Regina King e Ben McKenzie vieram ao Brasil para promover a série Southland, exibida no canal Space, e que chega esta semana ao fim de sua terceira temporada aqui no Brasil.
O programa teve problemas no seu início, e precisou até que mudar de emissora nos Estados Unidos, trocando a NBC pela TNT. Mas tudo isso já é passado para eles. No bate-papo com o editor do Omelete, Marcelo Forlani, os dois falaram do treinamento com os policiais, as ruas de Los Angeles e o ritmo incansável das câmeras. McKenzie falou também da animação Batman - Ano Um, em que ele dubla o próprio Homem-Morcego e seu alter-ego, Bruce Wayne.
Antes de mais nada, muito obrigado por me receberem.
Regina King: Obrigada.
Como tem sido sua passagem pelo Brasil até agora?
RK: Ótima.
Ben McKenzie: Como uma dama gentil que eu queria... que eu imaginei que o país seria. Extremamente agradável.
Tá certo.
BM: A comida é ótima, as bebidas são ótimas, as pessoas são amigáveis...
RK: As pessoas são muito amigáveis.
A Los Angeles que eu conheço é bem segura. Mas aquela que vocês apresentam no programa não é nem um pouco. Quão real é a série neste sentido?
BM: Parte do programa fala do quão contrastante Los Angeles é… Então, os lugares que você frequenta quando vai a Los Angeles são bem seguros… E Los Angeles, acima de tudo, é bem segura. Existem bairros que não são… E esses são mais interessantes para retratar em uma série e isso é o que fazemos…
Trabalhar como policiais mudou o jeito como vocês os veem?
RK: Ai meu Deus, claro... Nos fez ter mais respeito por eles. Eu acho que todos nós sentimos uma culpa por vivermos todos os dias... sem percebermos todo o esforço que eles fazem para nos proteger e servir. Quando começamos o treinamento policial, uma das policiais aposentadas que estava treinando a gente nos perguntou o que faríamos se não tivéssemos proteção policial por um dia. E todos tivemos respostas iguais, ou parecidas. Sabe, a gente ficaria em casa o dia todo até a polícia voltar... E essa realidade, naquele momento, nos fez perceber que o fato de fazermos tudo que fazemos, seja ir à loja ou levar as crianças à escola é porque temos essa segurança... O nosso subconsciente se sente seguro e é por causa deles.
Falando no treinamento policial... Como foi? Foi muito difícil? Quanto vocês aprenderam de linguagem e treinamento com armas? O que foi mais divertido nisso tudo?
BM: Eu achei que tudo foi bem divertido. Quero dizer, algumas coisas em sala de aula foram um pouco tediosas. Eles queriam ensinar a gente... Acho que na metade eles perceberam que estavam tentando nos ensinar todas as terminologias e todo o conhecimento de tudo, mas para fazermos nosso trabalho não era necessário sabermos de tudo isso. O que precisamos fazer é entender, como a Regina disse antes, a mentalidade de um policial. A psicologia, o jeito que eles se portam. O que eles fazem... Por exemplo, uma coisa que eles fazem o tempo todo é ter olhos ativos. Eles estão sempre usando os olhos para entender uma situação. O que eles olham especificamente são as mãos das pessoas. Como dizem, "mãos matam". Ninguém vai realmente te machucar sem usar as mãos. Ou eles tiram uma arma e atiram em você, ou te esfaqueiam ou te dão um soco na cara, ou em outro lugar. Então você sempre precisa saber onde estão as mãos da pessoa, é por isso que quando um policial te para na estrada ele pede para você manter as mãos no volante, para que ele possa vê-las. Então, coisas como ter olhos ativos, ter autoridade, que é basicamente não deixar que os suspeitos ou pessoas com quem você está falando tenham o controle da situação. Você é o policial. Você tem o controle, a arma, o spray de pimenta, o cacetete. Na maioria das vezes você não precisa usá-los, mas precisa ter mais poder com eles e controlar a situação. Então muitas dessas coisas, desses conceitos, são muito importantes. Eu achei bem divertido. As patrulhas foram bem legais. Andar de carro com policiais de verdade durante o serviço deles, passando por bairros bem pesados. Isso foi divertido. E o treinamento com armas foi bem divertido.
RK: É. E foi uma competição.
BM: Tinha competição. Fizemos uma competição de quem atirava melhor, e eu não fui bem.
RK: Ah, por favor...
BM: Não, Shawn Hatosy foi o melhor. Shawn e Michael Cudlitz.
RK: É, o Cudlitz.
BM: Eles mandaram bem.
RK: Eu era a pior.
BM: Você não era a pior.
