“Ele fez de tudo. Ele fez álbuns experimentais. Ele fez álbuns de pop. Tudo que alguém pode querer fazer em um estúdio, ele foi e tentou”. Em entrevista à Rolling Stone, o produtor Greg Kurstin (Adele, Foo Fighters) explicou em poucas palavras o trabalho da carreira de Paul McCartney. Ao resumir a diversidade musical do Beatle, Kurstin explicou bem, ao mesmo tempo, seu último trabalho: Egypt Station.
Capitol Records/Divulgação
O novo álbum de McCartney vem cinco anos depois do simpático New e, em alguns arranjos, lembra seu antecessor, com uma grande diferença que é explicada pelo significado do título. Enquanto New seguiu uma direção moderna e bem coesa entre suas faixas, Egypt Station funciona como um trem musical, que estaciona em diferentes estações e entrega canções absolutamente diferentes entre si, como exemplificado perfeitamente pelos seus dois distintos primeiros singles, "I Don’t Know" e "Come On To Me". Surpreendentemente, o resultado final soa realmente como uma viagem, e em nenhum momento soa como uma colcha de retalhos. Aos 76 anos, Macca continua mais do que capaz de viajar por gêneros diferentes, e inova-los em um sentido único. Ainda mais curiosamente, McCartney não apenas seguiu criando novas ondas musicais, como apresentou uma personalidade jovial que há tempos não surgia com tanta naturalidade em seu trabalho.
De cara, Egypt Station lembra Wings. É como se o novo Paul, criador de "Queenie Eye", conectasse perfeitamente com o compositor de "Jet", em um encontro que não apenas é inconscientemente antecipado como também se mostra uma evolução natural do músico. Suas melodias em "Happy With You" e "Dominoes" são tão instantaneamente cativantes que parecem fazer parte do setlist de Macca há anos. No mesmo sentido, a ótima "Despite Repeated Warnings" ainda deve render boas comparações com "Band On The Run" e "Live and Let Die". Além dos dois primeiros singles, os destaques de Egypt Station se completam com "Do It Now" e sua excêntrica faixa de encerramento, "Hunt You Down/Naked/C-Link".
McCartney faz questão de não fazer apenas o básico. Em diversos momentos de Egypt Station, ele reflete sua necessidade de pensar fora da caixa, adicionando instrumentos inusitados e substituindo partes de guitarra com clarinetes e violoncelos. Neste sentido, um dos melhores elementos de Egypt Station é como ele tira proveito da orquestra. Por outro lado, as faixas mais fracas do álbum deslizam exatamente na vontade da inovação. Uma delas é a homenagem de Paul ao nosso país, "Back In Brazil", que mistura elementos do samba com electropop, resultando em uma canção ligeiramente esquisita, e a outra é "Fuh You", única música do disco que não foi produzida por Greg Kurstin e sim por Ryan Tedder (Beyoncé, Taylor Swift). "Fuh You" é um hit instantâneo, digno de pop-rock de arena, mas sua simplicidade é tanta que soa muito menor que o talento do Beatle. Mesmo assim, o single acaba provando que McCartney faz pop comercial ainda melhor que a maioria.
Egypt Station é um presente aos fãs. Paul McCartney continua impressionando a indústria não apenas como um compositor que tem um baú infindável de boas melodias, mas como um músico que, aos 76 anos, nunca parou de evoluir. E fez isso muito bem.