Há um ano, o Omelete foi até Wellington, na Nova Zelândia, para acompanhar as filmagens de Máquinas Mortais (Mortal Engines), adaptação aos cinemas dos livros de Philip Reeve. A produção acontecia há alguns minutos da casa de Peter Jackson, mas os jornalistas presentes só conseguiram conversar com o produtor no último dia da visita, esticada para permitir a entrevista. "Ele está trabalhando também em outras coisas, quer fazer filmes menores neozelandeses e não só blockbusters americanos", explica sua equipe.
Em pessoa, Jackson fala como um realizador que já passou por altos e baixos, já trocou os horrores de baixo orçamento pelos maiores arrasa-quarteirões de Hollywood, já viveu sucessos e decepções profissionais. "Tudo o que você pode fazer, seja como diretor ou produtor, é realizar filmes que você gostaria de assistir", diz Jackson, que em Máquinas Mortais promoveu Christian Rivers, colaborador de O Senhor dos Anéis e O Hobbit (primeiro como supervisor de efeitos visuais e depois como diretor de segunda unidade), a diretor.
A escolha por Rivers - que recebeu um Oscar em 2005 por seu trabalho nos efeitos visuais de King Kong - já era esperada. "Por causa dos cinco anos produzindo O Hobbit, percebemos que talvez não tenhamos tantos anos ainda, Fran [Walsh] e eu, para os outros tantos projetos que queremos desenvolver. Como eu já queria produzir Christian e teríamos dois anos para os direitos [de Máquinas Mortais] expirarem, entregar esse projeto para Christian foi uma boa maneira de manter o filme vivo, enquanto desenvolvemos outras coisas." Jackson elogia o protegido estreante: "Se você chorou vendo a história de um gorila gigante em Kong, Christian é um grande responsável por isso".
Além de produzir o filme, Jackson escreve o roteiro com Fran Walsh e Philippa Boyens. Ele comenta que o filme não seguirá tanto a pegada steampunk do livro: "Fomos para um mundo mais futurista em vez de voltar à ideia vitoriana". Mortal Engines é o primeiro livro de uma série em quatro volumes, conhecidos por Hungry City Chronicles. Sobre potenciais continuações, Jackson joga seguro: "Os livros vão ficando melhores que o primeiro, então espero que se torne uma franquia, mas não temos essa pressão. Hollywood hoje não está muito interessada em criações originais que não se tornem franquias, e espero que esse momento passe".
"Quando começamos a área digital da Weta e o espaço aqui [de produção dos filmes em Wellington], havia uma pressa de gerar conteúdo, mas esse tempo passou. Hoje não temos a mesma pressão de 10, 15 anos atrás, e o pessoal da Weta Digital está trabalhando o tempo todo", diz Jackson, que mantém uma rotina de trabalho aliada a seus hobbies. "Quando eu era criança, fazia modelos de avião e filmes em Super 8 como hobby, e mantenho o aeromodelo até hoje, para desestressar. Até hoje nunca sentei para assistir a Game of Thrones, não tive tempo, mas ainda quero fazer isso."
"Quando acabarmos Máquinas Mortais, temos outro filme de Tintim com [Steven] Spielberg me esperando pacientemente, e é algo que temos na nossa lista", comenta Jackson sobre os tais projetos futuros. O diretor se diz ainda interessado por avanços tecnológicos. "Os dois últimos O Hobbit aprenderam um pouco com o primeiro, que era muito lavado [na imagem], e isso é algo que corrigimos. Você sempre aprende com os erros. Caras como [James] Cameron, eu e outros tentamos fazer filmes mais imersivos. Sei que em Avatar ele vai achar um jeito de avançar tudo de novo. Sempre é interessante quando alguém pensa nos avanços do cinema do ponto de vista da tecnologia."
A história de Máquinas Mortais se passa num mundo pós-apocalíptico, devastado por um grande holocausto nuclear conhecido como a Guerra dos 60 Minutos. Os humanos agora sobrevivem através de um sistema de "darwinismo municipal", em que as cidades são máquinas gigantes que precisam consumir umas às outras para sobreviver. O filme tem no elenco Hugo Weaving (O Senhor dos Anéis, Matrix), Robert Sheehan (Fortitude), Colin Salmon (Limitless), Hera Hilmar (Anna Karenina), Ronan Raftery (Animais Fantásticos e Onde Habitam) e Stephen Lang (Avatar), entre outros.
A adaptação chega aos cinemas em 14 de dezembro.