Ewan McGregor vem chamando a atenção das premiações por sua atuação em Halston, minissérie da Netflix pela qual ganhou o Emmy 2021. Nada mais justo: o ator é a alma da produção, que busca recuperar a história de um esquecido ícone da moda americana, embora nem sempre seja bem-sucedida nisso.
O ícone em questão é Roy Halston Frowick, estilista que ganhou notoriedade confeccionando chapéus para mulheres como a atriz Kim Novak e a primeira-dama Jackie Kennedy. Dos chapéus, Halston partiu para coleções de alta costura, criando visuais icônicos e marcantes nos anos 1960 e 1970. No entanto, uma história pessoal de vícios e uma série de decisões comerciais questionáveis terminaram por diluir o valor de sua marca.
A história de Halston é uma clássica trama de ascensão e queda – um material rico que, em outras mãos, receberia um tratamento polido, com nuances e camadas. A minissérie da Netflix, porém, parece mais interessada em fazer um grande resumo da vida de Halston, em vez de realmente se aprofundar em quem foi o estilista.
Ao longo de cinco episódios, a produção assinada por Ryan Murphy ao lado de seu colaborador Ian Brennan e do dramaturgo Sharr White se mostra pouco interessada em mostrar o que, de fato, tornava Halston tão especial e o diferenciava de outros renomados estilistas de sua geração, como o muitas vezes mencionado Calvin Klein. Há apenas relances de seu processo criativo e de suas colaborações com outros ícones da moda, como Elsa Peretti. Mesmo tratamento é dado ao passado do estilista antes da fama, revelado rapidamente em flashbacks sobre sua infância com um pai abusivo.
Mesmo os aspectos mais extravagantes e escandalosos da biografia de Halston são tratados de forma burocrática na produção. Há pouco brilho nas cenas que visam capturar a aura do mítico Studio 54 de Nova York, e a amizade do estilista com Liza Minelli (Krysta Rodriguez) pouco tem espaço para sair do superficial, apesar do carisma da personagem.
Seguindo outras produções de Murphy para a Netflix, Halston tem um visual apurado, com figurinos e direção de arte bem trabalhados. E a discussão que a série traz sobre o relacionamento complicado entre arte e negócios é instigante e interessante, especialmente à vista do contrato multimilionário que Murphy assinou anos atrás com a plataforma de streaming – o poderoso roteirista e produtor, um dos mais prolíficos da indústria, deve ter sua própria cota de reflexões sobre o tema.
Mas o elemento que consegue realmente elevar a produção é a dedicação de Ewan McGregor. O ator britânico incorpora os trejeitos e maneirismos do estilista e consegue trazer emoção e profundidade ao personagem mesmo quando não é ajudado pelo roteiro. Seu Halston é vulnerável e sensível mesmo atrás de seu sarcasmo, e sua atuação faz valer a visita à produção.