Consistência é uma palavra fundamental para qualquer produção audiovisual, seja ela um curta-metragem ou uma série de 20 temporadas. Quando mais tempo de tela, mais difícil é manter nível de qualidade e isso fica claro no quarto ano de The Boys. Após três temporadas, a série de Eric Kripke retornou ao Prime Video sem o mesmo brilho de suas antecessoras e focada apenas em ser um início para o vindouro fim da história de seus personagens - afinal, a quinta temporada será a última da produção.
Nos novos episódios, vemos a humanidade à beira da ruína, mas sem que as pessoas comuns sabiam disso. A política Victoria Neuman (Claudia Doumit) está cada vez mais perto da presidência dos EUA, enquanto mantém em segredo seus poderes mutantes - mas, para chegar lá, ela precisa encarar uma enorme pressão de Capitão Pátria (Antony Starr), que age nos bastidores para consolidar seu poder e controlar o país. Já no núcleo de “mocinhos”, Billy Bruto (Karl Urban) ressurge com pouco tempo de vida devido a um câncer em estado avançado, mas nem isso justifica seu retorno ao time The Boys, que cansou das inúmeras mentiras de seu ex-líder. Com todos os personagens vivendo no limite, a série retorna com uma ideia promissora, mas que se inicia de forma extramente arrastada.
Apesar de uma estreia tripla, o quarto ano da série não fez jus às próprias promessa e entregou apenas três horas de conteúdo morno para seus fãs na primeira semana. Insistindo em mortes truculentas e piadas manjadas, a produção retorna sem brilho e aquém da qualidade entregue nas temporadas anteriores. Isso se repete nos episódios seguintes e o enredo da temporada só pega no tranco no sexto capítulo. Essa demora para engatar afasta o penúltimo ano da série da qualidade de seus melhores dias, mas não é seu maior problema.
Pesa mais contra a produção o fato de seu quarto ano se dedicar apenas a traçar os caminhos para o grande final, sem adquirir um propósito próprio e claro. Seja no núcleo dos mocinhos ou dos vilões, cada passo dado na trama gira em torno de eventos que só serão efetivamente realizados na temporada seguinte. Com isso, o quarto ano pena em uma crise de identidade sem fim, apenas remoendo as qualidades que já apresentou sem devolver nada de útil para si mesma.
Ainda assim, vale destaque para o trabalho de Eric Kripke, que se manteve fiel ao seu projeto inicial. Enquanto a temporada não se destaca por feitos próprios, ela mostra que a essência de The Boys se mantém viva mesmo após os cinco anos da produção. As escolhas inesperadas, os temas plenamente alinhados com a contemporaneidade e a constante sátira ao gênero de super-heróis é, de fato, o combustível da produção, e nesses pontos Kripke trabalha muito bem. Essas qualidades que equilibram o jogo e fazem com que os episódios mantenham o espectador minimamente interessado no que passa na tela.
Mesmo com um desenvolvimento arrastado, o quarto ano de The Boys encontra seu fim com um dos melhores episódios da série até aqui. Elevando sua qualidade ao máximo e trazendo doses equilibradas de ação, tensão e apego emocional, a temporada, mesmo que no fim, mitiga a má impressão causada pelos seus episódios iniciais, trilhando um bom caminho rumo ao seu quinto e último ano.