Um roteirista, produtor ou diretor alcança realmente o lugar de ícone quando seu trabalho cria características que se dispõem na rotina da cultura pop. Ryan Murphy já tem algumas... Quando se fala no nome dele, imediatamente surgem comentários sobre como ele ressuscitou gêneros como o do horror e dos musicais na TV, como ele valorizou carreiras de grandes atrizes como Jessica Lange, Sarah Paulson, Kathy Bates e Angela Bassett; como algumas de suas séries acabam sempre “se perdendo” no caminho e como há uma fascinação por todo e qualquer projeto no qual ele revela estar envolvido. E ele geralmente está envolvido em muitos.
Murphy começou sua vida profissional como jornalista e foi apenas em meados dos anos 90 que um de seus roteiros foi descoberto por ninguém menos que Steven Spielberg. O filme Why Can’t I be Audrey Hepburn nunca saiu do papel, mas essa foi a porta para que Ryan conseguisse sua primeira chance na TV, com a série Popular, da WB. A série falava sobre a guerra de popularidade entre dois grupos de alunos de um High School, um ensaio do que acabaria resultando em Glee alguns anos depois. Popular ficou no ar por apenas dois anos, quando o canal decidiu cancelá-la após a insistência de Murphy em ir adiante com a ideia de revelar a homossexualidade de uma das protagonistas. Abertamente gay desde o início da carreira, Murphy insistia que seu trabalho refletisse sua preocupação com questões de gênero e sexualidade.
Seu primeiro trabalho de sucesso foi Nip/Tuck, uma série sobre o mundo das cirurgias plásticas. Foi com ela que ele ganhou seu primeiro Emmy e também começou a ser notado como um roteirista que não tinha medo de ser ousado e até mesmo sombrio. Em 2009, a Fox apresentou a série Glee ao mundo, uma comédia musical adolescente que se tornaria um fenômeno da cultura pop. Foi em Glee que o roteirista teve a primeira chance de começar a trazer à tona importantes discussões sobre bullying, aceitação e diversidade. A partir daí, a temática esteve presente em todos os seus outros trabalhos.
A carreira de Murphy começou a alcançar novos patamares e não parou mais... Sarah Paulson se tornou uma das mais respeitadas atrizes de Hollywood por causa dele, Lady Gaga teve em American Horror Story seu primeiro grande papel como atriz e Pose fez história com o maior elenco trans da história do entretenimento. Murphy também se tornou uma referência quando lançou em 2017 a Half Initiative, uma fundação que incentiva Hollywood a garantir que metade do contingente artístico e técnico de uma produção seja formado por mulheres e minorias. Enfim, ainda que Ryan Murphy seja um nome que sempre causa controvérsia, poucos artistas têm hoje tanta relevância intelectual, social e criativa quanto ele. Não que seja perfeito. Seu trabalho tem aspectos questionáveis como qualquer outro, mas é um trabalho que tenta influenciar o espectador de todas as melhores maneiras possíveis. Entre monstros, assassinos e valentões, ele é um defensor – quem diria – do otimismo.
Ryan já teve projetos em inúmeras emissoras, mas já estava na Fox (e no braço do canal, FX) há muito tempo. Até que um acordo milionário foi fechado com a Netflix e ele tem pelo menos sete produções a caminho. Para que esse mapa ‘murphyniano” fique mais claro, preparamos uma lista com tudo que vem por aí na carreira de megaprodutor, desde novas temporadas até os novos títulos. Vamos lá:
The Politician
Netflix/Divulgação
O primeiro projeto de Murphy a estrear na Netflix será The Politician, uma comédia sobre um estudante do High School que sonha em ser o presidente dos Estados Unidos, mas que antes precisa vencer a eleição para ser presidente na própria escola. Com essa premissa Murphy pretende cutucar as questões políticas e conservadoras do país, com Jessica Lange, Ben Platt e Gwyneth Paltrow entre as estrelas do elenco. A série deve ter graus ainda mais altos do humor provocativo e ácido, direcionado aos retrógrados costumes americanos, como nos tempors de Glee.
Hollywood
Divulgação
O segundo projeto anunciado para o Netflix foi a série de época Hollywood, que apesar das poucas informações a respeito deve reproduzir a indústria em seus anos de ouro, lá na década de 30. Sabemos apenas que Darren Criss foi reservado para a produção, o que já é instigante, uma vez que o último trabalho do ator com Murphy (American Crime Story: Versace) lhe rendeu praticamente todos os prêmios do mercado. Hollywood deve estrear no primeiro semestre de 2020.
