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Rock in Rio 2022: erros e acertos do festival e resumo do Dia do Metal

Dia do Metal foi marcado por muitos erros e acertos da organização do Rock in Rio e aqui explicamos cada um deles

08.09.2022, às 17H11.

Texto por Erica Y Roumieh

Em sua nona edição no Brasil, o Rock in Rio levantou mais uma vez a conhecida discussão: por que o festival ainda se chama Rock in Rio se de rock já não tem mais quase nada? Por que são sempre as mesmas bandas a virem? Esse tema foi discutido em nossa última coluna, em que Gabriela Marqueti elencou alguns dos motivos pelos quais o rock e especialmente o metal estão sendo deixados de lado pela organização do evento.

O festival, desde sua primeira edição em 1985, foi questionado sobre o “rock” em seu nome, quando sempre trouxe artistas de outros gêneros musicais. Na estreia, o festival trouxe, além de Iron Maiden e Ozzy Osbourne, Ivan Lins e Pepeu Gomes, por exemplo. Essa discussão não vai muito longe, já que o festival sempre terá esse nome e carregará essa pluralidade de estilos - visto que até hoje traz em sua programação dias dedicados a gêneros específicos como o Dia do Pop, o Dia do Rock e o Dia do Metal.

O Dia do Metal da edição de 2022 aconteceu na última sexta-feira, 02 de setembro, e o tema da repetição dos nomes apareceu mais uma vez. O dia trouxe Black Pantera com participação do Devotos, Metal Allegiance, Living Colour com presença de Steve Vai e Bullet For My Valentine no Palco Sunset. No Palco Mundo tivemos Sepultura com a Orquestra Sinfônica Brasileira, Gojira, Iron Maiden e Dream Theater. O lineup, como comentado na última coluna, traz nomes repetidos, o que pode parecer um desleixo da organização, além dos horários de cada atração que podem ser debatidos.

Erros do Rock in Rio

O Rock in Rio acertou em muitas coisas no Dia do Metal (abordamos isso mais adiante), mas infelizmente também cometeu muitos erros. Muito se fala da pouca variedade de nomes do metal na programação, visto que algumas bandas como Guns N’ Roses, Iron Maiden e os brasileiros do Capital Inicial já tocaram, somados, 17 vezes no festival. A frustração é compreensível, pois os fãs querem a oportunidade de assistir bandas diferentes em solo brasileiro. Ao mesmo tempo, o Dia do Metal continua a lotar e a ser destaque no evento. Isso, claro, é conquistado pela escolha de bandas que sempre foram bem recebidas no festival - causando a repetição - ou estão sendo cotadas para shows no país - como Gojira ou aquelas que já vieram e tiveram shows bem sucedidos aqui como Bullet For My Valentine.

Um segundo erro cometido na edição de 2022 é a escolha de dias. O Metal foi colocado em uma sexta-feira útil e o Dia do Rock em uma quinta-feira, enquanto o Dia do Pop ficou confortavelmente no final de semana. A dificuldade em assistir a um festival em dia de semana é complexo por si só, mas só piora quando o público, em sua maior parte, não mora na cidade que receberá o evento. Planejar uma viagem para o Rio de Janeiro em dia útil pode ser impossível para muitos, levando vários fãs de metal a torcerem para que esses artistas se apresentem em outras cidades também.

Ultrapassada a dificuldade de chegar à Cidade do Rock em um dia útil para assistir às mesmas bandas de uma edição passada, o público ainda se depara com um terceiro erro da organização: sets marcados para horários difíceis de conseguir um público grande - até mesmo na transmissão. Bandas em ascensão como Black Pantera tocando às 15h em uma sexta-feira podem dar a impressão de descaso, já que dificulta que a música do grupo alcance novos fãs. Ou pior, uma junção de horário ruim com palco pequeno. Uma banda grande em sua importância para a cena nacional como a Crypta é deixada para tocar às 16h30 em um palco que sequer tem transmissão pelos canais oficiais do evento. Sioux66 foi outra que sofreu com esse descaso e tocou às 15h no Rock District. Tivemos outras bandas que pareceram desfavorecidas na distribuição de palco como o Surra, Matanza Ritual e Ratos de Porão, esse último especialmente. Todos se apresentaram no Supernova, um palco incrivelmente pequeno para a história de cada uma dessas bandas e, ainda por cima, sem transmissão ao vivo. Aqueles que julgaram que houve descaso da organização com o metal, aqui estão cobertos de razão. Como vamos alavancar bandas nacionais quando nós mesmos não temos a oportunidade de assistí-las?

