Dramas médicos deixaram de ser novidade na cultura pop há muito tempo. Depois do sucesso avassalador de ER (Plantão Médico) entre os anos 1990 e 2000, a fórmula foi replicada inúmeras vezes, sendo Grey’s Anatomy o seu principal expoente nas últimas décadas. Entre séries derivadas e novas apostas, com House se destacando por misturar o dia a dia no hospital com diagnósticos envolvidos em suspense, quase nada de novo foi adicionado ao formato. É por isso que The Pitt, nova série médica da HBO, soa como um respiro fora do padrão.
Para os que amam este tipo de série, não se enganem: The Pitt está longe de reinventar a roda. A prévia mostra a rotina de um grupo de médicos e enfermeiros que trabalham no pronto-socorro de um hospital de Pittsburgh, nos EUA, enquanto tentam salvar vidas. A premissa semelhante à de ER, inclusive, não é mera coincidência. A equipe criativa por trás da nova aposta da Max é liderada por R. Scott Gemmill, que trabalhou como produtor no antigo hit da NBC ao lado de John Wells, que também retorna à função em The Pitt. Encabeçando o elenco temos Noah Wyle, membro do elenco original de ER e que se tornou um ícone da TV norte-americana.
Para fugir da armadilha de parecer mais do mesmo, a equipe de The Pitt uniu a fórmula de ER com outro grande sucesso da TV dos EUA: 24 Horas. Entre 2001 e 2010, milhões de pessoas acompanharam o agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland) enfrentando terroristas de todos os tipos enquanto tinha apenas 24 Horas para acabar com a ameaça da vez. Cada episódio representava uma hora da vida do protagonista, e é exatamente este formato que a nova série da Max toma para si para retratar os eventos de um plantão de 15 horas - em 15 episódios - da equipe de médicos liderada pelo doutor Michael “Robby” Robinavitch (Wyle).
Para se descolar de séries mais atuais, The Pitt é o primeiro drama médico desde ER a priorizar medicina ao melodrama. Em um ritmo frenético, Robby e sua equipe precisam enfrentar o baixo orçamento e a superlotação do pronto-socorro do hospital para resolver questões nas quais qualquer erro pode ser fatal. A prioridade aqui não é o romance entre o chefe da equipe e a nova residente, mas sim os profissionais que se desdobram com muito pouco para que seu paciente não morra.
De certa forma, The Pitt funciona como uma evolução natural do que seria ER nos dias de hoje. Por mais que não seja um reboot ou revival de fato, muito do que vemos ali foi embrionário no fenômeno criado por Michael Crichton - que, não por acaso, resultou em disputas legais entre a Warner Bros. e a família de Crichton. Mas enquanto a antecessora também explorava narrativas que se passavam entre dias, semanas e meses, The Pitt puxa de 24 Horas sua adrenalina pulsante, na qual toda ação tem consequência quase imediata.
Apesar de um começo devagar para apresentar seus personagens ao público, The Pitt logo entra no ritmo para nunca parar. A sensação é de estarmos nas trincheiras ao lado de Robby, que além de salvar vidas, ainda precisa se preocupar com questões burocráticas que afetam diretamente as estruturas de seu trabalho. Com tanta responsabilidade, o protagonista de Wyle se torna um espelho da carga psicológica com a qual tantos médicos precisam lidar diariamente. Para escalar ainda mais a situação, a trama começa no aniversário de morte de seu antigo mentor, que faleceu no início da pandemia de Covid-19 e virou um grande trauma em sua vida.
Conforme o plantão avança, The Pitt usa seus respiros para se aprofundar mais na equipe de Robby. O grupo de residentes é formado por Collins (Tracy Ifeachor), que rapidamente descobrimos que está grávida; o sarcástico e brilhante Langdon (Patrick Ball); Mohan (Supriya Ganesh), a queridinha dos pacientes; e a mãe solteira McKay (Fiona Dourif), cujo passado problemático é explorado a conta gotas durante a temporada. Eles servem como professores dos estudantes de medicina que têm no turno comandado por Robby a sua primeira experiência em um PS, o que resulta em conflitos, brigas de ego, erros e acertos.
Da dor de perder seu primeiro paciente à responsabilidade de noticiar a morte de um filho adolescente aos pais, The Pitt é um drama médico incansável cujo única falha é não sustentar o ritmo quando um caso menos interessante entra em jogo. Mas para quem já está exausto de um melodrama nos moldes de Grey’s Anatomy, a nova série é um escape delicioso para o gênero.
Criado por: R. Scott Gemmill