Ratched
Um Estranho no Ninho/Reprodução
O passado da enfermeira Mildred Ratched de Um Estranho no Ninho será revelado numa história original, baseada na personagem do livro/filme, e estrelada por Sarah Paulson também em algum lugar do ano de 2020. Esse provavelmente será o título mais dramático entre os que foram anunciados para a Netflix. Para quem não se lembra ou não viu o filme de 1975, a enfermeira vivida lá por Louise Fletcher era um sociopata cruel e sádica, que punia terrivelmente qualquer paciente que a contrariasse.
The Boys in the Band
The Boys in the Band/Broadway/Divulgação
Não faz muito tempo que Murphy também anunciou uma adaptação cinematográfica da peça The Boys in the Band, sobre um grupo de amigos gays que se reúnem para uma festa de aniversário onde logo alguns problemas de convivência começam a surgir. A peça é de 1968 e ganhou um revival no ano passado com um elenco estelar (que também estrelará o filme): Zachary Quinto, Matt Bomer, Jim Parsons e Andrew Rannels são alguns deles.
The Prom
Reprodução
Essa foi, de fato, a primeira produção da Broadway a ser anunciada como filme adaptado para a Netflix e que veio da total ligação emocional que Murphy tem com a história. Quando era adolescente em Indiana (mesmo estado onde a história de The Prom se passa), ele foi proibido de levar o namorado ao baile da escola. Na peça, uma jovem lésbica quer levar a namorada e alguns pais conservadores cancelam o baile para impedi-la. Murphy ficou encantado com a história e resolveu levá-la para o streaming. O filme tem um imenso potencial, já que Meryl Streep, Nicole Kidman, Ariana Grande e James Corden já estão envolvidos. A estreia deve acontecer somente no final de 2020.
Minissérie dramática sobre Andy Warhol
Andy Warhol/Reprodução
Pelo menos duas séries documentais dramáticas também estão sendo desenvolvidas para a Netflix. Uma delas terá 10 episódios focados na vida do artista Andy Warhol, que sofreu uma famosa tentativa de assassinato por uma líder feminista em 1968.
Minissérie dramática sobre Roy Halston
Reprodução
A vida do controverso estilista Roy Halston também será retratada por Murphy numa minissérie documental estrelada por Ewan McGregor. Halston foi o nome mais influente da moda americana nos anos 60 e 70, mas perdeu controle da empresa que criou devido a um conjunto de comportamentos erráticos e autodestrutivos. Não há nenhuma previsão de estreia, mas os nomes por trás da produção incluem os responsáveis por Assassination of Gianni Versace.
A Chorus Line
A Chorus Line
Outro musical da Broadway que ganhará uma adaptação seriada. A minissérie terá 10 episódios, mas não se sabe se a remontagem de 2013 será parte do projeto. A história fala de um grupo de dançarinos que está fazendo uma bateria de testes para uma musical da Broadway.
A Secret Love
Divulgação
Praticamente nenhuma informação sobre essa outra série documental foi divulgada. Murphy disse apenas se tratar de uma história sobre um casal de lésbicas que sai do armário nos anos 80. Nada foi dito sobre elenco ou estreia.
Minissérie dramática sobre Marlene Dietrich
Reprodução
Outro projeto sem muitos detalhes. Sabemos apenas que Jessica Lange volta a trabalhar com Murphy nessa série documental que contará sobre a passagem de Marlene Dietrich por Las Vegas no anos 60.
9-1-1: Lone Star
Divulgação
A série derivada de 9-1-1 estreará em Janeiro de 2020 e será estrelada por Rob Lowe e Liv Tyler. Lowe fará um bombeiro nova-iorquino que muda para Austin, no Texas, junto com o filho já adulto, com quem tem uma relação conturbada. A série pode ser o prenúncio de uma franquia que pode aparecer em outros estados do país. A série original, 9-1-1, acabou de estrear sua terceira temporada e é um sucesso.
Outros lançamentos
FX/Divulgação
Além de todos esses novos projetos, ainda estão em vigência os títulos que Murphy tinha no FX. Pose volta para o terceiro ano, American Horror Story acabou de estrear seu nono ano, mas já está renovada para a décima. American Crime Story também retorna para a terceira temporada depois um hiato longuíssimo. O novo ano contará a história do escândalo envolvendo o ex-presidente Bill Clinton e Monica Lewinsky. Murphy já tinha declarado que ia desistir do projeto por achar que a própria Monica deveria contar a história (e ela se recusava). Recentemente, Monica topou a aventura e a temporada entrou em produção. Já Feud continua uma incógnita. O FX decidiu não seguir adiante com o enredo Charles X Diana, mas também não admitiu o cancelamento definitivo da antologia.