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Nos palcos da Londres do Século 17 o oficío de atriz era proibido para as mulheres. Isso, no entanto, não impedia a presença de figuras femininas nas peças. Nessa época, homens eram treinados arduamente em técnicas específicas para se passarem por mulheres, algo visto com grande respeito pelo público.
Ned Kynaston foi um dos maiores atores/atrizes de seu tempo. Realmente existiu e foi aclamado como "a mais bela mulher dos palcos", tendo como seu ponto alto a interpretação de Desdêmona em Otelo, de Shakespeare. Em A bela do palco (Stage Beauty, 2004), tal figura é interpretada por Billy Crudup, ator de grande talento (conhecido por Peixe grande e Quase famosos), mas geralmente subaproveitado. Não é o caso aqui. Egresso do teatro, Crudup dá um banho de interpretação como Kynaston. Igualmente empolgante é a atuação de Claire Danes, que vive a camareira do ator, a rebelde e apaixonada Marie.
O longa, baseado na peça de Jeffrey Hatcher (que também assina o roteiro do filme), trata de mudanças sociais. Marie quer ser atriz como o empregador e, para tanto, pratica escondida as técnicas, observando-o. Sua chance chega quando Kynaston inadvertidamente enfurece um nobre (Richard Griffiths, o Tio do Harry Potter) que o toma como uma prostituta, colocando em andamento eventos que fazem com que o Rei Charles II (Rupert Everett, ótimo) libere a presença de mulheres nos palcos. Apadrinhada pelo nobre, Marie começa a atuar e logo é um sucesso, causando o ódio de Ned, agora sem emprego, prestígio ou mesmo amante, já que o duque com quem ele costumava sair (Ben Chaplin) o renega quando ele é forçado a abandonar os vestidos. Nesse momento de transição, ele é forçado a reencontrar seu papel, tanto nas peças como na vida.
A direção de Richard Eyre (Iris) tem nas seqüências das montagens teatrais seus melhores momentos. A predileção do cineasta pelos palcos - já que também dirige peças com freqüência - fica extremamente evidente em todas as cenas sobre um tablado. A arte da atuação também é constantemente laureada, bem como a evolução das peças teatrais da dura estética anterior para o chocante realismo da modernidade.
A excelente atuação do elenco, aliada à recriação histórica impecável e ao interessante roteiro tornam A bela do palco um bom drama. Mas para aproveitá-lo de verdade é preciso concentrar a atenção nesses pontos e não buscar outros significados. Dá até pra encontrar metáforas sobre a sexualidade nele, mas estas são um tanto equivocadas. Deixá-las de lado em favor da diversão ajuda a entrar no filme e desfrutá-lo.
Ano: 2004
País: EUA, Inglaterra
Classificação: 16 anos
Duração: 110 min
Direção: Richard Eyre
Roteiro: Jeffrey Hatcher
Elenco: Claire Danes, Billy Crudup, Tom Wilkinson, Ben Chaplin, Hugh Bonneville, Alice Eve, Fenella Woolgar, Stephen Marcus, Richard Griffiths, Rupert Everett, Edward Fox, Tom Hollander