Todo mundo quer reconhecimento, mas isso também pode ser uma maldição. É o caso da produção de Rick and Morty, que se viu pressionada a entregar algo no mesmo nível de qualidade altíssimo do segundo ano. Assim, os criadores Dan Harmon e Justin Roiland não esconderam o medo de fazer feio e decepcionar o público, deixando claro a dificuldade em roteirizar os novos capítulos. Foi assim que, após alguns atrasos e muitas declarações no Twitter, que a terceira temporada só estreou de surpresa.
Continuar o gancho que o programa havia deixado é um desafio por si só: a conclusão do ano dois dá muito espaço para que Rick and Morty se afundasse na própria mitologia, de forma que a narrativa fosse mais linear. Enquanto isso não acontece de vez, há vários episódios que dão indícios de que a animação está tramando algo maior de fundo.
É a temporada que dá mais destaque à elementos da lore, como a versão perversa de Morty, a verdadeira personalidade de Beth ou o arco de crescimento de Morty, finalmente se revoltando contra o avô. Um verdadeiro prato cheio para quem gosta de bolar teorias, algo que o próprio Harmon já afirmou gostar que os fãs façam - apesar de garantir que sua ideia é manter a fórmula de "aventura da semana" ao invés de chegar a uma conclusão.
Esse formato também rende bons resultados: a terceira temporada é uma das mais experimentais quando se trata de temas abordados. Em dez episódios, a série entretém com referências e espetáculo visual, como quando Rick se torna um pepino e vai matar ratos no esgoto, mas também questiona, com comentários que vão desde o estado dos filmes de super-heróis até racismo e as relações de poder nos Estados Unidos - ilustrado com uma citadela povoada apenas por diferentes versões de Ricks e Mortys.
Muitos dos fãs acreditam que é a graça de Rick and Morty é o humor baseado em questões filosóficas e profundas, mas a terceira temporada deixa claro que o ápice do programa é quando consegue equilibrar seus comentários céticos e niilistas com sua mitologia sci-fi e, é claro, comédia visual e improvisada. Tendo isso em mente, a produção entrega uma de suas melhores temporadas em que até os capítulos pensados para encher linguiça, como "Morty's Mind Blowers", consegue divertir pelo espetáculo e também levar a questionamentos.
O terceiro ano de Rick and Morty é um dos mais fortes de toda a série. O tempo e a preocupação que a equipe teve para atender as expectativas do público é notável, e resulta em dez capítulos com bom ritmo e ótimas piadas, sem nunca se esquecer da visão cética e pensativa que ajudaram a animação a se destacar entre tantas outras. Considerando o encerramento, é certo dizer que vai demorar um pouco até vermos uma quarta temporada, mas pelo menos agora sabemos que, no caso de Rick and Morty, a espera compensa.