Texto por: Daniel Dystyler, do Wikimetal
Quando eu tinha 16 anos, virei roadie do VIPER logo após a fundação da banda em 1985. Isso foi dois anos antes do lançamento do icônico álbum de estreia, Soldiers of Sunrise de 1987, cuja maioria das músicas (6 das 9 pra ser exato) foram escritas em 1985.
Um ano depois, em 1986, eu e os meninos do VIPER ouvimos pela 1a. vez, a banda alemã Helloween com seu autointitulado EP de estreia, e logo na sequência, conhecemos o lendário full álbum, Walls of Jericho, que nos presenteou com hinos eternos como "How Many Tears", "Heavy Metal (Is The Law)" e "Guardians".
Reparem que só tomamos conhecimento da existência dessa banda, meses depois das músicas do álbum de estreia do VIPER já terem sido compostas. Quando elas foram escritas, ninguém de nós tinha ouvido falar de Helloween.
É razoável também imaginar que, da mesma maneira, os alemães nunca tinham ouvido falar do VIPER, uma banda brasileira, do outro lado do planeta, formada por meninos de 13 a 17 anos, que não tinham disco gravado, numa época em que não existia internet.
Não obstante, depois que o VIPER ficou mais conhecido, algumas pessoas fizeram essa inferência: "Legal esse VIPER, hein… Parece Helloween, né?"
Ok, admito que "parece" no sentido que sim, ambas as bandas tocavam um som meio "revolucionário" para a época, eram bandas cujo idioma nativo não era o inglês, mas cantavam em inglês, num power metal com vocais melodiosos. O VIPER com Andre Matos, o Helloween com Kai Hansen e depois Michael Kiske.
Mas esse "parece Helloween" vai só até aí: Duas bandas de mesmo estilo de metal com músicas muito boas, amparadas por vocais de timbres agudos de grande alcance.
Mas não existem músicas realmente parecidas. Não existem sons que pudessem ser classificados como cópia, plágio ou até mesmo influência, uma vez que as bandas não se conheciam.
Ainda assim, várias pessoas faziam essa relação.
Por que estou falando isso?
Porque por conta disso (que era algo que me irritava profundamente por saber que não era verdade, que não existia influência alguma - inclusive anos depois, antes da gravação do Theatre of Fate, o principal compositor do VIPER, o gênio Pit Passarell, fazia questão de NÃO ouvir nada do Helloween pra não correr o risco de ser influenciado nem mesmo inconscientemente. Se estávamos num lugar, numa festa, num carro e começava a tocar Helloween, ele pedia pra sair pra não ouvir)... retomando a frase que ficou lá atrás por conta desses parênteses tão longos:
Porque por conta disso, passei a reparar muito nessa questão de músicas semelhantes e tentar analisar se seriam de fato, plágios (como existem vários casos), coincidências, homenagens, influências, ou simplesmente se somos nós, headbangers, procurando pelo em ovo. E existe uma lista infindável de casos assim.
Vou listar algumas dessas músicas aqui, porém como esse tema é muito subjetivo, deixo a avaliação final para cada leitor opinar e decidir, se as músicas podem ou não ter alguma correlação:
O primeiro caso é algo que eu nunca ouvi ninguém falar, então muito provavelmente trata-se apenas de algo que eu criei na minha cabeça, uma viagem totalmente minha. Vejamos:
O começo do refrão da música “Guardians” do Helloween tem a mesma melodia do começo do solo de “The Loneliness of the Long Distance Runner” do Iron Maiden.
Confiram e me falem se eu estou viajando, ou não. Aqui “Guardians” do Helloween (o refrão começa aos 1' 37"):
E aqui o clássico do Iron Maiden presente no Somewhere In Time (cujo solo começa aos 3' 25"):
Se esse é um caso mega desconhecido (e está tudo bem se você acha que as duas melodias acima não tem nada a ver uma com a outra), um dos casos mais conhecidos do dilema Plágio-Coincidência-Pelo-em-Ovo é entre a música "What To Do" da cantora Vanusa, e "Sabbath Bloody Sabbath" do Black Sabbath. Ambas foram lançadas em 1973, porém a da Vanusa saiu vários meses antes.
Em 2013, Vanusa disse não acreditar em plágio e considerou o ocorrido como uma coincidência musical. “Eu ouvi a canção deles pela primeira vez há dois anos e estava convencida de que eles não me copiaram nem que meus compositores plagiaram algo deles”, ela disse.
Todos os detalhes dessa similaridade podem ser vistos aqui e a comparação das 2 músicas no vídeo abaixo:
Nos últimos anos, vários casos surgiram, incluindo situações envolvendo "Stairway To Heaven" do Led Zeppelin, "Hallowed Be Thy Name" do Iron Maiden e "Living In a Ghost Town" dos Rolling Stones.
