Quando uma série como Supergirl - com mais de 20 episódios de 40 minutos em cada temporada - chega ao seu terceiro ano, é comum aparecer algum desgaste. Afinal, os personagens já passaram por diversos problemas, enfrentaram vários vilões e se desenvolveram junto com o público. Exatamente por tudo isso que o seriado da CW deu um passo importante em sua terceira temporada, encerrando o ciclo de vários personagens e deixando novas possibilidades no horizonte.
No começo do terceiro ano de Supergirl, Kara (Melissa Benoist) estava sofrendo com a partida de Mon-El (Chris Wood) e, apesar de o personagem ter retornado, a relação dos dois continuou como uma sombra durante todos os 23 episódios. Esse é um dos grandes pontos negativos de toda a temporada. Embora o personagem tenha encontrado algumas tramas próprias, a falta de resolução sobre o relacionamento e a confusão de sentimentos gerou um cansaço do público com o casal.
A própria presença de Mon-El era um problema a ser resolvido: voltar para Kara e viver feliz com ela seria uma repetição da segunda temporada; matá-lo poderia ser drástico demais para um seriado jovem do canal CW; e deixá-lo na Terra apenas como um membro da Legião dos Super-Heróis continuaria com o clima estranho com a Supergirl. Assim, a série tomou a decisão mais sensata ao encontrar uma nova missão para o personagem e deixá-lo, finalmente, seguir seu caminho. Com a confirmação que Chris Wood não estará no quarto ano da série, há a impressão de que a solução foi definitiva e isso combina muito bem com a nova fase da história.
Se na parte amorosa a trama fica confusa, Supergirl acerta bastante ao tratar dos dilemas kryptonianos de Kara Zor-El. Quando descobre que ainda há um pedaço de sua casa no espaço, a heroína mostra seu lado mais frágil, que sempre será o fato de ser uma refugiada na Terra. Ao contrário de Kal-El, que saiu de Krypton ainda bebê, Kara tem lembranças da infância em seu planeta natal e isso torna sua saudade ainda mais palpável. O reencontro com a mãe Alura (Erica Durance, que atuou em Smallville) rendeu momentos emocionantes, que poderiam ser ainda maiores se essa trama não tivesse sido deixada de lado no decorrer da temporada.
Como já aconteceu antes, Kara tem uma crise de identidade ao rever parte de seu planeta: ela não quer mais ser a responsável por salvar o planeta Terra, e o vislumbre de uma vida comum em Krypton a encanta. Claro, tudo isso é passageiro e quando seus amigos entram em perigo ela segue “seu chamado” e volta a ser a heroína que todos conhecem. A discussão é antiga e repetida, mas o fato disso fazer total sentido com a história da personagem ameniza o que poderia ser um impacto muito negativo na temporada.
Mas reunir Kara e Alura foi apenas um dos momentos em que Supergirl focou no tema da família, um dos pontos centrais do terceiro ano. J’onn (David Harewood) enfrenta seu maior medo ao se despedir do pai, que deixa o seriado na hora certa, antes de se tornar um personagem cansativo e perdido. M’yrnn (Carl Lumbly) parte com um propósito claro e isso torna todos os seus ensinamentos ainda mais importantes. A relação entre Ruby (Emma Tremblay) e Alex (Chyler Leigh) se torna tão profunda, que a agora diretora do DEO percebe que quer ser uma mãe solo, por mais difícil que seja conciliar o trabalho com a vida pessoal. Essas pequenas descobertas e mudanças dos personagens mostram muito bem o amadurecimento de cada um deles. Apesar de ser uma série sobre a Supergirl, os dilemas apresentados são extremamente humanos e isso cria uma conexão tão profunda com o público, que é quase impossível não se emocionar com certos acontecimentos.
Sabendo desse potencial narrativo, a série também encontrou tempo em sua temporada para falar de dois temas atuais: o preconceito racial e o problema do porte de armas nos EUA. Perdido no arco romântico com Lena (Katie McGrath), Jimmy Olsen (Mehcad Brooks) caiu como uma luva para falar dos dois temas. Ele demonstra o medo de revelar sua identidade e ser vítima do preconceito, ao mesmo tempo em que fala sobre o perigo do uso negligente de armas de fogo. Com tantos casos de tiroteios nos EUA (principalmente em escolas), seria fácil mostrar apenas um lado da discussão. Mas Supergirl demonstra maturidade ao incluir também os argumentos daqueles que se sentem protegidos com os objetos, como Lena: “Nossas armas unem famílias”, diz um executivo preocupado com os funcionários de sua empresa. No fim, a série escolhe seu lado na discussão, mas deixa claro que é um tema difícil, sem uma resposta definitiva.
O último episódio do terceiro ano, “Battles Lost and Won”, foi um dos pontos altos de toda a história. Com um grande clima de despedida, o capítulo tem uma cena de ação muito bem feita para o padrão de séries de super-heróis e ainda introduz duas possíveis vilãs para o futuro: Lena Luthor, que pode deixar sua ambição ser maior do que a sua bondade, e um clone da Supergirl, que aparece na Sibéria em uma já confirmada homenagem ao arco das HQs Entre a Foice e o Martelo. Dessa forma, ao fechar as pontas soltas que abriu com o decorrer dos anos e concluir o ciclo de vários personagens, Supergirl termina seu terceiro ano com uma necessária renovação e possibilidades ousadas para o futuro. É esperar agora que todo esse potencial seja bem trabalhado e que as histórias de Kara, Alex e Lena não terminem tão cedo.