Março acabou, e as questões do Mês Internacional da Mulher ficaram em segundo plano na pauta geral com a pandemia do Covid-19. Elas não deixam de ser urgentes, porém, e um lançamento no Spcine Play - que continua gratuito no primeiro mês de uso - traz para a frente mulheres cineastas de destaque. É o documentário Women Make Film, em cinco episódios, que integra a programação do festival de documentários É Tudo Verdade dentro da plataforma.
A série dirigida por Mark Cousins reúne mais de mil cenas de filmes rodados por 183 mulheres diretoras desde o surgimento do cinema, com narração de atrizes como Tilda Swinton e Jane Fonda. A análise das cenas se debruça sobre os formatos, os temas, os personagens e a linguagem desse universo muito vasto, difícil de ser catalogado numa caixinha de "cinema feminino" supostamente homogêneo. Em homenagem a essa série, escolhi como dicas nesta semana sete filmes feitos por mulheres que estão também à frente do cinema feito hoje no mundo. Boas sessões e não deixe de assinar nossa newsletter para receber as dicas antes de todo mundo.
Lazzaro Felice
Prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes de 2018, o drama escrito e dirigido por Alice Rohrwacher tece comentários sobre a Europa de hoje à luz das relações tensionadas pelo capitalismo tardio, mas numa chave fabular - e até certo ponto otimista - que não deixa essa comovente história cair no panfletarismo ou no denuncismo mais fácil.
Disponível na Netflix.
O Atalho
O filme de 2010 refaz a parceria entre a atriz Michelle Williams e a diretora Kelly Reichardt, que havia começado no drama pós-crise financeira Wendy and Lucy, pilar da obra de Reichardt. Desta vez ela se debruça sobre o faroeste, mas com um olhar novo que oferece uma alternativa ao mundo masculino de violência que costuma marcar o gênero. O Atalho é um grande faroeste feminista, e seus questionamentos - como organizar uma nova ordem do mundo a partir da conciliação e não da destruição - servem para muita coisa hoje em dia.
Disponível no Amazon Prime Video.
Deixe a Luz do Sol Entrar
Principal e mais influente mulher cineasta em atividade no mundo, a francesa Claire Denis ajudou a moldar o chamado cinema de fluxo que se multiplicou em festivais desde o final dos anos 90. Cada vez mais, porém, ela deixa os vanguardismos para exercitar seus músculos dentro das restrições do cinema de gênero, como é o caso desta comédia romântica. Juliette Binoche faz uma artista plástica parisiense, mãe divorciada à procura do amor. Denis consegue arejar os clichês do gênero e o resultado é frequentemente mais bem sucedido do que em alguns dos seus filmes mais "difíceis".
Disponível no Telecine Play.
Zama
O que Kelly Reichardt faz com o faroeste em O Atalho, a argentina Lucrecia Martel faz com o épico histórico em Zama: um olhar que desconstrói ilusões de grandeza e autoimportância e se infiltra num universo primordialmente masculino para entender seu funcionamento, seu lugar neste novo século. Além de ser um dos principais nomes do cinema latinoamericano dos últimos vinte anos, Martel é a prova incontestável de que lugar de mulher no cinema não é apenas falando de temas da feminilidade.
Disponível no Telecine Play. Confira a nossa crítica.
Beach Rats
Vencedora do Grande Prêmio do Júri do Festival de Berlim neste ano, pelo drama Never Rarely Sometimes Always, a roteirista e diretora Eliza Hittman (que já dirigiu episódios de 13 Reasons Why) começou a despontar no cinema independente com esse drama sobre "ratos de praia". Um adolescente em luto que passa o verão com seus amigos em Coney Island acumula descobertas enquanto tenta entender sua orientação sexual. Hittman aborda a homossexualidade frontalmente de forma sensível e analisa como fobias sociais e afetos mal resolvidos maculam as experiências mais profundas.
Disponível na Netflix.
Histórias que só Existem quando Lembradas
Bem antes de Bacurau, Julia Murat já tratava do apagamento das pessoas esquecidas pela História, pelo motor do futuro, e de como é possível preservar a vida, a imagem e a presença dessas pessoas a partir de gestos de cidadania e empatia. O filme de 2011 é o seu primeiro longa de ficção e, nessa viagem às fantasmagorias literais e metafóricas do Vale do Paraíba, Murat consegue migrar sutilmente para a fabulação sem ignorar os potenciais do olhar documental atento.
Disponível no Looke e SPCine Play. Confira nossa crítica.
The Invitation
A diretora de Garota Infernal, Karyn Kusama, navega muito bem por clichês de gênero neste suspense, como já havia mostrado no terror estrelado por Megan Fox. Aqui o subgênero é do terror de armadilha, e a diretora não se furta a enveredar pelos prazeres de sadismo e comentário social que costumam marcar esse tipo de filme. Logan Marshall-Green está muito bem no papel de um pai que perdeu o filho e, preso no luto, se vê refém de uma espiral de paranoia. Kusama lida muito bem com quebras de expectativas: a trama parece óbvia no começo e a diretora vai equilibrando as revelações sem nos deixar sempre na ponta da cadeira.
Disponível na Netflix.