A manhã dos indicados ao Oscar 2023 chegou, passou, e nós ainda estamos digerindo a lista liberada pela Academia. Enquanto a espera para conhecer os vencedores (em cerimônia no dia 12 de março) começa, separamos algumas indicações que foram particularmente surpreendentes para nós - e tentamos te contar como foi que elas acabaram acontecendo. Vamos lá!
Todos oscarizados no front
Apesar de ter sido líder de indicações ao BAFTA 2023, o prêmio máximo da indústria cinematográfica britânica, este épico de guerra produzido na Alemanha tinha aquela aura de produção europeia que “morreria na praia” no Oscar.
Não foi o caso: com nove indicações, Nada de Novo no Front foi o segundo filme mais lembrado da lista da Academia, atrás apenas do favoritíssimo Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo. A indicação em melhor filme internacional até era esperada, mas a dominação do longa nas categorias técnicas (efeitos visuais, trilha sonora, som, cabelo & maquiagem, fotografia, design de produção), além das lembranças em melhor roteiro adaptado e melhor filme, foram surpreendentes.
Aqui, apostamos no efeito Netflix para explicar o sucesso de Nada de Novo no Front, uma vez que a plataforma tem o costume de popularizar produções fora do eixo EUA-Reino Unido - mesmo sem investir o bastante na divulgação.
Triângulo da alegria
A longa jornada entre vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes e emplacar uma indicação ao Oscar de melhor filme não é fácil, e Triângulo da Tristeza certamente não parecia um dos longas que seriam capazes de realizar este feito. Com seu estilo satírico e escatológico, o sueco Ruben Östlund tampouco leva jeito de vencedor do Oscar, então o que fez a sua nova obra a receber três indicações ao prêmio (melhor filme, melhor roteiro original, melhor direção)?
Bom, a campanha competente empreendida pela distribuidora americana NEON ajudou, assim como o status do filme como coprodução internacional, que inclui no elenco astros do cinema anglófono como Woody Harrelson e Harris Dickinson. Por fim, a ampliação do corpo de votantes da Academia para incorporar talentos não-hollywoodianos também tem muito a ver com isso, é claro.
Paul & Stephanie na força do prestígio
De Brendan Fraser por A Baleia a Angela Bassett por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, as indicações de atuação do Oscar 2023 soaram largamente como repeteco de premiações anteriores da temporada, como o Globo de Ouro e o SAG Awards. Duas exceções importantes dessa tendência são Paul Mescal, que foi reconhecido como melhor ator por Aftersun, e Stephanie Hsu, que apareceu na lista de melhor atriz coadjuvante por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo.
Os dois tinham a aprovação da crítica, é claro, mas apareceram muito esporadicamente nas premiações que são consideradas “aquecimento” para o Oscar. A entrada de Hsu explica-se muito pela empolgação com Tudo em Todo o Lugar, que foi ainda melhor do que o esperado no Oscar 2023 - falamos melhor disso abaixo. Mas tanto a presença dela quanto a de Mescal indicam também que o corpo votante mais diverso que a Academia vem cultivando abre espaço para indicações que refletem menos um consenso da indústria e mais determinados gostos de nicho.
A campanha curiosa de Andrea Riseborough
Se há um nome na lista de atores indicados ao Oscar 2023 que deve causar estranhamento na maioria do público, é o de Andrea Riseborough. A atriz britânica, apesar de papéis em filmes de sucesso como Oblivion e Mandy: Sede de Vingança, não é um nome estabelecido na indústria - e o filme que levou à sua indicação, To Leslie, foi lançado nos EUA em circuito limitado, em outubro de 2022, quando arrecadou míseros US$ 27 mil nas bilheterias.
Como, então, ela veio parar aqui? A resposta está na apreciação de colegas atrizes, incluindo as oscarizadas Cate Blanchett (que citou a performance de Andrea como uma das melhores do ano em seu discurso de vitória no Critics Choice Awards), Kate Winslet (que moderou uma exibição especial do filme e disse que a atuação da colega é “uma das melhores que já viu na vida”), Gwyneth Paltrow (cujo post no Instagram foi um dos trampolins da campanha “raiz” pela indicação de Riseborough) e muitas, muitas outras.
Vale lembrar que quem vota no Oscar são os profissionais da indústria, e que esse tipo de campanha "espontânea", sem grande apoio dos estúdios, já funcionou antes para Mark Rylance (Ponte dos Espiões), Melissa Leo (O Lutador) e Sally Kirkland (Anna).
O ladrão de cena Judd Hirsch
Se você precisasse apostar em apenas um ator coadjuvante de Os Fabelmans para emplacar uma indicação ao Oscar 2023, eu diria para você apostar em Paul Dano. Olhe a lista de lembranças do filme em premiações no IMDb e você vai encontrar o nome de Dano muito mais do que o de Judd Hirsch - isso sem contar que Dano tem muito mais tempo de tela como o pai do protagonista Sammy (Gabriel LaBelle) do que Hirsch, que vive um tio distante do jovem cineasta que o visita brevemente durante a adolescência.
Embora performances curtinhas, de uma ou duas cenas, já tenham emplacado no Oscar antes (vide Viola Davis em Dúvida, ou a recordista Beatrice Straight em Rede de Intrigas), a concorrência direta com Dano no mesmo filme poderia ter tirado Hirsch da disputa. Acontece que, aos 87 anos, o ator de filmes como Independence Day e séries como Taxi ganhou o voto “de legado” da Academia, que escolheu reconhecê-lo até mais pelo conjunto da obra do que pela (excelente) performance.
Tudo em Todo o Lugar (até nos técnicos)
Que Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo seria uma das grandes figuras do Oscar 2023 era uma bola que a gente já cantava desde junho do ano passado, quando o filme saiu nos cinemas por aqui. Mesmo assim, as 11 indicações (repetindo: ONZE!) surpreenderam, principalmente pela penetração do filme nas categorias técnicas: melhor trilha sonora, melhor figurino, melhor montagem, melhor canção original… em nenhuma dessas Tudo em Todo o Lugar era visto como favorito.
O que explica essa onipresença do filme é bem simples: os votantes da Academia realmente amaram Tudo em Todo o Lugar, que ainda contou com uma campanha forte, mas bem simples, da A24 - o único trabalho da produtora era se certificar que o lançamento no primeiro semestre de 2022 não significasse que o filme estaria esquecido na hora das votações do Oscar. É bacana pensar que, mesmo em tempos cínicos como os nossos, às vezes é o puro amor por um filme que vence a corrida do Oscar.