No final de And Just Like That…, o aguardado revival de Sex and the City, Miranda (Cynthia Nixon) traz um questionamento para Carrie (Sarah Jessica Parker): “Eu não posso mudar um pouco? Ou muito? Eu tenho sempre que seguir as mesmas regras rígidas?”. É um momento que soa como uma resposta antecipada do showrunner Michael Patrick King às críticas que a nova série tem enfrentado – particularmente, no que diz respeito à trama da advogada. O problema do revival, no entanto, está muito menos nas mudanças de suas protagonistas do que na forma como elas foram conduzidas pelo roteiro.
Mudar, afinal, é natural – e seria até injusto esperar que Carrie, Miranda e Charlotte (Kristin Davis) fossem, aos 50 e poucos, exatamente as mesmas mulheres que conhecemos quando elas estavam na casa dos 30, na Nova York da virada do milênio. A trama de And Just Like That…, no entanto, tropeçou em irregularidades que tornaram essa jornada mais difícil, embora tenha conseguido se encontrar na reta final.
O aspecto em que a série se complicou, notadamente, foi em seus esforços de atualização. Corrigindo uma falha da original, And Just Like That… cercou seu trio protagonista de personagens não-brancas e trouxe questões como identidade de gênero e orientação sexual. Embora bem-intencionada, a iniciativa não foi exatamente bem-sucedida: o texto deixou de lado qualquer naturalidade para tratar dessas questões e ainda falhou ao desenvolver as recém-chegadas para além dos estereótipos – sendo Che (Sara Ramirez), pessoa não-binária e chefe de Carrie, o pior exemplo disso. A exceção é Seema (Sarita Choudhury), cujo glamour e diálogos afiados a colocam como uma boa sucessora de Samantha (Kim Cattrall).
A construção da trama ainda foi inconstante em muitos momentos, evidenciando, também, problemas de montagem. Assuntos foram largados abruptamente, e momentos que, em tese, deveriam ter continuidade, foram esquecidos. É o caso, por exemplo, de uma sequência em que uma personagem anuncia que irá surpreender outra. O público deduz que a surpresa deu certo pelos acontecimentos seguintes, mas ela nunca mais é mencionada.
A boa surpresa de And Just Like That… foi a proposta de trocar a comédia de Sex and the City pelo drama. A série patinou ao tentar encontrar o tom certo para [leve spoiler adiante] lidar com a morte de Big (Chris Noth), mas se recuperou ao tratar do luto com sensibilidade ao acompanhar a jornada de Carrie para reorganizar sua vida, com tudo o que isso pressupõe. A história também reservou momentos tocantes para Charlotte, Miranda, e até Steve (David Eigenberg).
Samantha, claro, fez muita falta. Sua personalidade vibrante traria à trama uma leveza que ajudaria a equilibrar as tensões da trama; mas a solução de King para incluir a personagem, em doses homeopáticas, não só funcionou bem, como ainda resultou em um dos momentos mais emocionantes da temporada (mas não, Kim Cattrall não irá voltar, como já confirmou o criador).
Em seu equilíbrio delicado entre passado e presente, And Just Like That… se tornou uma das minisséries mais divisivas do passado recente, o que atesta, principalmente, o amor por suas personagens e pelo universo criado, lá atrás, por Darren Starr. O reencontro foi atribulado e cheio de altos e baixos (e escatologias desnecessárias), mas, no fim, a sensação continua sendo a de rever uma velha amiga: parece que vocês não passaram um dia sem se falar, e você mal pode esperar o próximo brunch.