Quando chegar aos cinemas em 2022, Batman obviamente trará diversas referências visuais e narrativas a alguns dos maiores clássicos do herói. Ainda assim, uma das características mais marcantes do Cavaleiro das Trevas de Robert Pattinson pode ser sua tendência à autodestruição, explorada no clássico moderno Batman: Ego, de Darwyn Cooke, e na elogiada “Eu Sou Suicida”, história escrita por Tom King para a revista principal do Homem Morcego.
No arco de King, Bruce e Selina Kyle trocam cartas sobre seus traumas e as motivações que os levaram a assumir suas identidades de Batman e Mulher-Gato, respectivamente. À amada, Wayne admite a bizarrice e a graça no fato de ele se vestir como um morcego gigante e passar noites e mais noites caçando criminosos e revela que, na realidade, sua guerra contra o crime não é uma busca por vingança, mas um impulso suicida vindo do desejo de se juntar aos pais, mortos quando ele ainda era criança.
O trailer de Batman lançado na edição de 2021 do DC FanDome mostrou o Cavaleiro das Trevas com uma atitude assustadoramente despreocupada ao ser atingido por tiros de pistolas e submetralhadoras. Enquanto essa indiferença condiz com a aura amedrontadora que o herói tenta passar, ela ilustra também a falta de amor próprio de Bruce e o quanto ele vê sua morte com bons olhos. Em determinado momento da prévia, Bruce diz a Alfred (Andy Serkis) que não se importa com o que pode acontecer com ele mesmo no final de sua cruzada, colocando, assim como nos quadrinhos, esse desejo suicida em palavras.
Essa ligação com “Eu Sou Suicida” pode inclusive adiantar a importância que Selina (Zoe Kravitz) terá na narrativa de Matt Reeves. No arco de King, o Batman diz à Mulher-Gato que sua dor desaparece quando os dois estão juntos e essa influência positiva pode ser sentida nos poucos diálogos adiantados pelo trailer revelado neste sábado (16). Seja ajudando Bruce a aceitar sua vida sem o capuz ou controlando a crueldade de seus atos na hora de enfrentar seus inimigos.
Ego
O fator psicológico, especialmente a visão de um Bruce Wayne exausto e próximo ao seu limite físico e mental, é também a principal questão trazida por Darwyn Cooke em Ego, publicada em 2000. Na história, um Batman tomado pelo sentimento de culpa por não conseguir evitar o massacre de uma família retorna perturbado à batcaverna, onde suas duas personas começam a discutir o propósito e os métodos do Homem Morcego e as consequências trazidas por sua regra de não matar seus oponentes.
Há meses, Reeves tem falado sobre a influência direta que Ego teve em seu processo de contrução de Bruce Wayne, o que ficou claro no trailer mais recente de Batman. Diferente de "Eu Sou Suicida", que mostra o herói explicando suas escolhas, a HQ de Cooke mostra uma jornada de autoconhecimento e questionamento que para o Cavaleiro das Trevas, que nunca ficou parado por tempo o bastante para enfrentar de fato seus demônios interiores. Assim como essa contraparte específca do personagem, o Batman de Pattinson parece constantemente no limite da insanidade, seja com ou sem o capuz.
Esse novo Batman parece agir com uma brutalidade quase psicótica, o que causa um visível desgaste à físico e mental. Trazendo à tona o debate de uma luta inacabável contra criminosos cada vez mais implacáveis, Reeves pode dar tanto ao Cruzado Encapuzado quanto a Bruce Wayne uma profundidade única, explorada pela guerra travada na cabeça do personagem, cuja visão de si mesmo varia entre anjo vingador e monstro, uma dualidade que, até o momento, foi apenas insinuada de forma discreta nas telonas.
Mesmo que Batman: O Longo Dia das Bruxas e Batman: Ano Um sejam as principais influências narrativas e visuais para o filme, grande parte do subtexto de Batman deve se apoiar em Ego e “Eu Sou Suicida”. A veia psicológica trazida por Cooke e King para as HQs pode ser usada pelo cineasta como a grande diferença entre sua versão do Cavaleiro das Trevas e as desenvolvidas por seus antecessores nos últimos 32 anos.
Enquanto Tim Burton, Christopher Nolan e Zack Snyder deram a Bruce um escape para sentimentos de culpa e fúria na luta contra o crime, o Batman de Reeves usa seu capuz como uma ferramenta de autodestruição indireta. Inconsequente, o herói deixa seu flagelo na mão dos criminosos que dominam as ruas de Gotham e se joga nesse cenário potencialmente letal como forma de driblar a responsabilidade que tem sobre a própria vida.
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DC FanDome
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