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Redenção | Crítica

Rambo da geração neoconservadora prega que todo ato é válido se você simplesmente acredita nele

15.12.2011, às 20H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H32

Uma crítica que se fazia ao primeiro Tropa de Elite é que era um filme tão averso à teoria - o negócio de Capitão Nascimento é partir logo para a prática - que termina moral e politicamente difuso. Redenção (Machine Gun Preacher) sofre deste e de outros problemas.

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O drama do diretor Marc Forster (007 - Quantum of Solace, Em Busca da Terra do Nunca) conta a história real de Sam Childers, interiorano dos EUA que, depois de sair da cadeia, encontrou Cristo, largou as drogas e o crime e, influenciado por um missionário católico, partiu para a África. Em 30 anos, Childers construiu um orfanato para vítimas da guerra civil no Sudão e ganhou o apelido de "pastor da metralhadora". Críticos de Childers - como uma médica sem fronteiras que aparece no filme - enxergam nele um mercenário que responde a bala, como seus inimigos, os radicais sudaneses, aos conflitos da região.

"Falar de paz em uma sala é perda de tempo", diz Childers (Gerard Butler) no filme a um dos políticos do Sudão. O que soa apenas como uma reação pragmática à passividade da diplomacia no fundo revela a incapacidade do personagem de enxergar contextos e de colocar suas ações em perspectiva. Na interpretação imprecisa de Butler - o escocês está longe de passar credibilidade como um caipira motoqueiro - e na condução omissa de Forster, Childers se esvazia e se infantiliza.

Logo nos primeiros embates de Childers com a "realidade", ao sair da prisão, o que nos chama a atenção é a sua surpresa diante do óbvio: ele injeta heroína de noite e, na manhã seguinte, olha-se no espelho com choque, como se nunca tivesse passado por uma ressaca. Ao mesmo tempo, as elipses que o roteirista Jason Keller impõe ao filme tiram de Childers suas etapas de aprendizado, a assimilação do erro - ele passa por uma experiência, qualquer experiência, e em seguida reage em direção oposta. Ao chocar-se com as drogas, por exemplo, larga-as logo depois. Não há um processo, uma reflexão no filme sobre essas experiências.

Fica claro, a certa altura, que essa opção de descomplicar o mundo é feita para encampar a visão simplista do pastor Childers - que diz em sua igreja que tudo é uma questão de ação, que "tudo que você precisa é abrir a porta e deixar Jesus entrar". Daí a perplexidade do personagem diante de revezes, como na cena em que ele mata uma criança africana durante uma caçada aos radicais e, só então, o filme questiona as motivações de Childers.

Não se engane com questões inseridas ao longo do filme para satisfazer uma suposta abrangência. Como em Tropa de Elite, elas existem ali para "compor um painel complexo" (o amigo largado nos EUA, o comentário sobre o capitalismo), mas se perdem na cacofonia moral de Redenção.

Quando o verdadeiro Childers aparece nos créditos finais defendendo seus atos - "Se você perdesse o seu filho e eu o trouxesse de volta, importaria como eu trago?" - e a foto do inimigo sudanês é exposta em retrato (só falta o letreiro "procura-se" embaixo), fica claro que o filme corrobora mais com o caçador-de-recompensas do que com o abnegado humanitário. É possível que Childers seja muito mais complexo na vida real, mas no filme ele representa a miopia geopolítica e a indevida apropriação religiosa dos anos Bush: agir como se seus atos se justificassem, certos ou errados, porque Childers ACREDITA nesses atos.

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Nota do Crítico
Ruim
Redenção
Machine Gun Preacher
Redenção
Machine Gun Preacher

Ano: 2011

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 129 min

Direção: Roberto Pires

Elenco: Geraldo Del Rey, Braga Netto, Maria Caldas, Milton Gaucho

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