Para quem foi ao Campo de Marte de metrô assistir ao Black Sabbath era possível reconhecer o trajeto de 10 minutos de caminhada não apenas por pessoas do evento que indicavam a direção, mas também pela procissão-dos-camisas-pretas que dominaram a região de Santana, Zona Norte de São Paulo.
Apesar dos percalços pela falta e falha na estrutura do show - a começar pelas filas e pelos “apoiadores de público” próximos às entradas, que mais atrapalhavam do que honravam sua função, a banda de abertura, os americanos do Megadeth, começou prontamente às 19h45. Usando recursos multimídia, sincronizando a luz e as imagens dos telões (atrás de cada músico, no lugar dos amplificadores) a banda mostrou entrosamento e uma porção de solos técnicos, alternados entre o líder Dave Mustaine e o guitarrista Chris Broderick.
Em quase uma hora de show, o Megadeth cumpriu com o dever de abertura e aqueceu o público presente (enquanto alguns ainda chegavam). Incluiu boa parte das músicas mais conhecidas e finalizou com "Holy Wars... The Punishment Due" enquanto nos telões atrás dos músicos aparecia a imagem de uma parede virtual de amplificadores Marshall.
Se na Pista Premium (R$600 + taxas de conveniência) era possível sentir o bumbo da bateria batento no corpo, o mesmo não pode ser sentido para quem comprou a Pista Comum (R$300 + taxas de conveniência). Além do som baixo e com pouco impacto, o público "comum" também sentiu com os espaços reservados pela produtora do evento para Acessibilidade. Em uma área levantada, justamente à frente da Pista Comum e atrás da Pista Premium, muitos que acompanhavam os cadeirantes (ou pessoas com muletas) ficaram de pé durante o show. Isso impossibilitou por completo o público do fundo ver o palco, mesmo à distância.
Assim, muitos saíram do show contentes, mas também frustrados: para ver o show em volume relativamente baixo e apenas através dos telões, talvez fosse mais adequado, e econômico, ficar em casa assistindo a um DVD ou a imagens do Youtube.
Com o fim do show do Megadeth, às 20h45, muitos escolheram o intervalo para ir ao banheiro, comer algo ou reabastecer de cerveja. Surpreenderam quando apenas 20 minutos depois, às 21h05, alguns "cucos humanos" e cantos "olê olê olê olá" soavam no palco. Instantes depois, luzes e sons de sirenes entregavam o autor da voz e o início da apresentação do Black Sabbath.
Com duas horas de shows, os sessentões Tony Iommi, Ozzy Osbourne e Geezzer Butler mostraram muito mais do que vigor nas dezesseis músicas tocadas. Geezer batia a cabeça e parecia bem empolgado; Tony, mesmo enfrentando um linfoma, também se divertia com a música e com as macaquices de seu velho amigo vocalista; e Ozzy, que faz desconfiar de sua real lesera, mostrou porque é um dos melhores cantores de metal: aos 64 anos, ouví-lo ao vivo é surpreendente - sua voz se manteve conservada, apesar de todos os excessos.
Outro ponto dos músicos deve ser destacado: o tratamento dado ao jovem baterista Tommy Clufetos, que substituiu Bill Ward. Se Bon Jovi recorre a uma censura de imagem no Rock In Rio ao ter que substituir dois dos integrantes originais da banda e deixando os substitutos em completo breu, o Black Sabbath optou por uma humildade e companheirismo ao tratar o baterista como um integrante comum e não um mero músico contratado.
E por falar em humildade, incontáveis vezes Ozzy soltou frases fraternas ao público. "Deus os abençoe" e "Nós os amamos" eram distribuídas entre as canções, ao lado da ressalva teatral de que Ozzy não conseguia ouvir a platéia.
O Black Sabbath optou por revisitar as principais canções do seus quatro primeiros discos e distribuir algumas das músicas do recém-lançado 13. Já na primeira música, "War Pigs", era possível sentir a catarse de todos ao presenciarem uma das pontas da tríade do metal (ao lado de Deep Purple e Led Zeppelin). Enquanto o Led buscavam descrever e seguir as escadas para o paraíso, o Sabbath recorreu ao lado oposto, criticando um mundo sujo e caótico, cavando em direção ao inferno dantesco da existência humana.
A segunda música, "Into the Void", deve ser invejada por todos que acham que possuem músicas com bons e pesados riffs. Tony consegue dar uma densidade única através de notas quase minimalistas, sem firulas ou recursos ultra-tecnológicos.
As faixas de 13 escolhidas para serem apresentadas ao vivo se mostraram tão fortes quanto as outras. Tem-se a impressão que a reunião não é resultado exclusivamente de questões financeiras. A banda está no momento certo e completamente sintonizada para não só revisitar o velho songbook, como criar com a mesma competência músicas novas.
Depois das 2 horas do metal clássico, terminando por volta das 23h, o público saiu feliz e realizado por tudo o que testemunharam. E o Black Sabbath, fazendo o mais do mesmo, mostrou que não estava lá para repetir, mas enfatizar os pilares de um heavy metal de personalidade única.
Música
Crítica
Black Sabbath e Megadeth em São Paulo | Crítica
Ozzy e Cia reafirmam os pilares de um heavy metal único
13.10.2013, às 13H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34
Fotos: Codevilla/Agência Cigana/Divulgação
Nota do Crítico
Bom