O anúncio de que o Drew Barrymore Show voltaria a ser transmitido na próxima segunda (18), nos Estados Unidos, causou indignação em membros do Sindicato dos Roteiristas (WGA) por tecnicamente furar as greves que atualmente paralisam Hollywood. Embora o Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) afirme que o programa apresentado pela atriz não viole as regras da greve por ter contrato com a Network Television Code, e não a AMPTP, os roteiristas falam em “violação moral” (via Variety).
De forma prática, Barrymore não está furando a greve dos atores para apresentar o programa, uma vez que o contrato referente ao trabalho de apresentadores de programas de variedade e atores de novela foi renovado e retificado em 2022. Seus roteiristas, no entanto, são membros do WGA. Por isso, seguindo as regras da greve, não poderiam trabalhar na nova temporada. Assim, o Drew Barrymore Show precisaria obrigar seus contratados a furar a paralisação, usar roteiristas de fora do sindicato ou seguir sem roteiristas — caso este que não garantiria uma não-violação da greve, de acordo com pessoas da indústria consultadas pela Variety.
“Sei que escrever [talk shows] acontece no sentido de que as ideias são lançadas, com coisas que os produtores dizem ao apresentador, o que podem fazer com este ou aquele convidado, o que é adjacente ao trabalho que os roteiristas fazem. Então, é uma área cinzenta, com certeza”, disse Jonathan Bines, roteirista do Jimmy Kimmel Live! que protestava em frente à CBS, onde o Drew Barrymore Show é gravado. “Para mim, isso se qualifica como um trabalho de roteiro”, seguiu, dizendo ainda que cabe ao WGA e à produção do talk show definir se Barrymore e equipe estão furando a paralisação.
A gravação do primeiro programa de volta de Barrymore aconteceu nesta segunda-feira (11) e, além da presença de grevistas fora do estúdio, também acabou em confusão. Dois membros da plateia que usavam pins do WGA foram expulsos pela produção. Um deles, Dominic Turiczek, diz ter sido verbalmente agredido pela equipe do talk show — confira:
“Fui para o Drew Barrymore Show após ganhar ingressos. Pegamos pins [na entrada do estúdio], entramos e fomos expulsos e agredidos verbalmente pela equipe [dela]. Está claro que eles não apoiam [a greve], escritores ou fãs! Então pegamos camisas e nos juntamos [aos protestos fora da CBS]. F*da-se isso. Para esclarecimentos: sabíamos da greve do WGA, mas não que eles estavam fazendo piquete no show de Drew. Até chegar lá dentro, não sabíamos que o programa dela tinha escritores do WGA, cruzando assim os piquetes ao começar de novo. Ganhamos os ingressos no último minuto e não fizemos pesquisas suficientes, é claro.”
Desde a polêmica expulsão e a repercussão da sua decisão de voltar com o programa, Barrymore não se pronunciou — sua última publicação nas redes foi o post no Instagram comunicando sua decisão. Um representante do programa, no entanto, manifestou arrependimento com a maneira como a situação foi conduzida. "Nossa política é receber todo mundo nas nossas gravações. Por causa das preocupações intensificadas com a segurança hoje, lamentamos que dois membros da plateia não tiveram permissão de vir ou acessar [o estúdio]. Drew não sabia do incidente e estamos no processo de contatar as pessoas afetadas para oferecê-las novos ingressos."
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O SAG-AFTRA, sindicato dos atores de Hollywood, oficializou a greve em 13 de julho, após semanas de negociações infrutíferas com os estúdios. Entre as demandas dos intérpretes estão novas regras sobre o pagamento de residuais (o dinheiro que atores recebem pela reprodução de projetos na TV e no streaming) e proteções contra o uso de inteligência artificial na produção de filmes e séries.
Em junho, antes de oficializar a greve, o SAG-AFTRA realizou uma votação sobre o tema com a participação de todos os seus membros. 98% dos atores sindicalizados votaram a favor da greve.
Os atores de Hollywood não entram em greve desde 1980. A paralisação não só deve barrar as filmagens de muitos projetos que contam com intérpretes filiados ao SAG, como também impedir a participação desses atores em eventos de imprensa para filmes que já estão completos e a caminho dos cinemas.
Com a pressão adicional da greve dos roteiristas, já em curso desde maio, a maioria dos projetos dos grandes e pequenos estúdios americanos devem ser completamente paralisados até a assinatura de novos contratos. Os dois sindicatos não entram em greve juntos desde 1960.