What If…? tinha tudo para ser um momento de quebra importante no MCU, por vários motivos. Primeiro, porque o Marvel Studios já tinha demonstrado disposição para subverter sutilmente a sua fórmula em WandaVision e Loki, se aproveitando de formatos televisivos (e da própria liberdade desta mídia) para trazer uma nova perspectiva temática para as histórias de heroísmo que estabeleceram o universo compartilhado como a maior franquia do planeta.
Segundo, porque What If…? é uma série de animação antológica que explora universos alternativos que, por definição, quebram com o esperado e conhecido do MCU - ou pelo menos foi isso que nos foi prometido. A ideia de explorar histórias contidas, isoladas, dentro de um grande universo narrativo costuma dar aos criadores envolvidos uma liberdade maior, e pode fazer nascer alguns dos capítulos mais fascinantes de qualquer franquia, como a recente Star Wars: Visions pode atestar.
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Acontece que What If…?, na maior parte de sua primeira temporada,não poderia ter sido mais diferente do que o prometido. A evidência mais óbvia está nos créditos: a série é totalmente escrita por dois roteiristas (A.C. Bradley e Matthew Chauncey), e totalmente dirigida por só um cineasta (Bryan Andrews), o que significa que os episódios têm, com pequenas variações de tom, a mesma elaboração visual e narrativa, o mesmo ponto de vista sobre o universo Marvel.
Talvez por conta dessa concentração de decisões criativas nas mãos de uma única (e reduzida) equipe, o formato antológico de What If…? vai se esfarelando com o passar da temporada. Primeiro, episódios supostamente contidos terminam em ganchos para continuação, e depois dicas sutis de conexão entre as histórias começam a surgir, até explodirem em um combo de pré-finale e finale que repete a fórmula de Guerra Infinita e Ultimato, reunindo os heróis para lutar contra um vilão empoderado pelas Joias do Infinito.
Não há nada de inerentemente errado nessa fórmula, é claro. Ela existia antes do MCU e vai continuar existindo depois dele, porque funciona e traz reflexões perenemente oportunas sobre, por exemplo, o conflito entre pragmatismo e idealismo, e a comunalidade humana que transforma indivíduos díspares em um time. Bradley, responsável pelo finale, sabe disso, e costura com habilidade os arcos de suas duas protagonistas - a Capitã Carter e a Viúva Negra - para elevar a história que a temporada conta.
O que falta para What If…? empolgar mesmo é o senso de aventura, de transformação, que sua própria premissa presumia. Há momentos em que essa capacidade de variação brilha, especificamente nos episódios dedicados ao Doutor Estranho (1x04) e a T’Challa (1x02), que constróem novas versões críveis, interessantes, divertidas e (acima de tudo) tematicamente significativas dos personagens e mundos do MCU.
Nesses lampejos de liberdade e brilhantismo, a série animada do Disney+ faz jus aos talentos envolvidos nela (o episódio de Strange, especialmente, é um espetáculo do designer de produção Paul Lasaine), e se faz ouvir como uma voz importante dentro da franquia e do ambiente cultural liderado por ela. Na maior parte do tempo, no entanto, What If…? é só mais uma história previsível, que ganha ou perde o espectador pela força do carisma dos personagens em tela a cada cena.