Conforme o filme Baby, de Marcelo Caetano, foi fazendo o seu caminho pelos festivais nacionais e internacionais durante o ano de 2024, uma comparação em específico pareceu persegui-lo: Felizes Juntos, clássico de 1997 do diretor Wong Kar-Wai sobre um casal gay de Hong Kong que se reúne na periferia da Argentina. Em entrevista ao Omelete, o cineasta falou do paralelo feito pelos críticos, e de sua admiração por Kar-Wai.
“Amores Expressos e Felizes Juntos estão entre os filmes que eu mais assisti na minha vida. Acho muito interessante quando assistem ao Baby e me dizem que tem uma ponte entre ele e os filmes do Wong Kar-Wai”, admite ele. “Mas gosto de lembrar sempre, também, que o meu filme surgiu muito de uma tradição brasileira”.
Caetano cita, então, uma lista extensa de influências nacionais - a começar por Pixote: A Lei do Mais Fraco (1980), de Hector Babenco: “É um filme super importante, que conversa muito com Baby. Trata do nosso sistema sócio-educativo, da questão das famílias alternativas que se formam em um ambiente marginal ou, entre aspas, criminoso. Isso sem contar que ele filma muito as pensões do centro de São Paulo, que são um ambiente muito marcante em Baby, quase um personagem do filme”.
Outros títulos que surgem na conversa são A Hora da Estrela, de Suzana Amaral (“me ensinou muito - principalmente sobre como filmar essas mesmas pensões”); São Paulo, Sociedade Anônima, de Luiz Sérgio Person (“[como em Baby] ele tem esse jovem meio perdido, tentando encontrar lugar na cidade”); Madame Satã, de Karim Aïnouz (“Como não conversar com ele? A proximidade da câmera, dançando com os corpos, mostrando os poros”); e até Tatuagem, de Hilton Lacerda, em que Caetano foi assistente de direção (“Se Baby é um filme sobre as cicatrizes que o amor nos deixa, Tatuagem é sobre essas marcas que a gente escolhe colocar no corpo para lembrar de um amor”).
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Quando se trata do cinema de Kar-Wai, enquanto isso, a inspiração passa mais por escolhas estéticas do que temáticas: “Sempre me interessou a forma como ele filma coisas extremamente reais, da humanidade, do corpo das pessoas, da proximidade entre elas, mas faz isso com uma estilização que me interessa, seja pelo uso da câmera, pela direção de arte, pela cor. Ele ensina como pegar uma coisa que é super real, super do cotidiano - as feiras da cidade, os centros comerciais, as galerias -, e fazer disso algo cinematográfico”.
Em Baby, o personagem título (João Pedro Mariano) se envolve com a prostituição após ser liberado da Fundação Casa, tendo o experiente Ronaldo (Ricardo Teodoro) como seu mentor. O longa chega ao circuito comercial brasileiro em 9 de janeiro.