*texto por Larissa Catharine Oliveira
Guns N’ Roses surgiu no final dos anos 1980 e logo ganhou a alcunha de “banda mais perigosa do mundo”. Com um som sujo e pesado no hard rock, o grupo tinha um estilo de vida baseado em sexo, drogas, rock n’ roll e uma dose cavalar de sexismo nas letras e clipes.
Com Appetite For Destruction (1987), um álbum de estreia incendiário, o Guns N’ Roses chegou ao topo do mundo com os solos frenéticos de Slash e os vocais rasgados de Axl Rose, em tempos em que a indústria do rock era ainda mais dominada pelos homens e questionamentos sobre machismo não teriam espaço - e mesmo atualmente, esse assunto ainda não têm espaço para muitos fãs de rock, afinal, “garotos legais não fazem rock n’ roll”.
Atualmente, em uma sociedade na qual causas sociais como o feminismo possuem mais ferramentas para discutir pautas relevantes, até mesmo o icônico guitarrista da banda reconheceu o machismo de certas composições, apesar de considerar o conteúdo inofensivo. “Algumas das letras eram sexistas da sua própria maneira, mas não [eram] para ser levadas seriamente. Não acho que eram maliciosas nem nada assim”, disse Slash à Yahoo! Music em 2018.
Não são apenas as feministas que reclamam
No início dos anos 1990, a rixa entre Guns N’ Roses e Nirvana era de conhecimento público, com muitos fãs se dividindo entre um dos lados do conflito. Axl Rose chegou a ser fã da banda de grunge, estilo que causou grande impacto cultural e desestabilizou o reinado do hard e glam rock, e tentou uma amizade com Kurt Cobain, mas foi rejeitado e logo descobriu que o vocalista do Nirvana não gostava nem um pouco de sua postura de ostentação de carros, drogas e mulheres.
“Kurt e Nirvana tinham a preocupação de se diferenciar da cena comercial do rock and roll que estava em alta antes. Definitivamente, existia uma identidade de macho arrogante nessas bandas, completamente oposta à ideia de masculinidade e integridade que Kurt, Nirvana e bandas como Pearl Jam tinham na época”, explicou Danny Goldberg, ex-empresário do Nirvana, em entrevista à Yahoo (via RS).
Devemos cancelar o Guns N’ Roses, então?
Muitos fãs se revoltam com esse tipo de análise porque acreditam que se trata de uma tentativa de cancelar a banda ou manchar o legado do Guns N’ Roses, mas a proposta aqui está longe de ser essa. Como uma banda ainda em turnê, reunindo milhares de pessoas ao redor do mundo com essas mesmas músicas, e com destaque na cultura pop, é importante entender essas problemáticas e aprender com isso. Afinal, ninguém precisa aprovar tudo que um artista faz só porque gosta das músicas, certo?
Por isso, o Wikimetal se debruçou sobre as letras de quatro álbuns de estúdio da banda, de Appetite For Destruction (1987) até Use Your Illusion pt. 2 (1991), desconsiderando covers, e elegeu as seis músicas mais machistas e problemáticas da banda.
6. “Anything Goes”
Em “Anything Goes”, o Guns N’ Roses descreve uma aventura sexual um tanto selvagem, na qual “vale tudo” entre quatro paredes, mas a balança do prazer parece estar desequilibrada quando Axl compara a companheira a uma boneca sexual, preferindo objetificar a mulher do que tratá-la como uma parceira que também merece satisfação: “Amarrada na parede / Seja meu amor feito de borracha / E podemos fazer tudo isso”.
5. “You Could Be Mine”
Desde o começo, a letra de “You Could Be Mine” já estabelece uma relação abusiva e problemática: o narrador não tem interesse em respeitar a namorada ou melhorar o relacionamento, mas prefere humilhar a mulher em questão ao listar os motivos pelos quais ela jamais poderia ser a companheira dele.
“Sou um destruidor de corações frio / Feito para queimar, vou destroçar seu coração em dois / E vou te abandonar deitada na cama / Estarei do lado de fora antes de você acordar”, diz a letra logo no começo, com vários avisos de que a mulher não pode reclamar de seus atrasos ou da maneira que é tratada. No fim das contas, a música justifica (mais uma vez) as atitudes tóxicas do narrador com a suposta imoralidade da mulher em questão.
4. “One In a Million”
Apesar do foco do ranking ser em listar músicas do Guns N’ Roses com teor machista, é impossível não fazer uma menção desonrosa à problemática “One In a Million”, uma das letras mais controversas da banda por conter injúrias raciais, xenofóbicas e homofóbicas.
Em entrevista recente, Duff McKagan disse que essa faixa seria narrada por um personagem preconceituoso, mas que não revela as opiniões da banda. “Eu acho que é brilhante e super-corajoso do Axl sair e fazer isso [na letra]”, afirmou em 2019.
3. “Back Off Bitch”
Essa música é toda voltada para ordenar que uma mulher interesseira se afaste, com o refrão sugerindo que ela não passa de uma “vagabunda” e, por isso, seria merecedora de “morrer na sarjeta” por ter o "rosto de anjo com o amor de uma bruxa”. Com uma boa dose de deboche, a faixa finaliza com “Ei, o que vocês acham que ele está tentando dizer aqui? Acho que é algo que cada pessoa deve interpretar da própria maneira especial… Maldita vagabunda”.
Questionado pela Rolling Stone, em 1992, sobre a misoginia dessas músicas, Axl Rose confessou uma visão distorcida sobre mulheres. “Posso entender [quem considera misógino], porque o álbum acabou de sair. Mas essa música tem 10 anos de idade. Trabalhei muito e descobri que tinha muito ódio pelas mulheres”, contou ao falar sobre a infância de abusos pelo padrasto e a falta de ação da própria mãe em parar com as violências.
“Não acho que nossas músicas promovem que você deveria se sentir assim, se alguém entendeu isso, não está certo. Estamos dizendo que você tem permissão para sentir certas coisas. Agora, se você quer se manter em algo que sabe que é ruim, o problema é seu. Eu não quero”, continuou.
2. “Locomotive”
Aqui, o Guns N’ Roses descreve um relacionamento falido e abusivo, no qual o protagonista sente que está sendo rejeitado em suas tentativas de “proteger e não negligenciar” a mulher. “Você sabe que eu gostaria de te machucar / Mas minha consciência sempre me diz que não”, ameaça a letra em um trecho, sempre tentando culpar a mulher pelas fantasias de violência inadmissíveis do narrador.
Há ainda outras ameaças perturbadoras na letra, com Axl Rose cantando sobre o desejo de se vingar cortando o cabelo da mulher, algo comum em casos de violência após términos, quando os ex-parceiros buscam ceifar símbolos da feminilidade das antigas companheiras. “Você sabe que eu gostaria de raspar sua cabeça / E todos os meus amigos poderiam pintá-la de vermelho”, diz a música.
1. “It’s So Easy”
A faixa aborda as facilidades proporcionadas pela fama quando o assunto é sexo, em referência às filas de groupies que aguardavam pela banda nos bastidores dos shows e em como tudo se torna fácil quando “todo mundo quer me agradar”.
Mas a forma que a música escolhe para falar dessas mulheres é bem desumanizante: “Vire-se, vadia, eu tenho um uso para você / Além do mais, você não tem nada melhor para fazer / E estou entediado”, diz um trecho.
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