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Muitas pessoas procuram a psicanálise como forma de entender a si próprios. É uma maneira de explorar os sentimentos e dúvidas que passam dentro de cada um de nós. Nesse raro momento, através de um envolvimento marcado por um altíssimo nível de intimidade, conseguimos nos despir de nossas máscaras. Chega a gerar curiosidade o que acontece naquela sala fechada. E se você pudesse saber? Confidências muito íntimas (Confidences trop intimes, 2004) parte dessa idéia para construir um dos filmes mais charmosos desse início de ano.
Tudo começa com um engano. Anna resolve consultar-se com um psiquiatra, mas acaba - sem saber - entrando na sala errada. Assim, ela não percebe que na verdade está contando suas aflições e segredos mais sombrios para o advogado tributário William Faber. Ele é pego de surpresa, mas não consegue deixar de prestar atenção nos relatos daquela mulher deprimida e atormentada. Ao final, a curiosidade de Faber é tamanha que ele chega a marcar uma outra consulta com a moça. Depois do segundo encontro, porém, ela desaparece.
Interessado na vida de Anna, mas ao mesmo tempo preocupado em desfazer o engano, o advogado procura o verdadeiro terapeuta na sala ao lado. Ironicamente Faber acaba se transformando numa espécie de ouvinte das teorias do Dr. Monnier sobre o acontecido. Ao descobrir a verdade sobre a identidade do advogado, Anna o procura para esclarecimentos e, para deixar situação ainda mais inusitada, os dois continuam se encontrando.
O segredo
O diretor Patrice Leconte não entrega as motivações dos personagens. O tempo todo ficamos com a impressão de que alguma coisa vai acontecer. Suas seqüências, junto com a trilha sonora de Pascal Estéve, criam um clima de suspense parecido com os filmes de Alfred Hitchcock. A música chega a lembrar as trilhas do compositor Philip Glass pela a repetição dos acordes. Dessa combinação nasce um thriller com pitadas de melodrama embasado em desejo, medo, obsessão e segredos. O suspense é reforçado por cenas curtas terminadas em fade. Isso garante um senso de descontinuidade e faz com que a história avance. Notamos também influências do filme noir na maneira misteriosa que Anna nos é apresentada.
Conforme a relação entre o casal de protagonistas vai se aprofundando, dá para ver que os personagens vão se abrindo. Dessa entrega percebemos lentamente a transformação da maneira de Anna se vestir, como também seus gestos e semblante. O mesmo ocorre com Faber. Até seu escritório recebe essa mutação. Segundo o Dr. Monnier o objetivo da psicanálise é libertar as pessoas. Com esse comentário percebemos que a intenção do diretor era nos contar uma história de renovação e descobertas. Contar mais é estragar sua mensagem. Chega a ser burlesco como duas pessoas de mundos tão diferentes conseguem estabelecer uma relação tão igual.
A cada nova sessão de Anna com Faber a história vai ficando mais misteriosa e sexy. Começamos a imaginar se não existe alguma coisa por trás disso tudo. Por que Anna continua nessa terapia de faz de conta? Seriam suas histórias fantasias? Estaria ela escondendo algo? Ao mesmo tempo por que Faber continua a cumprir esse papel de ouvinte? Seria seu lado voyeur? Estaria ele se apaixonando? Não espere aquelas surpresas clichês que estamos acostumados nos filmes americanos. O filme é muito mais profundo que isso.
Ano: 2004
País: França
Classificação: 16 anos
Duração: 104 min
Direção: Patrice Leconte
Roteiro: Jérôme Tonnerre, Patrice Leconte
Elenco: Sandrine Bonnaire, Fabrice Luchini, Michel Duchaussoy, Gilbert Melki
