Projeto Gemini/Divulgação

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Projeto Gemini, com Will Smith, mostra influência dos videogames no cinema

Filme de Ang Lee não só se inspira na forma como Uncharted ou Last of Us conduzem sua ação, mas também na tecnologia dos jogos modernos

25.09.2019, às 11H32.
Atualizada em 09.10.2019, ÀS 15H03

Por prestígio e história, não é exagero dizer que o cinema é a mídia dominante, e isso fica bastante claro ao ver a evolução dos videogames. Mesmo interativos, jogos como The Last of Us, Quantum Break, Beyond Two Souls e muitos outros são fortemente inspirados pela linguagem cinematográfica, incorporando desde a aparência de atores reais até técnicas de câmera, como em God of War, por exemplo, que é feito inteiramente em plano-sequência. Agora Projeto Gemini, filme de Ang Lee em que Will Smith enfrenta seu clone rejuvenescido, mostra o que acontece quando o cinema se inspira nos videogames.

O Omelete foi convidado a assistir três cenas do projeto e, logo de cara, os detalhes enfatizados pela distribuidora Paramount lembravam muito a linguagem tecnológica dos games modernos: além do rejuvenescimento de Smith ser alcançado por um modelo inteiramente feito no computador, o filme também é rodado à 120fps (ou quadros por segundo) - cinco vezes o padrão, o que garante uma maior fluidez de movimento. Não é a primeira vez que algo do tipo acontece, O Hobbit por exemplo teve sessões em 48fps, mas aqui fica claro que Lee incorpora isso na criação da ação, ao invés de usar apenas como um “diferencial”. Afinal, o diretor tem certa experiência nisso já que sua produção anterior, A Longa Caminhada de Billy Lynn (2016), usa a mesma taxa de quadros e resolução 4K.

A primeira cena, por exemplo, traz o encontro entre Henry Brogan (Smith) e Júnior, seu clone mais jovem, na Colômbia. Júnior é enviado para caçar seu progenitor em Cartagena e logo os dois passam a se enfrentar pelas ruas e telhados de uma vila. O combate - tanto pelo cenário quanto pela movimentação de câmera - lembra bastante algo visto na franquia Uncharted, com o diretor apostando em planos mais longos que capturem as acrobacias em detalhes. Vê-las em 120 quadros realmente é impressionante, trazendo bastante vida à luta e fugindo da ação picotada que assombra os grandes blockbusters norte-americanos, salvo raras exceções como a franquia John Wick.

A segunda cena mantém o ritmo frenético e traz Júnior sequestrando Danny Zakarweski (Mary Elizabeth Winstead) como uma forma de atrair Henry, montando uma armadilha nas catacumbas. Henry, por ser uma versão mais velha e experiente do garoto, invade o local sem esforço, desarmando todos os seus truques. Os dois se confrontam novamente e o herói tenta entender quem é o vilão - mas o jovem parte para o ataque e dois saem na mão. A pancadaria é um pouco ofuscada pela baixa iluminação do lugar, mas quando se torna visível, também surpreende pelas boas coreografias. A dúvida que resta é saber se esse mesmo nível de qualidade será mantido nas sessões comuns, em 2D, já que só as salas 3D (ou seja, mais caras) trarão a versão de 120fps.

A única vez que a tecnologia não segura tão bem a barra é durante um momento emocional, quando Júnior questiona seu suposto pai - interpretado por Clive Owen - sobre sua origem misteriosa. Há um grande ênfase na performance de Smith por baixo de todos os pontos e aparelhos da captura de movimentos e a construção de CGI é surpreendentemente humana e fiel. Mesmo assim, a taxa de quadros que favorece tanto assim a ação, aqui cria um tom novelesco, piorado por um roteiro sem sal. Julgando por momentos como esse, e pelas entrevistas com Lee e o elenco, parece que a produção acredita em uma profundidade que simplesmente não está presente na obra. O diretor fala bastante que o projeto discutirá o conceito de memórias e o peso do futuro colidindo com o passado, mas nada realmente indica que isso será aprofundado. Pelo menos a ação segura bem a barra, assim como um jogo em que a história não é tão convincente, mas que a jogabilidade é ridiculamente satisfatória.

A estreia de Projeto Gemini está marcada para 10 de outubro no Brasil.