Acertos do Rock in Rio e resumo do Dia do Metal

A presença de Black Pantera, um nome que tem crescido exponencialmente, foi um grande acerto do Rock in Rio. O grupo ainda recebeu no palco seus ídolos do Devotos, grupo respeitado no punk rock. Apesar do péssimo horário, aqueles que conseguiram chegar a tempo na Cidade do Rock para assistir essa combinação explosiva, receberam as bandas com o fervor que elas merecem. Entre rodas (incluindo rodas feitas exclusivamente por mulheres), o show representou, além da música boa, um ato político e de resistência. Os corpos pretos, que nessa sociedade são apagados, marginalizados, excluídos e assassinados, ocuparam o segundo maior palco de um dos maiores festivais do mundo. A potência que o show carregou não será apagada.

Apesar da ausência de nomes femininos na programação - nenhuma banda tinha sequer integrantes mulheres, com exceção da Orquestra Sinfônica Brasileira -, a presença de minorias se intensificou com o Living Colour, que além de trazer um show político, assim como Black Pantera, também ressaltou a democracia e relembrou a perda de Marielle Franco. Esses atos políticos, comuns no rock e metal, foram bem representados em um espaço conhecido por sua falta de representatividade.

É inegável que o mundo do rock, e especialmente do metal, pode falhar muito com a sua própria falta de representatividade. Ao mesmo tempo, este é um gênero que acolhe aqueles que muitas vezes são deixados de lado pela sociedade, sendo até excluídos e criticados, como os nerds, os estranhos, os timidos e os diferentes. E esses também tiveram seu espaço no Dia do Metal. Ao incluir a banda galesa Bullet For My Valentine como headliner do Palco Sunset, vemos que, de uma forma ou de outra, a cena é incentivada a se manter viva. O grupo tem pouco mais de 20 anos de estrada, o que para outros gêneros musicais pode ser bastante. Mas no metal, um gênero que coloca bandas clássicas como Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica e Judas Priest em um Olimpo, um grupo de 20 anos ter o espaço que o Bullet teve no festival deve ser celebrado.

No Palco Mundo vimos Sepultura mostrando que o metal não tem fronteiras ao se apresentar com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Entre clássicos e canções novas da discografia do grupo, obras de Beethoven e Vivaldi foram tocadas com perfeição pela Orquestra, enquanto Sepultura a acompanhava, mostrando que os riffs de Andreas Kisser e a bateria de Eloy Casagrande são capazes de levar o metal para patamares ainda não conhecidos.

O slot que receberia Megadeth, outra clássica banda que já pisou na Cidade do Rock em 1991, precisou passar por mudanças após o cancelamento do grupo - pela segunda vez, já que a banda não conseguiu vir ao festival de 2019 após o diagnóstico de câncer do vocalista Dave Mustaine. Megadeth então abriu espaço para outra banda com pouco mais de duas décadas de estrada, o Gojira. Essa mudança decepcionou muitos, mas abriu espaço para os fãs de um metal mais político e (relativamente) novo.

Então veio o headliner que todos esperavam, o Iron Maiden. Muito se ouviu sobre a falta de criatividade em chamar os britânicos para tocar no evento pela quinta vez. Porém, quem estava lá sentia que era a banda mais esperada do evento. “A maioria do público, a julgar pelas camisetas, foi mesmo para ver o Iron Maiden”, conta Gui Beck, repórter presente no evento para fazer a cobertura do Wikimetal.

E aqui voltamos a um dos pontos mais relevantes quando discutimos metal no Rock in Rio. A repetição de bandas pode parecer descaso ou simplesmente preguiça na hora de planejar o Dia do Metal. Essas são reclamações válidas, pois para quem vê de fora, realmente é difícil não pensar o mesmo. Porém, o que há de errado em convidar a banda que todos querem ver? Fãs de metal e de Iron Maiden colecionam shows da Donzela de Ferro. Qual é o erro em chamá-los mais uma vez para estes fãs poderem completar mais um nível na escala de fã? E temos que lembrar que sempre vão existir fãs de Maiden que nunca os viram ao vivo, seja por falta de oportunidade, seja porque são fãs novos. E há aqueles fãs que veem no Rock in Rio uma oportunidade de levar a família para aproveitar o show. "Eu percebi que era um pessoal mais velho, que era um pessoal mais adulto e bastante família. Vi bastante criança lá também. E acho que é um lugar super seguro e super família mesmo”, contou Gabrielly Russo, jornalista de 26 anos que foi com sua família, apesar de não ser fã de metal.