No caso do Led Zeppelin, a banda foi a julgamento e venceu o processo contra a banda Spirit, que acusava o Led de ter plagiado a música “Taurus”, de 1967,que pode ser ouvida aqui.
Já o caso de acusação de plágio por "Hallowed Be Thy Name" do Iron Maiden, obrigou a Donzela de Ferro a retirar por alguns meses a música que é uma das mais tradicionais do setlist ao vivo do Maiden. A banda Beckett alegava que o Iron copiou a frase “Mark my words believe my soul lives on / Don’t worry now that I have gone” da faixa “Life’s Shadow” que dizia “Others are glad to see him gone / Mark my words my soul lives on”.
Um acordo foi feito, o caso não foi pra frente e os fãs do Maiden puderam voltar a cantar "Yeah, yeah, yeah... Hallowed Be Thy Name" nos shows da banda inglesa.
Já a banda Opprobrium escreveu um texto dizendo que ama o Metallica e jamais o acusaria de plágio. Porém seu selo, Brutal Records, não hesitou em acusar James Hetfield, Lars Ulrich e turma ao dizer que eles plagiaram "Hunger For Power" do Opprobrium na recente faixa "Moth Into Flame" do álbum Hardwired… To Self-Destruct de 2017.
E as confusões não param. Duas semanas atrás, os Rolling Stones foram acusados de plágio por “Living In A Ghost Town”. O compositor argentino Sergio Garcia Fernandez afirmou que o single de 2020 se assemelha em partes com suas músicas “So Sorry” de 2006 e “Seed of God” de 2007.
Mas sem dúvida o maior gerador de confusão em relação a esse lance de plágios (ou não) é o genial (e temperamental e controverso) guitarrista do Deep Purple, Ritchie Blackmore.
São inúmeros os casos de riffs assinados por Blackmore que poderiam se enquadrar nessa categoria de "plágio, coincidência ou homenagem".
Começando com um dos casos mais impressionantes, não só porque envolve um dos riffs de rock mais famosos da história como também um clássico da Bossa Nova brasileira, “Maria Moita” de Carlos Lyra de 1964.
Vale a pena ouvir o comecinho das 2 músicas. Primeiro "Smoke On The Water", faixa presente no Machine Head de 1972:
E agora, “Maria Moita”, escrita quase 10 anos antes de "Smoke On The Water":
Seguindo na mesma linha, no álbum In Rock do Deep Purple (1970) temos "Black Night", que dá um match perfeito com “Summertime” de Ricky Nelson de 1962:
No ano seguinte, 1971, o Deep Purple lança seu álbum Fireball cuja faixa-título parece ser irmã gêmea da faixa "Rockstar" lançada no ano anterior, pela banda Warpigs:
Em 1924, meio século antes de Blackmore criar o incrível riff de “Burn” (1974) George Gershwin lançou “Fascinating Rhythm”. Confira a semelhança das 2 faixas aqui:
Todos esses casos e mais alguns outros envolvendo riffs de Ritchie Blackmore nos seus tempos de Deep Purple, foram resumidos e explicados em um único vídeo no canal do YouTube de Marco Antero que pode ser conferido aqui.
Para terminar, e voltando ao começo do meu texto, só mais uma pequena anedota dessas coincidências infelizes entre VIPER e Helloween e que mostra como é difícil julgar, sem ter conhecimento de todas as informações:
Em 1989, o VIPER escreveu uma música chamada "Crime". Ela deveria entrar no álbum Evolution, mas acabou sendo preterida e apareceu somente em 1993 no EP Vipera Sapiens. Entretanto a música já existia desde 1989, sendo tocada ao vivo (sem letra) com Andre Matos inventando palavras.
Pois bem, em 1991, o Helloween lançou uma música chamada "Living Ain’t No Crime" (vejam a coincidência: “Crime” versus “Living Ain’t No Crime”).
Como a do VIPER só saiu oficialmente 2 anos depois, em 1993, dá a impressão de ser mais uma dessas "inspirações" que o VIPER teve em cima de coisas do Helloween. Mas na verdade, a música já existia desde antes.
E o pior: Só depois soubemos que a do Helloween já existia desde 1988, mas nós só a conhecemos como parte da coletânea The Best, The Rest, The Rare anos depois.
Resumindo, é realmente difícil saber com acuracidade quando se trata de um plágio, uma coincidência, uma influência ou simplesmente alguém tentando achar o refrão de “Guardians” do Helloween no começo do solo de “The Loneliness of the Long Distance Runner” do Iron Maiden.
Possivelmente, eu também sou um dos headbangers que procura pelo em ovo. Mas vamos combinar que o Ritchie Blackmore tem coincidências demais na sua vida…
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Divulgação. Arte: Wikimetal
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