O potencial narrativo do multiverso foi finalmente reconhecido na 2ª temporada de What If…?. Mantendo-se autorreferente, como é premissa das HQs O que aconteceria se…?, a nova leva de episódios cria pareamentos curiosos e abre brechas não só para histórias realmente diferentes, mas para novos olhares a velhos conhecidos — o que, convenhamos, deveria ter sido a proposta da produção na largada, mas que a 1ª temporada fez apenas de forma tímida.
Ainda que a melhora seja evidente, tanto em termos de enredo, quanto na exploração da animação como meio para contar estas histórias, é fato que alguns capítulos são melhores do que outros. A seguir, confira o ranking dos episódios da 2ª temporada, do pior ao melhor:
9º LUGAR: …E SE PETER QUILL ATACASSE OS HERÓIS MAIS PODEROSOS DA TERRA?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
É claro o apelo de colocar uma criança como “vilã” de uma história, ainda mais quando o personagem em questão é conhecido originalmente como alguém bondoso. Mas a forma como este Peter Quill (Mace Montgomery Miskel) lida com seus daddy issues é um pouco rocambolesco demais para seu próprio bem, sobretudo considerando como a conclusão não é tão diferente do que o fandom já sabia: Ego (Kurt Russell) é inescrupuloso e Quill, uma vítima deste mau caratismo. Além disso, por mais que seja legal imaginar como seria a formação dos Vingadores na década de 1980, é difícil de acreditar que com pessoas tão cerebrais integrando a equipe, como Hank Pym (Michael Douglas), Mar-Vell (Keri Tombazian) e Bill Foster (Laurence Fishburne), eles seriam tão atrapalhados. Tudo bem que o tom do episódio é diversão em família, sabe? Mas calma lá!
8º LUGAR: …E SE HAPPY HOGAN SALVASSE O NATAL?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Colocar Happy Hogan (Jon Favreau) como um John McClane improvisado tem sua graça, ainda mais diante da abundância de referências a Duro de Matar, da fuga pelo tubo de ventilação ao desfecho do vilão Justin Hammer (Sam Rockwell) — espertamente relembrado aqui, por sinal. Contudo, a transformação do braço direito de Tony Stark (Mick Wingert) em uma espécie de Hulk, as tentativas de Darcy (Kat Dennings) como hacker ou, ainda, os lampejos dos compromissos natalinos dos Vingadores não vão muito além do espirituoso. É bonitinho, mas só.
7º LUGAR: …E SE ESTRANHO SUPREMO INTERVIESSE?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
O finale da 2ª temporada tinha tudo para ser o melhor episódio. Estamos diante de uma grande luta, repleta de reencontros, artefatos poderosos e um vilão bem discriminado. Mas, como no capítulo do pequeno Peter Quill, a tentativa do Estranho Supremo (Benedict Cumberbatch) de recriar seu próprio universo tem muito vai e vem para pouca história, principalmente na sua reta final, quando a série opta por dobrar algumas das suas regras em nome da conveniência. Ainda assim, não dá para falar que ver Peggy Carter (Hayley Atwell) e Kahhori (Devery Jacobs) lutando lado a lado não foi especial. Este é um combo que poderia, inclusive, ir para o live-action!
6º LUGAR: …E SE CAPITÃ CARTER LUTASSE CONTRA O ESMAGADOR HIDRA?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Não importa o universo, o reencontro entre Peggy e Steve Rogers (Josh Keaton) será sempre emocionante. Isso é um fato dado e, não à toa, What If…? retoma esse amor impossível toda vez que pode, como é o caso deste episódio. Por isso, é especialmente interessante notar como o duo Capitã Carter e Viúva Negra (Lake Bell) rouba a cena aqui. A camaradagem — ou seria um simples e direto flerte? — entre elas, conforme se ajudam a encarar seus respectivos passados, é envolvente e bem feito, a ponto de oferecer uma construção de personagem para Natasha até mais coerente do que sua trajetória de fato ao longo do MCU. Então, quando a Wanda (Elizabeth Olsen) de outra dimensão sequestra Carter, a ruptura da dupla dói um pouco.
