“Filmes de terror são a melhor janela que temos para a condição humana”. As palavras são de Yoann-Karl Whissell, parte do trio de diretores RKSS, responsável por Hora do Massacre. Em entrevista ao Omelete, os cineastas canadenses (Anouk Whissell e François Simard completam o trio) mais conhecidos pelo cultuado Turbo Kid (2015) explicaram como tentam equilibrar discurso e entretenimento no horror.
“Eu acho que a mensagem que estamos passando com o filme pode ser muito importante, mas queremos ter certeza que, em primeiro lugar, estamos entretendo as pessoas”, continuou Yoann-Karl. “Se você as entretém primeiro, elas pensarão sobre o seu filme e o que você está querendo dizer com ele depois. Elas sairão conversando sobre o quão legal foi essa ou aquela sequência, e eventualmente alguém vai dizer: 'Mas o que você acha que isso aqui significa?'. E a discussão vai começar, que é o que você quer que aconteça”.
Anouk Whissell complementou a reflexão indicando que nem sempre o artista tem controle sobre a mensagem transmitida por sua arte: “Não importa o quanto quisermos dizer alguma coisa, a interpretação do público é tão fundamental quanto a nossa intenção. Muitas e muitas vezes as pessoas vieram conversar conosco e expressaram coisas que foram muito surpreendentes para nós mesmos sobre os filmes que fizemos, então no fim das contas o que estamos fazendo é só começar a conversa. Quem a completa é o público”.
Em Hora do Massacre, por exemplo, um grupo de jovens ativistas ambientais invade uma loja de departamentos na calada da noite, planejando deixar um rastro de destruição (e algumas mensagens escritas nas paredes). Eles não contavam, no entanto, com o segurança noturno da loja, um homem solitário, reacionário e obcecado por caça. A premissa abre espaço para um embate de gerações e uma discussão sobre ativismo que o filme tenta equilibrar em pouco mais de 1h20 de duração.
“Nós não nos prendemos a uma interpretação preto-no-branco, existe muita área cinza entre os protagonistas e o assassino - embora ele ainda seja um monstro, você pode compreender que ele é humano”, definiu François Simard. “Nós não tomamos um partido na história, entende? Ao invés disso, queremos analisar o que acontece quando as pessoas não dialogam. Se pudéssemos sentar e conversar, ao invés de insultar uns aos outros, acho que estaríamos em um lugar melhor”.
Yoann-Karl ecoa o tom de conciliação com entusiasmo: “Como sociedade, como espécie, sinto que estamos nos encaminhando rapidamente para um lugar de onde não há saída, estamos prestes a dar de cara com a parede. E, se não conversamos uns com os outros, se não chegarmos a um acordo sobre como sair desse caminho... vamos chegar nessa parede ainda mais rápido, e vai ser horrível para todo mundo. Estamos todos no mesmo planeta, certo? Não temos escolha, então precisamos trabalhar juntos”.
E, apesar da convicção, o cineasta repetiu que o RKSS não considera Hora do Massacre o seu palanque. “Se você ficar martelando a sua mensagem, isso não é cinema - é pregação. Não é o jeito certo de falar sobre as coisas pela arte, pelo menos da forma como vemos”, declarou.
Hora do Massacre é estrelado por Turlough Convery (Sanditon) e Kyle Scudder (Apaixonados Outra Vez), e já está em cartaz nos cinemas brasileiros.