O Dia do Metal se encerrou com Dream Theater, que apesar de não ser headliner, trocou o horário com Maiden. Apesar de ter sido um show mais morno, tanto pela busca menor dos fãs quanto pelo horário, a multidão não se deixou desanimar e curtiu fervorosamente o show.

Saldo do Rock in Rio 2022

Com todos os erros e acertos, fãs lotaram a Cidade do Rock para curtir suas bandas preferidas e conhecer bandas novas. Gabrielly, que gostaria de ter ido no Dia do Pop, acompanhou seu padrinho no festival e se surpreendeu com o evento e com o gênero que não conhecia: “Foi a minha primeira experiência como espectadora do Rock In Rio. Era um sonho ir nesse festival. E eu fui no primeiro dia de Rock In Rio, que apesar de não ser o tipo musical que eu sou fã, foi uma experiência incrível. Eu voltei completamente apaixonada pelo show do Sepultura com a Orquestra Sinfônica. Pra mim foi o ápice, o melhor de todos.”

Seu padrinho, Ricardo Seixas Júnior, de 45 anos, é um grande fã de metal e desde criança acompanhou o Rock in Rio. Quando foi ao festival pela primeira vez, logo entendeu a proposta de trazer artistas de gêneros diferentes, apesar do nome. “Desde que me conheço por gente frequento shows, principalmente na do final dos anos 1990, começo de 2000. E Rock in Rio era o ápice desses shows, um festival de grande porte, de sempre ter o apelo de trazer bandas consagradas mundialmente (…) Naquela época foi uma abertura de portas para grandes bandas incluírem em suas turnês o Brasil e de promover bandas que estavam aflorando no Brasil ou já estavam no auge do rock nacional. Sempre, desde o começo, deu espaço para artistas que não eram do rock.”

Ricardo lembra que o Rock in Rio sempre recebeu artistas como Sandy & Junior e Ivete Sangalo e nunca se incomodou com isso, já que aprecia a pluralidade do evento. “Sempre encarei isso como uma forma de promover e trazer pessoas, alcançar outras tribos e não só as roqueiras.” Sobre a edição de 2022, ele acredita que abrir o festival com o Dia do Metal é algo louvável e que ir aos outros dias do evento, nos abre a novas experiências.

Além da própria pluralidade entre os dias, a presença de variáveis do metal atraiu também os fãs do gênero. Gui comenta que o que mais lhe chamou atenção no Dia do Metal foi que “dentro do primeiro dia especificamente foi a diversidade de estilos de ‘rock mais pesado’ que foram bem acomodados embaixo do guarda-chuva deste dia.”

Apesar dos erros da organização (data, horários e distribuição de palcos), as experiências, de fãs e não fãs de metal, foram positivas na edição de 2022. Os acertos (escolha de bandas, insistência em bandas certeiras em encher a Cidade do Rock) parecem ter se sobressaído. Claro que inovação é sempre bem-vinda, mas se o festival consegue montar uma edição que atraia público e ele se sente gratificado em ir ao evento, o que poderia estar errado?

PARA OUVIR

No último episódio do podcast do Wikimetal, a redação se reuniu para compartilhar sua visão pessoal sobre o tributo ao Pantera, que está sendo chamado de reunião. O grupo é uma das atrações confirmadas no Knotfest Brasil, que acontece em dezembro deste ano, em São Paulo. A reunião tributo da banda conta com os dois integrantes remanescentes – Phil Anselmo e Rex Brown – e causa muitas polêmicas, que são debatidas no podcast Wikimetal.

Além disso, a equipe debate sobre o deplorável caso de saudação nazista e grito de supremacia branca de Phil Anselmo há alguns anos, a opinião de quem acompanha o site e mais.

No episódio, você também recebe as recomendações musicais do mês. Nos assista pelo YouTube ou ouça através do Spotify.

WIKIMETAL RECOMENDA

O duo The Puro, formado por Noel Hogan, guitarrista do The Cranberries, e a cantora brasileira Mell Peck, lançou no último dia 19 de agosto, o segundo single do projeto, chamado “Goodbye”, pelo selo ForMusic Records.

A canção sucede “Prison”, que ganhou uma versão em português chamada “Prisão”, e combina os arranjos e guitarras cativantes de Noel com vocais emocionantes de Mell, coroando a produção com um refrão explosivo.

Em dois anos, o trabalho conjunto aconteceu apenas de forma remota, período no qual Noel Hogan e Mell Peck já escreveram dezenas de músicas juntos. A dupla planeja lançar um EP ainda esse ano, além de uma vinda de Noel para o Brasil.  

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