5º LUGAR: …E SE NEBULOSA SE JUNTASSE À TROPA NOVA?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Como em outros casos já mencionados, o capítulo dedicado a Nebulosa (Karen Gillan) também recorre a conveniências de roteiro para cavar suas reviravoltas. Ainda assim, ver uma personagem recorrentemente definida por sua relação com os outros — ela é, afinal de contas, uma das filhas de Thanos — assumir protagonismo não foi nada banal. Na verdade, colocá-la como parte da Tropa Nova realçou não só seus valores individuais, como sua lealdade e seu senso de justiça, como serviu como uma sementinha interessante para a introdução do Nova no futuro. Mas, em um cenário à la Blade Runner, vê-la montar sua própria equipe de outsiders foi divertido, ainda mais considerando que tudo culminou para que Yon-Rogg (Jude Law) acabasse apanhando — de novo!
4º LUGAR: …E SE O HOMEM DE FERRO COLIDISSE COM O GRÃO-MESTRE?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Não sou grande fã da devoção ao Homem de Ferro na Casa das Ideias, mas, nesse caso, preciso dar meu braço a torcer. Colocá-lo para lidar com o Grão-Mestre (Jeff Goldblum), uma figura que consegue ser mais pomposa que o próprio herói, foi uma escolha muito feliz, sobretudo em um contexto que não simplesmente repete Thor: Ragnarok. Há, sim, acenos ao filme queridinho do Deus do Trovão, mas transformar a arena dos gladiadores em uma grande pista de corrida por si só já abriu o leque de possibilidades da animação, que soube aproveitá-las muito bem. Mesmo a desconstrução da Gamora (Cynthia McWilliams), de fiel seguidora de Thanos (Josh Brolin) a rebelde, foi interessante de se ver. E tudo porque Tony Stark não foi tão bem-sucedido nessa linha do tempo — uma premissa que, convenhamos, tem um apelo particular.
3º LUGAR: …E SE OS VINGADORES SE REUNISSEM EM 1602?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Colocar o Loki (Tom Hiddleston) para declamar Shakespeare logo nos primeiros minutos já poderia garantir uma posição para o episódio no Top 3 desta temporada. No entanto, a ambientação em 1602 vaza para todos os Vingadores — ainda bem! Wanda Maximoff vira Merlim; Steve Rogers é Robin Hood; Thor (Chris Hemsworth) é rei e Nick Fury (Samuel L. Jackson), um sir; Happy Hogan lidera a guarda real dos Jaquetas Amarelas… Quer dizer, o MCU se acomoda muito bem aos moldes medievais, e há uma perspicácia nessa combinação, tanto pela curiosidade, quanto por cumprir as primeiras expectativas do que seria What If…?, isto é, uma grande piração. É uma aventura que honra o espírito dos Vingadores, na mesma medida que dá o devido protagonismo a Peggy Carter. E, para arrematar, é muito divertido de assistir.
2º LUGAR: …E SE HELA ENCONTRASSE OS DEZ ANÉIS?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Mesmo assim, os Vingadores que me perdoem, mas eles não são páreo para o combo Hela (Cate Blanchett), Wenwu (Feodor Chin) e Jiayi (Lauren Tom). Assim como aconteceu com Nebulosa, ver a vilã, já tão carismática, se libertar das suas amarras e entender-se nos seus próprios termos é, no quesito desenvolvimento de personagem, um deleite. Agora, é também muito curioso ver uma figura tão trevosa como ela conviver com — e até assumir — as cores de Ta Lo. É uma proposta que nasce da ideia de vê-la sofrendo consequências semelhantes às de Thor no começo do MCU, mas que não se acomoda nisso. Pelo contrário, faz experimentações muito interessantes, dignas da 2ª colocação no ranking.
1º LUGAR: …E SE KAHHORI REMODELASSE O MUNDO?
What If...?/Marvel Studios/Reprodução
Não deve ser surpresa que a introdução de Kahhori (Devery Jacobs) ao MCU ocupe o 1º lugar deste ranking. Este é, afinal de contas, o episódio que melhor dá a dimensão da infinitude de possibilidades que o multiverso abre para o universo compartilhado. Imaginar como o Tesseract poderia afetar uma tribo nativo-americana — neste caso, os Mohawks — antes da colonização do seu território não só é inventivo, como traz um dado de realidade importante, capaz de lembrar os fãs que, essencialmente, os heróis da Casa das Ideias são humanos. Gente como a gente, com suas convicções, seus medos, seus traumas e seus sonhos.
Nesse contexto, Kahhori surge com um senso de heroísmo clássico e, ainda assim, refrescante — e, não por acaso, já é queridinha do público. A personagem é reflexo de um trabalho cuidadoso e, em alguma medida, ousado da Marvel que, com sorte, pode representar também um passo importante de reavaliação dos rumos do seu multiverso. Seja reconhecendo a necessidade da quebra de expectativas, seja honrando o tempo do público com histórias realmente envolventes.