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Crítica

Salvo - Uma História de Amor e Máfia | Crítica

Premiado filme de máfia italiano cria conto de fadas sensorial

01.10.2013, às 13H40.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Grande prêmio da Semana da Crítica no Festival de Cannes, o filme italiano Salvo, estreia em longas dos diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, faz uma interessante variação dentro do subgênero dos matadores sensíveis - aqueles assassinos profissionais que, por terem os sentidos mais aguçados, respondem dramaticamente aos estímulos do mundo.

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Salvo (Saleh Bakri) é motorista e guarda-costas de um chefe da Máfia em Palermo. O filme abre com uma emboscada, que Salvo percebe no retrovisor do carro. Os olhos do ator palestino são iluminados de forma quase barroca - imagem que foi parar no pôster do filme e já anuncia a disposição dos diretores para tratar Salvo como uma criatura não só hipersensível mas também glamourizada. Seus olhos têm a tristeza dos anti-heróis condenados.

Terminada a emboscada, Salvo consegue extrair de um bandido a identidade do mandante. A cena seguinte é um plano-sequência de dez minutos em que o protagonista invade a casa do mandante e encontra lá uma garota cega, Rita (Sara Serraiocco), cuja vida Salvo poupa, misteriosamente. A relação entre Salvo e Rita - cada um deles, hipersensível a seu modo - se torna então o objeto do filme.

Ambientar um filme policial desse tipo no meio da Sicília é, desde o começo, o principal atrativo de Salvo. A luz extrema do Mediterrâneo já estimula os sentidos por si só, mas nas ruas de Palermo há muito mais: barulhos de cães, de motores, de cozinhas, de tiros. Aos poucos percebemos que o que cega Rita é justamente a forma como ela é exposta a esses elementos - uma exposição que o matador profissional já aprendeu a dominar.

Grassadonia e Piazza filmam essa história do único jeito possível: como uma experiência à flor da pele, jogando bastante com o extracampo (não só os sons da cidade, mas também a ação frequentemente fica fora do quadro). O resultado mais impressiona do que necessariamente cativa, porém. Passado o impacto inicial - o plano-sequência na casa do mandante, que vai do breu à luz total, é um milagre de iluminação de cena - a mão pesada torna um pouco esquemático esse exercício de estilo (como no clímax, em que o extracampo, os barulhos e a poeira na usina já soam exagerados).

No plano final, além do barulho do mar que mal conseguimos ver, chegam sons de crianças brincando. Isso não deixa de ser curioso, porque as escutamos, mas mal vemos crianças no longa inteiro. É nesse ponto que Salvo se mostra diferente de Gomorra, por exemplo, que expunha crianças a seu registro determinista da Máfia de Palermo. A intenção de Salvo é outra: partir da realidade e saturá-la, criar um conto de fadas com donzelas e cavaleiros, fabular enfim uma realidade para si.

Em Salvo não aparecem crianças porque as crianças, naquilo que têm de inocência ou de crueldade, estão representadas pelos adultos. E o que é descobrir o mundo pelo tato, pela visão e pela audição como se fosse pela primeira vez, senão uma coisa da infância.

Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013

Nota do Crítico
Bom
Salvo, Uma História de Amor e Máfia
Salvo
Salvo, Uma História de Amor e Máfia
Salvo

Ano: 2013

País: Itália, França

Classificação: 14 anos

Duração: 103 min

Onde assistir:
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