Duas Olívias, dois Walters e apenas um Peter entre dois mundos divididos pelo rancor. No final do 2º ano de Fringe, a série - que sabiamente abandonou o esquema de casos semanais não relacionados à mitologia para investir no arco central - começou a expandir seu universo, plantando as sementes que dariam origem à aclamada 3ª temporada.
Fringe
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Na segunda Season Finale dividida em duas partes, foi possível ver melhor a vida no Lado B e as consequências trágicas trazidas pelo surgimento dos vórtices, ao mesmo tempo em que Walter e Olívia tentavam reencontrar Peter para trazê-lo de volta. Apesar de toda a tensão surgida do encontro entre os dopplegangers, o plano teria sido perfeito, não fosse por um detalhe: a troca das Olívias.
A partir daí foram meses de expectativa até a próxima Season Premiere. A espera valeu a pena. A terceira temporada – sob o comando de Joel Wyman e Jeff Pinkner - veio para consolidar as intenções dos roteiristas e costurar a trama de forma exemplar, ligando os elementos aparentemente dispersos entre as duas anteriores. Os episódios vieram numa crescente. Semana após semana os fãs percebiam as conexões, descobriam referências, caçavam os famosos “easter eggs”, desvendavam Glyph Codes e criavam centenas de teorias sobre o futuro dos personagens.
Assistir a Fringe virou um exercício de curiosidade e por isso, os amantes da ficção científica de qualidade se apegaram à série de forma definitiva. Curiosamente, enquanto a movimentação nos fóruns e os intensos debates gerados pela produção cresciam, os índices de audiência chegavam a níveis críticos. A coisa ficou tão feia que a FOX, ao anunciar sua programação para a Mid-Season 2011 nos Estados Unidos, decidiu retirar Fringe das quintas e colocá-la em exibição às sextas-feiras.
A essa altura, o público que já estava inseguro e apavorado com a possibilidade de um cancelamento, ficou ainda mais temeroso, afinal, é sabido que as “sextas-feiras negras” da FOX são uma espécie de exílio, onde as produções (especialmente as de sci-fi) são deixadas antes de morrer. O mesmo já havia acontecido com ícones como Firefly (2003) ou Dollhouse e Terminator: The Sarah Connor Chronicles, para citar exemplos mais próximos e por mais que o canal tenha investido em vídeos promocionais que deveriam tranquilizar os espectadores fiéis, nada disso surtiu efeito.
Mas a notícia mobilizou ainda mais os fãs, que desde o inicio do ano, sabendo das quedas em audiência, já se movimentavam pelas redes sociais, repassando abaixo-assinados e fazendo campanhas que chamassem a atenção da emissora, mostrando que Fringe tinha seguidores no mundo todo e que a série merecia pelo menos mais uma temporada. Os brasileiros não ficaram de fora. Por diversas vezes emplacaram a hashtag #SaveFringe nos Trending Topics Brasil. Foram muitas semanas de movimentação, mas ainda assim, a FOX não dava qualquer parecer oficial.
Quando Fringe alcançou sua mais baixa audiência desde a estréia, com "Stowaway" (3.8 milhões de espectadores), as esperanças estavam quase esgotadas. Faltavam apenas cinco episódios até o fechamento da temporada e todos já temiam um final sem resoluções das questões fundamentais.
No entanto, dias depois, em 24 de março, Joel Wyman, um dos showrunners da série, anunciou em seu twitter a tão esperada renovação. Para transformar a ótima notícia em algo excelente, a temporada completa, com 22 episódios também fora confirmada, fazendo a alegria dos fãs.
A partir daí, aquela angústia que muitos compartilhavam ao final de cada episódio e a cada nova camada desvendada pela trama, acabou. Só quem é fã entende. Havia um medo generalizado de que Fringe pudesse terminar sem explicação, deixando arestas e as apavorantes perguntas sem respostas, trauma adquirido pela maioria desde o final de Lost, série que também foi criada por J.J. Abrams.
Com a certeza de que a produção teria pelo menos mais um ano para completar sua história, foi fácil aproveitar episódios como "Lisergic Acid Diethylamide", um dos melhores da temporada, que misturou brilhantemente sonhos, desenhos animados, zumbis e muito humor. Vale lembrar também de "Marionette", um dos mais bem executados do ano e favorito entre a equipe da série.
O fechamento da temporada veio em três partes bastante intensas e cheias de conceitos científicos elaborados, o que ainda causa certa confusão, mesmo que todas as teorias utilizadas tenham sido diluídas ao longo da série como um todo. Foi uma verdadeira explosão de cabeças, que brincou com a relatividade do tempo, nos mostrou uma breve visão do futuro e do juízo final, revelou quem são as Primeiras Pessoas e juntou dois universos em um ponto comum, onde o destino das humanidades deve ser consertado num esforço conjunto entre duas Olívias e dois Walters, mas sem nenhum Peter, simplesmente, porque ele nunca existiu.
A evolução da série, em todos os sentidos, foi impressionante. É lógico que há quem discorde, mas Anna Torv fez um trabalho muito bom interpretando não apenas as sutilezas entre Olívia e Bolívia (para quem ainda não conhece o termo, a Olívia do Lado B), mas também William Bell, acertando em cheio na tonalidade vocal de Leonard Nimoy. John Noble é o tipo de ator que dispensa comentários e, mais uma vez, foi o grande destaque da temporada ao projetar impecavelmente as nuances entre Walter e Walternativo.
Mais do que boas atuações, a temporada foi rica em detalhes que agradam bastante aos fãs, como a criação de versões da abertura, tradicionalmente azul, mas que pode se transformar em vermelha, preta e branca ou ganhar estilo da década de 1980. A construção de dois mundos diferentes também merece elogios.
Fringe trouxe ainda uma trama consistente e coerente, que soube unir as bizarrices científicas que sempre fizeram parte da produção, com a história que vem sendo costurada desde o Piloto, fazendo-a merecer, de forma definitiva, o status de série inteligente.
Camila Barbieri escreve nos blogs Séries em Série e Seriadores Anônimos