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Encantadora de Baleias | Crítica

Encantadora de baleias

05.02.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Encantadora de baleias
Whale rider
, 2003
Nova Zelândia/Alemanha
Drama - 105 min.

Direção: Niki Caro
Roteiro:
Niki Caro, Witi Ihimaera

Elenco
:
Keisha Castle-Hughes, Rawiri Paratene, Vicky Haughton, Cliff Curtis, Grant Roa, Mana Taumaunu, Rachel House.

O drama é o mesmo em praticamente todos os povos tribais hoje em dia: como dar continuidade aos ritos milenares, à rica cultura e ao povo minguante em meio a uma sociedade globalizada, na qual jovens são seduzidos pelos fascínios da civilização moderna?

Encantadora de baleias (Whale rider, 2003) explora essa triste realidade e vai além. No filme, um grupo de Maoris, o povo ancestral da Nova Zelândia, a fim de assegurar sua sobrevivência precisa deixar de lado a sua tradição patriarcal e, como diz aquela propaganda da TV, rever os seus conceitos.

Os Whangara vivem, há mais de mil anos, numa bela e modesta vila na costa leste da ilha. Conta a lenda que um semi-Deus ancestral, de nome Paikea, chegou ali montado numa baleia. A partir daí, todo o primogênito de cada geração da linhagem ligada diretamente a ele, torna-se o líder da aldeia dos Whangara. Pelo menos, até hoje.

A menina Pai é a sobrevivente de um parto complicado, que terminou com a morte de sua mãe e de seu irmão gêmeo, que assumiria o legado da família. Atormentado, o pai da menina parte sem destino, deixando a criança sob os cuidados do avô, Koro (Rawiri Paratene), o atual chefe da tribo. Entristecido pelo rompimento da linhagem, Koro cuida da neta com amor, mas mantém um certo distanciamento, afinal, sua missão na Terra era preparar seu sucessor e ele falhou, pois Pai não é o homem que era esperado.

Quando Pai (Keisha Castle-Hughes) completa 11 anos, ela começa a tentar provar que talvez possa sim assumir o papel que seria de seu pai ou de seu irmão. Enquanto Koro, em busca de um futuro líder, ensina as tradições ancestrais aos meninos locais, Pai decide estudar por conta própria. Bisbilhotando as aulas do avô e com uma ajuda do tio, ela aprende danças, rituais e, principalmente, a lutar com a taiaha (bastão de guerra típico dos maori). Óbvio que tais estudos são completamente proibidos às mulheres. Mas se ela está cometendo o maior dos sacrilégios ou estabelecendo uma nova ordem para o povo milenar, só as baleias, os poderosos animais que deram vida àquela tribo, poderão revelar.

Ricas interpretações

Baseado no romance do autor maori Witi Ihimaera, Encantadora de baleias é dirigido e adaptado pela neo-zelandesa Niki Caro. Ela não é uma nativa, mas tomou enormes precauções para assegurar a autenticidade do filme, como contratar consultores locais, utilizar atores maoris e rodar todas as cenas no mesmo local em que se passa o livro.

Apesar do tema e de suas implicações, o filme não tenta fazer uma pregação sociológica ou coisa do tipo. A história é totalmente centrada no amadurecimento de Pai e no seu relacionamento com Koro. Além disso, todos os personagens são ricamente construídos e Keisha Castle-Hughes está simplesmente fenomenal. A cena em que ela lê uma redação dedicada ao avô é memorável pela emoção, absolutamente sincera. Vale destacar também a interpretação de Paratene, que apesar de viver um homem extremamente duro, preso às suas crenças, consegue transmitir toda a bondade e ternura que seu personagem tem pela neta, escondidas sob a superfície do responsável chefe tribal.

O resultado de tamanho empenho e sensibilidade é invejável. O filme obteve prêmios em todos os principais festivais de cinema, incluindo o de Melhor Longa-metragem de Ficção na Mostra de São Paulo de 2003. Além disso, a jovem Keisha é uma das cinco indicadas ao Oscar 2004 de Melhor atriz. Não deve ganhar, mas merecia. ;-)

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