Séries e TV

Crítica

Westworld - 1ª Temporada | Crítica

Série começa um novo ciclo na TV

05.12.2016, às 00H51.
Atualizada em 05.12.2016, ÀS 08H16

Os robôs de Westworld estão lá para servi-lo e oferecer uma experiência de férias única”, diz o apresentador de uma reportagem institucional da Delos na abertura do filme escrito e dirigido por Michael Crichton em 1973. O parque oferece aos seus frequentadores uma realidade visceral, mais próxima da natureza humana. “Eu atirei em seis pessoas”, comemora um dos turistas. Assassinato, sexo e aventura estão entre as atrações.

Em 2016, Lisa Joy e Jonathan Nolan atualizaram e expandiram o conceito de Crichton, levando para HBO uma série que mistura ficção científica e filosofia em uma narrativa tão inteligente quanto as máquinas que povoam seu parque. Bem estruturada, a história não se limita aos mistérios, que originaram diversas teorias a cada episódio. As reviravoltas têm sempre propósito, prático ou metafísico, culminando em um quebra-cabeça que se completa perfeitamente, sem peças faltantes.

Não que tudo seja respondido. O primeiro arco não se encerra com um gancho, mas mantém a aura instigante da série, com respostas que levam a novas perguntas. Com planos para cinco temporadas, Joy e Nolan parecem saber exatamente aonde querem chegar. O que é fundamental em uma narrativa de tantas camadas.

Da base sólida dos roteiros, Westworld ergueu um feito estético. A abertura apresenta a construção dos androides sob a trilha de Ramin Djawadi (também responsável pela abertura de Game of Thrones), que mistura violino, piano e sintetizadores para estabelecer a combinação de orgânico e sintético da série. Na administração do parque, preto, vidro e concreto dominam os corredores, contrapondo a engenharia fria que dá “vida” à natureza do Velho Oeste. Da mesma forma, os anfitriões robóticos parecem mais expressivos que os profissionais que os comandam.

O enquadramento centralizado brinca com os pontos de atenção do espectador como em um espetáculo de ilusionismo. Rever a série depois do final da primeira temporada é como ver o passo a passo do truque. Detalhes e falas que passaram despercebidos ganham importância e mostram a habilidade dos roteiristas. O trabalho dos atores também garante essa jogada, com nuances que escondem, ao mesmo tempo que deixam claras todas as camadas da trama.

Anthony Hopkins, cuja experiência dá credibilidade para a relação entre criador e criatura que é essencial à série, encontrou no Dr. Robert Ford um dos melhores papéis nessa fase da sua carreira. Jeffrey Wright, o Bernard Lowe, impressiona pela capacidade de transformar a natureza do seu personagem, mantendo a confiança do espectador. A escalação dos androides foi outro acerto, com Thandie Newton (Maeve Millay), Evan Rachel Wood (Dolores Abernathy) e o brasileiro Rodrigo Santoro (Hector Escaton) como destaques. Cada ator consegue mostrar em cena a luta interna entre a programação e autonomia, entre artificial e vida. Ed Harris (O homem de preto), Ben Barnes (Logan) e Jimmi Simpson (William)são outros que garantem a coesão de todos os planos da série.

A partir da ficção científica, Westworld trabalha com questões filosóficas antigas e novas - Somos selvagens por natureza? O que nos torna humanos? O que nos torna civilizados? Qual o limite do progresso? - e dá ao público não apenas uma série interessante por seus mistérios, mas pela profundidade dos seus temas. Que venham as próximas quatro temporadas.

Nota do Crítico
Excelente!