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Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres | Crítica

Quadrinista francês leva às telas a vida fabulosa de Serge Gainsbourg

07.07.2011, às 18H51.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H08

É curioso o quanto demorou para a biografia de Serge Gainsbourg (1928-1991) – o cantor-compositor-ator-cineasta-controverso-tesouro-nacional francês – ganhar as telonas, ainda mais numa indústria cinematográfica como a francesa. Mas é mais curioso ainda que a tarefa tenha sido entregue a Joann Sfar como seu primeiríssimo trabalho como roteirista e diretor de cinema.

Sfar não vem do nada. Está, aliás, também a caminho de virar tesouro nacional, mas através dos quadrinhos. Sua carreira nas bandes dessinées já tem mais de 20 anos, uma centena de álbuns e destaques como a missão de adaptar o clássico literário O Pequeno Príncipe para as HQs. Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres (Gainsbourg - Vie Heroique), aparentemente, serve de teste para que ele alcance seu verdadeiro objetivo: adaptar sua série O Gato do Rabino para as telonas, em animação.

Gainsbourg

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Sfar saiu-se bem no desafio, mesmo diante de uma personalidade tão conturbada quanto Gainsbourg: criança durante a ocupação nazista, estudante de pintura que abandonou a carreira, grande adepto de bebedeiras, cantor/compositor que foi da música clássica ao funk, mais bebedeiras, celebridade pop, as conquistas amorosas (já falo delas), as controvérsias (ele gravou o hino nacional francês em ritmo de reggae), mais e mais bebedeiras. E o diretor foi além: encarou a grande armadilha das cinebiografias, tentar condensar acontecimentos de toda uma vida em duas horas.

A solução para evitar os clichês do gênero merece aplausos. Como o roteirista/diretor comenta em entrevistas, não quis fazer uma versão didática da biografia de Gainsbourg, mas sim uma fábula. E o tom de fábula fica claro desde o início, quando Gainsbourg-criança encontra uma figura com traços caricatos de judeus e que parece um boneco de desfile de carnaval, representando a herança judaica que o perseguiu toda a vida.

Pouco mais à frente, nós e o Gainsbourg-jovem somos apresentados a La Gueule (“A Voz”, dublada por Doug Jones de Hellboy). A criatura antropomórfica, caricatura do próprio Gainsbourg com o nariz alongado até parecer um rato, parece representar a audácia do biografado. Como esse, os grilos-falantes de fantasia ressurgem ao longo do filme, acompanhando as decisões e pontos importantes da vida de Gainsbourg. É também um toque autoral de Sfar, pois os bonecos lembram seus desenhos.

A produção também dá atenção merecida à relação de Gainsbourg, conquistador amoroso cheio de audácia - pois não era nem de longe um galã -, com Brigitte Bardot (interpretada de forma caricaturesca pelos 89 cm de busto de Laetitia Casta) e ao casamento com a cantora inglesa Jane Birkin (Lucy Gordon, de Bonecas Russas). A primeira rende as cenas mais engraçadas do filme, como a em que os pais de Gainsbourg descobrem que ele tem um relacionamento “com Brigitte Bardot!”. Já a segunda gera tanto cenas de tristeza quanto de alegria, como a relação do biografado com as filhas - entre elas, a hoje atriz Charlotte Gainsbourg (Anticristo, The Science of Sleep).

Conta-se, aliás, que Sfar queria a própria Charlotte para interpretar Serge, mas não conseguiu convencê-la (o que daria uma nova camada de significados freudianos ao filme). O ator escolhido, Éric Elmonsino, está excelente no papel não apenas por adaptar-se às variadas caras e momentos da vida do biografado, mas também pela semelhança física com ele.

Estas soluções variadas de Sfar para o filme dão um gosto diferente ao que se poderia esperar de uma cinebiografia. É necessário conhecer um pouco da vida do músico para entender algumas cenas, principalmente as mais fabulosas – mas isso é desnecessário se a sua preocupação for apenas sentar-se no cinema e curtir a fábula. O porém é que, depois da primeira hora de filme, o roteiro parece apressar-se para conseguir colocar na tela uma vida de realizações. Os 70 minutos restantes avançam entrecortados para dar conta da história. Se fosse mantida a fábula, o resultado seria menos didático, mas sem dúvida mais criativo.

Nota do Crítico
Ótimo
Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres
Gainsbourg (Vie Héroïque)
Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres
Gainsbourg (Vie Héroïque)

Autor: Joann Sfar

Ano: 2010

País: França/EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 130 minutos min

Direção: Joann Sfar, Joann Sfar

Roteiro: Joann Sfar

Elenco: Eric Elmosnino, Lucy Gordon, Laetitia Casta, Doug Jones, Anna Mouglalis, Mylène Jampanoï, Sara Forestier, Dinara Drukarova, Philippe Katerine, Eric Elmosnino, Anna Mouglalis, Doug Jones, Yolande Moreau

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