Um tema que parece ser imune a recessões e ciclos econômicos no cinema brasileiro é tratar o dinheiro como sinônimo de status e sucesso. A novidade do filme Desapega é incorporar na trama a crise no bolso e também uma certa consciência de classe. O diretor Hsu Chien trata de compulsão por compras com humor e sensibilidade, na linha de Os Delírios de Consumo de Becky Bloom, nesta comédia dramática estrelada por Maisa, Glória Pires e Marcos Pasquim.
Na história, Rita (Pires) está há sete anos sem cair no vício em compras e aceita liderar um grupo de apoio a compradores compulsivos, até se apaixonar por Otávio (Pasquim), um dos membros. Enquanto isso, Duda (Maisa), filha de Rita, consegue uma bolsa para estudar três anos no exterior, gerando gatilhos de consumismo para a ex-dependente. À temática do vício se somam os conflitos geracionais entre mãe e filha, a decisão de sair de casa e uma crise de meia-idade em ambiente de trabalho.
A química cativante entre o trio que puxa o elenco é uma das forças de Desapega, mas também se destacam Polly Marinho, Carol Bresolin e Matheus Costa. Glória Pires também contribui no roteiro, que entrega bons momentos de entretenimento de maneira simples e eficiente. Diretor taiwanês já veterano em comédias brasileiras, Chien adiciona um toque pop em easter eggs que referenciam outros filmes (uma menção especial pode fazer os fãs de High School Musical vibrar no cinema).
Na vontade de abordar o vício e outros temas com a leveza do humor, inevitavelmente Desapega perde potência dramática. O desentendimento entre mãe e filha, por exemplo, demora para acontecer, e a causa do vício de Rita é pouco explorada. Mesmo assim, o longa coloca no caminho dos protagonistas alguns momentos emocionantes. A dinâmica entre os três nomes à frente do elenco faz compensar um roteiro que no fim está longe de ser exatamente original, apesar dos temas promissores - e atuais - que escolhe abordar.
Ano: 2023
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Duração: 90 minutos min