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Crítica

Crítica: Senna

Documentário aumenta mito em torno do piloto

11.11.2010, às 20H13.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H11

A geração passada se lembra até hoje onde estava no dia em que o homem pisou na lua. A atual tem duas datas bem mais tristes para guardar: 11 de setembro de 2001 e, antes dela, 1º de maio de 1994. Foi naquele cinzento domingo que uma batida, algo até que corriqueiro entre os esportes de motor, entristeceu o mundo. O capacete amarelo acostumado a vitórias estava imóvel e tombado mostrando o fim de um herói.

A morte de Ayrton Senna da Silva (1960-1994) é parte do documentário Senna (2010), mas não é o seu assunto principal. O filme da britânica Working Title, mais conhecida por comédias românticas como Quatro Casamentos e Um Funeral, reforça a ideia de Senna como um mito, alguém que beirava à perfeição não só dentro das pistas, mas também fora delas. Diferente do formato tradicional do gênero, Senna não tem entrevistados parados, olhando para a câmera. Usando o vasto acervo das TVs que cobrem a Fórmula 1 e, pela primeira vez, os arquivos da Família Senna e da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), o longa-metragem reconstrói a carreira de Senna desde um campeonato mundial de kart, em 1978. "Aquilo era corrida de verdade. Não havia política envolvida", relembrava Senna.

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Senna era viciado em vencer. Em um dos momentos ele diz que quando estava no cockpit era como se estivesse dentro de um túnel e que todo o mundo ao seu redor deixasse de existir. No mundo real, porém, as coisas eram bem diferentes, cheias de interesses comerciais e políticos. Ele começou a perceber isso no já famoso GP de Mônaco de 1984, em que levou sua limitada Toleman até o pódio - e só não venceu porque a corrida foi encerrada antes da hora, com vitória de Alain Prost. O francês se tornaria seu maior rival e protagonizaria disputas dentro das pistas e nos bastidores, como as conturbadas decisões das temporadas de 89 e 90 no Japão. Mas se Prost é o Darth Vader, Jean-Marie Balestre (presidente da FIA na época) é o Imperador Palpatine, que em uma reunião de pilotos não pensa duas vezes antes de bravejar "A decisão correta é a minha decisão".

São momentos como estes, nunca antes vistos pelo grande público que fazem a diferença em relação a outros documentários ou reportagens sobre os bastidores da Fórmula 1. É ali que o diretor Asif Kapadia (O Retorno) e o roteirista Manish Pandey conseguem dar o realismo que um projeto destes pede. Não daria para recriar um Nelson Piquet fazendo um comentário sarcástico e ver a inquietação com que Senna recebe o comentário. Mas não espere mais sobre as rivalidades com o brasileiro ou o inglês Nigel Mansel, muito menos fofocas sobre seus relacionamentos com Xuxa ou Galisteu - embora a Rainha dos Baixinhos protagonize um dos momentos de alívio cômico do filme.

Seguindo à risca a ideia dos três atos, o filme mostra o desenvolvimento (os primeiros anos na F1, a primeira vitória, a mudança para a McLaren), clímax (o tri-campeonato mundial conquistado no Japão e que lhe rende até hoje o status de semideus por lá) e o desfecho. Antes de chegar ao fim de semana do GP italiano, os cineastas mostram sua mudança para a Williams em 1994, a desconfiança de que a Benetton de Michael Schumacher usava tecnologia não permitida e seu descontentamento com o próprio carro. O drama toma de vez o paddock em Ímola, quando, no mesmo fim de semana, Rubens Barrichello bate forte na sexta e o austríaco Roland Ratzenberger morre no sábado. Parecia um aviso.

O acidente é mostrado inicialmente de forma bastante racional, para só depois mostrar a emoção dos pilotos, dos brasileiros, de todo mundo que acompanhou sua carreira até ali. Neste momento, lágrimas invevitavelmente driblarão as chicanes. E assim Ayrton Senna é canonizado de vez. Se ele cometeu deslizes, se algum dia desejou mal a alguém, tudo foi perdoado. De herói, ele virou mito. O documentário, assim como vida do piloto, tem seus lados negativos, mas se os diretores optaram por não mostrá-los ao público, faremos o mesmo relevando os pequenos deslizes do filme. Tudo em nome das manhãs de domingo que não são mais as mesmas.

Nota do Crítico
Ótimo
Senna
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Senna
Senna

Ano: 2010

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 107 min

Direção: Asif Kapadia

Roteiro: Manish Pandey

Elenco: Reginaldo Leme, Richard Williams, John Bisignano, Pierre van Vilet, Alain Prost, Ron Dennis, Frank Williams, Nevde Senna, Viviane Senna, Sid Watkins, Ayrton Senna

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