a produção no escopo geral da franquia. Em vez disso, a série prefere explicitar sua atmosfera cômica, com um humor físico típico das comédias que emula.
Além de fazer bem para o público, que vê na produção a promessa de novos rumos para o universo cinematográfico, WandaVision também limita menos o trabalho de seus atores principais. Enquanto Olsen, fadada a sofrer nas telonas desde 2015, consegue arrancar risadas e lágrimas na mesma proporção com seu novo retrato de Wanda, Bettany se destaca no humor físico típico de atores criados no palco, mas que ele pouco pôde mostrar nos últimos anos de carreira.
O texto de Jac Scheaffer também é certeiro. Ao mesmo tempo que incorpora elementos chave de sitcoms clássicas, a roteirista desenha extremamente bem os limites entre homenagem e paródia. Por mais que traga uma visão ácida ao papel que as séries clássicas impunham a suas personagens femininas, Scheaffer o faz de maneira inteligente, sem que as críticas pareçam forçadas ou prepotentes.
Mesmo que aparentemente corra de maneira paralela ao restante do MCU, WandaVision não deixa de introduzir easter eggs. Assim como o restante da franquia, as referências a personagens importantes do universo Marvel variam entre discretas e berrantes, formando aos poucos um quebra-cabeça que só deve ser completado quando a primeira temporada chegar ao fim.
Embora Kevin Feige já tenha avisado que a série será importante para o MCU, WandaVision chega ao Disney+ sem qualquer pretensão de se encaixar logo de cara à franquia. Com uma liberdade criativa raramente vista no Marvel Studios, a série começa em um nível altíssimo de qualidade e entretenimento e deixando ganchos atrativos o bastante para que o espectador queira voltar semanalmente. Inovadora sem alienar os fãs, a produção traz o frescor que há muito se espera do MCU e aponta para um futuro criativo e divertido para o universo Marvel na TV e no cinema.