Música

Crítica

Black Sabbath e Megadeth em São Paulo | Crítica

Ozzy e Cia reafirmam os pilares de um heavy metal único

13.10.2013, às 13H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34

Para quem foi ao Campo de Marte de metrô assistir ao Black Sabbath era possível reconhecer o trajeto de 10 minutos de caminhada não apenas por pessoas do evento que indicavam a direção, mas também pela procissão-dos-camisas-pretas que dominaram a região de Santana, Zona Norte de São Paulo.

Apesar dos percalços pela falta e falha na estrutura do show - a começar pelas filas e pelos “apoiadores de público” próximos às entradas, que mais atrapalhavam do que honravam sua função, a banda de abertura, os americanos do Megadeth, começou prontamente às 19h45. Usando recursos multimídia, sincronizando a luz e as imagens dos telões (atrás de cada músico, no lugar dos amplificadores) a banda mostrou entrosamento e uma porção de solos técnicos, alternados entre o líder Dave Mustaine e o guitarrista Chris Broderick.

Em quase uma hora de show, o Megadeth cumpriu com o dever de abertura e aqueceu o público presente (enquanto alguns ainda chegavam). Incluiu boa parte das músicas mais conhecidas e finalizou com "Holy Wars... The Punishment Due" enquanto nos telões atrás dos músicos aparecia a imagem de uma parede virtual de amplificadores Marshall.

Se na Pista Premium (R$600 + taxas de conveniência) era possível sentir o bumbo da bateria batento no corpo, o mesmo não pode ser sentido para quem comprou a Pista Comum (R$300 + taxas de conveniência). Além do som baixo e com pouco impacto, o público "comum" também sentiu com os espaços reservados pela produtora do evento para Acessibilidade. Em uma área levantada, justamente à frente da Pista Comum e atrás da Pista Premium, muitos que acompanhavam os cadeirantes (ou pessoas com muletas) ficaram de pé durante o show. Isso impossibilitou por completo o público do fundo ver o palco, mesmo à distância.

Assim, muitos saíram do show contentes, mas também frustrados: para ver o show em volume relativamente baixo e apenas através dos telões, talvez fosse mais adequado, e econômico, ficar em casa assistindo a um DVD ou a imagens do Youtube.

Com o fim do show do Megadeth, às 20h45, muitos escolheram o intervalo para ir ao banheiro, comer algo ou reabastecer de cerveja. Surpreenderam quando apenas 20 minutos depois, às 21h05, alguns "cucos humanos" e cantos "olê olê olê olá" soavam no palco. Instantes depois, luzes e sons de sirenes entregavam o autor da voz e o início da apresentação do Black Sabbath.

Com duas horas de shows, os sessentões Tony Iommi, Ozzy Osbourne e Geezzer Butler mostraram muito mais do que vigor nas dezesseis músicas tocadas. Geezer batia a cabeça e parecia bem empolgado; Tony, mesmo enfrentando um linfoma, também se divertia com a música e com as macaquices de seu velho amigo vocalista; e Ozzy, que faz desconfiar de sua real lesera, mostrou porque é um dos melhores cantores de metal: aos 64 anos, ouví-lo ao vivo é surpreendente - sua voz se manteve conservada, apesar de todos os excessos.

Outro ponto dos músicos deve ser destacado: o tratamento dado ao jovem baterista Tommy Clufetos, que substituiu Bill Ward. Se Bon Jovi recorre a uma censura de imagem no Rock In Rio ao ter que substituir dois dos integrantes originais da banda e deixando os substitutos em completo breu, o Black Sabbath optou por uma humildade e companheirismo ao tratar o baterista como um integrante comum e não um mero músico contratado.

E por falar em humildade, incontáveis vezes Ozzy soltou frases fraternas ao público. "Deus os abençoe" e "Nós os amamos" eram distribuídas entre as canções, ao lado da ressalva teatral de que Ozzy não conseguia ouvir a platéia.

O Black Sabbath optou por revisitar as principais canções do seus quatro primeiros discos e distribuir algumas das músicas do recém-lançado 13. Já na primeira música, "War Pigs", era possível sentir a catarse de todos ao presenciarem uma das pontas da tríade do metal (ao lado de Deep Purple e Led Zeppelin). Enquanto o Led buscavam descrever e seguir as escadas para o paraíso, o Sabbath recorreu ao lado oposto, criticando um mundo sujo e caótico, cavando em direção ao inferno dantesco da existência humana.

A segunda música, "Into the Void", deve ser invejada por todos que acham que possuem músicas com bons e pesados riffs. Tony consegue dar uma densidade única através de notas quase minimalistas, sem firulas ou recursos ultra-tecnológicos.

As faixas de 13 escolhidas para serem apresentadas ao vivo se mostraram tão fortes quanto as outras. Tem-se a impressão que a reunião não é resultado exclusivamente de questões financeiras. A banda está no momento certo e completamente sintonizada para não só revisitar o velho songbook, como criar com a mesma competência músicas novas.

Depois das 2 horas do metal clássico, terminando por volta das 23h, o público saiu feliz e realizado por tudo o que testemunharam. E o Black Sabbath, fazendo o mais do mesmo, mostrou que não estava lá para repetir, mas enfatizar os pilares de um heavy metal de personalidade única.

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Fotos: Codevilla/Agência Cigana/Divulgação
Nota do Crítico
Bom

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