Filmes

Crítica

Com Amor, Simon - Crítica

Despretensioso e leve, filme acerta como poucos na hora de falar tanto da ótica adolescente quanto da LGBT

05.04.2018, às 20H30.
Atualizada em 06.04.2018, ÀS 13H30

Com Amor, Simon, adaptação cinematográfica do livro Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens, traz uma proposta bastante simples, mas frequentemente mal executada: mostrar a rotina padrão de um adolescente, com a avalanche de novas experiências comuns ao período, através da ótica LGBT. Parte considerável dos produtores de conteúdo ainda tem dificuldade de encontrar a medida certa no que diz respeito a mostrar que a vida de, por exemplo, um rapaz gay não se resume à sua orientação sexual, mas que muito de sua vivência e formas de encarar situações cotidianas é, sim, influenciada por isso. O filme acerta o ponto com maestria e consegue contar a história de Simon (Nick Robinson), um adolescente que está mudando a forma de encarar a própria homossexualidade, sem resumir a existência dele a esse aspecto, mas também sem ter medo de dar o peso que essa parcela de sua personalidade deve ter.

O sucesso na escolha do tom do filme pode ser creditado ao diretor Greg Berlanti, que, apesar de não ser um nome tão conhecido no cinema - esse é apenas o terceiro filme dirigido por ele -, é bastante relevante no mundo da televisão. Berlanti está há bastante tempo familiarizado com a rotina de falar com adolescentes e jovens adultos sem ruídos etários na comunicação e isso é fruto de sua experiência como produtor de séries como ArrowThe FlashSupergirlRiverdaleLegends of Tomorrow e Raio Negro. Essa bagagem profissional reverbera em Com Amor, Simon quando Berlanti acerta em coisas como a linguagem adolescente e as referências culturais, passando longe de criar situações que soem forçadas ou exageradas.

Há algo de muito interessante no filme ao não colocar o protagonista ao redor dele uma redoma imaculada. Paralelamente às suas tentativas de sobreviver ao inóspito ambiente escolar, Simon acaba metendo os pés pelas mãos e tomando decisões questionáveis em outros campos de sua vida.  Como uma bola de neve, conforme o personagem tenta se livrar de uma situação desconfortável, vai gerando outras e a forma como isso se desenrola na trama merece ser elogiada. A simplicidade na confusão de Simon é algo que só poderia ser de fato justificado pela imaturidade adolescente, fase onde muito do que as pessoas aprendem na vida parte da lógica de tentativa e erro.

Se o filme é um deleite para o público LGBT, pela identificação com situações-chave que são conduzidas com a mesma leveza e naturalidade aplicaa em narrativas focadas em jovens personagens heterossexuais, o filme também garante a identificação do público fora desses espectro. Isso pelo fato de que o grande pano de fundo acaba sendo a adolescência: valores como amizade, curiosidade, descobertas e conflitos típicos por não saber lidar direito com os sentimentos permeiam a história inteira. A amizade e os problemas presentes no grupo formado por Simon, Leah (Katherine Langford), Abby (Alexandra Shipp) e Nick (Jorge Lendeborg Jr.) flui de forma sincera e agrada o espectador. Langford, aliás, surpreende positivamente mesmo dando vida a uma personagem que carrega vários paralelos com a personalidade de seu papel mais emblemático até então, a Hannah Baker de 13 Reasons Why.

O filme também garante cenas emocionantes sem precisar fazer um esforço descomunal - a sensibilidade que brota das relações interpessoais é muito orgânica. Com Amor, Simon acerta ao não abordar a orientação sexual do protagonista dentro da lógica da descoberta, ou seja, como algo que não estava ali e, de repente, apareceu. O autoentendimento é mostrado como um processo e, mesmo assim, não é o foco da história do personagem. O filme basicamente funciona dentro do recorte momentâneo em que, pela primeira vez, o que acontece dentro de Simon interage com o meio externo - o receio dele em sair do armário diz mais sobre a sociedade e as pessoas a sua volta do que sobre o protagonista, no fim das contas.

Essa dicotomia entre o medo de se expressar e a necessidade de confrontar lugares-comuns que pontuaram erroneamente sua vida gera interações realmente cativantes ao longo do filme. Vale o destaque para o núcleo familiar de Simon: Jennifer Garner vive Emily, a moderna mãe do jovem, e comanda sem dificuldades o momento mais carregado de emoção do filme durante um diálogo crucial entre ela e o filho. Josh Duhamel, que vive o pai Jack, dá vida a um estereótipo mais comum do que seria desejado de pai que comete erros involuntariamente pontuais e, verdade seja dita, não consegue imprimir a mesma fluidez e intensidade de Garner, mas não compromete a mensagem de seu personagem e diverte.

Com Amor, Simon não reinventa a roda, mas para de tentar fazer com que ela gire como se fosse um quadrado. O filme dá conta do recado com um roteiro simples e despretensioso e coloca o público em uma montanha-russa - ou, mais adequadamente, uma roda-gigante - que vagueia por momentos de romance, drama, comédia. O próprio fato do filme se propor a contar uma história que não seja revolucionária ou grandiosa já é um passo importante na missão de avançar em questões ligadas à representatividade LGBT. Berlanti acerta na linguagem e na intensidade de todas as situações apresentadas e o resultado disso é uma sensação de leveza e empatia ao sair do cinema. Com a premissa de que "todo mundo merece uma grande história de amor", Com Amor, Simon mostra o quão óbvio e simples deveria ser aceitar - e respeitar - essa máxima.

Nota do Crítico
Ótimo
Com Amor, Simon
Love, Simon
Com Amor, Simon
Love, Simon

Ano: 2017

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 127 min

Direção: Greg Berlanti

Roteiro: Becky Albertalli, Isaac Aptaker, Elizabeth Berger

Elenco: Sean O'Donnell, Alex Sgambati, Patrick Donohue, Roy Coulter, Tyson Love, James Sterling, Josh Royston, Jodi Houck, Abigail Houck, Collin McHugh, Jönah-Blainé Bowling, Briana Estevez, Joshua Mikel, Natalia Tureta, Baz Ma, Samantha Bulka, Christian Ojore Mayfield, Mandy Fason, Alyssa Riley Burrell, Haroon Khan, Cassady McClincy, Terayle Hill, Tyler Chase, David Copeland Brown Jr., Nancy De Mayo, Colton Haynes, Mackenzie Lintz, Joey Pollari, Clark Moore, Drew Starkey, Natasha Rothwell, Tony Hale, Skye Mowbray, Talitha Bateman, Logan Miller, Miles Heizer, Keiynan Lonsdale, Jorge Lendeborg Jr., Alexandra Shipp, Katherine Langford, Nye Reynolds, Bryson Pitts, Jennifer Garner, Josh Duhamel, Nick Robinson

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.