RK: Eu fico bem quando estou atuando. Eu fico muito bem. E é tudo que tenho que fazer, porque sou uma atriz.
BM: É.
Tá certo. Falando sobre atuação... O jeito de filmar é bem técnico porque a câmera não para. Isso torna mais difícil? Vocês fazem mais takes porque a câmera não para? Como isso funciona para vocês?
RK: Normalmente menos.
BM: É, é o que eu iria dizer. Na verdade, fazemos menos takes.
RK: Eu não diria que é mais difícil. Faz com que o ator faça seu trabalho melhor. Faça o que ele tem que fazer. Esteja presente. Porque você não sabe. Eles colocam câmeras em lugares que não sabemos. E se eu estiver apenas presumindo que a câmera está só no Ben e eu estou aqui sem dar o meu máximo poderia ter uma câmera em algum lugar pegando tudo isso. E adivinha? Eu joguei fora uma oportunidade para a câmera provavelmente pegar algo realmente incrível e sutil, que só aconteceu porque eu ainda estava na cena, atuando. Então, isso nos deixa melhor.
As temporadas são curtas, sete, seis e dez episódios… E a próxima será de dez episódios também. Vocês acham que isso torna a série melhor porque ela não precisa ter episódios que ficam enrolando? Você mostra apenas o que você tem que mostrar e constrói melhor os personagens. Vocês concordam com isso?
BM: Sim, nós dois gostaríamos de fazer mais episódios por temporada porque isso iria nos permitir ter mais espaço para criar os personagens e encaixar o arco deles para a temporada… Mas algo entre o que temos hoje e uma temporada com 22 episódios, que um programa de tv tradicionalmente faria, seria um bom número, sabe? Mas ficaremos com dez. Nós gostamos de dez.
RK: É um bom número.
Vocês pretendem trabalhar por trás das câmeras? Eu sei que você produziu um curta.
BM: É, na verdade eu vou seguir Christopher Chulack que é um dos produtores-executivos e diretor de vários episódios. Eu vou segui-lo na pré-produção desse primeiro episódio e ver que acontece. Eu estou longe de ser diretor, mas eu gostaria de aprender mais.
Entendi. Nossos leitores adoram o Batman. Então tenho que perguntar como que foi fazer Batman - Ano Um e se você gosta de interpretar e dublar os personagens. Os dois, porque é tanto o Bruce Wayne e o Batman, e eles fazem coisas diferentes.
BM: Sim.
Como foi fazer?
BM: Foi fantástico, foi muito divertido. É uma honra poder interpretar um personagem tão icônico. É um pouco intimidador fazer porque vários outros atores já fizeram, e fizeram muito bem, mas foi muito legal. Eu me diverti muito e não há nada como poder dizer: "Eu sou o Batman" em um filme. É bem legal.
Eu sei que tenho que encerrar, mas uma última pergunta: a série trocou de canal. Sendo atores como vocês acompanharam as coisas que estão acontecendo e não estão em suas mãos? Como é isso? Como vocês acompanharam, e como recebem a notícia de que agora estarão em boas mãos na TNT?
BM: Uma das coisas mais difíceis de ser ator é que você não controla a maior parte das coisas na sua vida. É por isso que você vê atores decadentes, indo pelo caminho errado. Ainda bem que nenhum de nós no elenco é autodestrutivo, mas foi um desafio. Foi difícil.
RK: É, foi. Mas eu sempre senti que a série era uma coisa especial e que acharíamos um lar em outro lugar. Eu nunca senti que o programa tinha acabado. Apenas senti que tinha acabado na NBC. Não é sempre que você tem a oportunidade de fazer parte de projetos assim, e quando digo que você não tem a oportunidade é porque às vezes você vê algo que pode parecer um trabalho incrível quando você vê o projeto final, mas pode não ter sido o melhor set de se trabalhar. Mas trabalhar nessa série é ótimo. O roteiro é ótimo e estar no set é incrível. Então todos os ítens estão cumpridos nesse programa. E muitos atores vão concordar comigo que raramente tudo se encaixa. E a única coisa que não estava encaixando naquela situação era o canal. Então agora estamos em um canal que entende o que os roteiristas e criadores querem fazer. E nos permite fazer. E não é culpa de... Sabe, muitas dessas pessoas que estavam na NBC não estão mais lá. Eles estão pensando e fazendo a coisa certa. Então não é culpa de ninguém, só não era o casamento perfeito.
Muito obrigado, tenham uma boa estadia e aproveitem o Rio.
BM: Obrigado.
RK: Obrigada.
E voltem sempre.
BM: A gente vai.
Southland mostra em tom quase documental os casos investigados pela polícia de Los Angeles. No Brasil, a série é exibida às quintas-feiras no Canal Space.